Milhares de pregadores e
professores de Bíblia insistem na afirmação de que a profecia é difícil
entender. Sem dúvida, é difícil entender se tentarmos harmonizar as muitas
especulações e interpretações sobre o assunto. Mas graças a Deus não é difícil
entender se seguirmos as poucas regras de bom senso enumeradas abaixo:
1. Dê às palavras da profecia a mesma
significação dada às palavras da história, isto é, aplique às
palavras encontradas no texto da Bíblia a mesma significação que é dada a essas
palavras fora dela.
É uma suposição comum de que as palavras encontradas na
profecia ou em outras partes da Bíblia possuem todas significado místico e não
devem ser entendidas em sentido literal. Essa teoria é equivocada. Por exemplo,
a palavra “ano” é geralmente tomada para significar um “dia” e um “dia” para
significar um “ano”. Nessa base, os 2.300 dias de Dn 8.14 são transformados em
2.300 anos; os 1.260 dias de Ap 11.3 e 12.6 são interpretados como 1.260 anos
etc. Por que um Deus sábio diria “anos” quando realmente queria dizer “dias” e
diria “dias” quando de fato queria dizer “anos”? Não faz sentido esse jogo de
palavras. Não é o que Ele quis dizer. Ele sabe o que “dias” e “anos”
significam, exatamente como nós sabemos, porém muitos alteram de modo
arbitrário os dias para anos na tentativa de comprovar a data profética de
certos acontecimentos.
Na mesma base, os “tempos
dos gentios” são transformados em 2.520 anos quando se interpreta a expressão
“sete vezes” de Lv 26.18 como se segue: um “tempo” significa um ano de 360
dias; 360 dias significam 360 anos; assim, sete vezes 360 anos são 2.520 anos.
O curioso nesse raciocínio é que a expressão “sete vezes” ocorre quatro vezes:
em Lv 26.18, 21, 24, 28, e os chamados 2.520 “anos” deveriam preceder cada um
dos quatro períodos em que Deus espalhou os judeus entre as nações. Isso
significaria um total de 10.080 anos da violação da Lei por Israel no tempo de
Moisés até o ano 70 d.C., quando eles foram espalhados outra vez pelo mundo,
mas não foi o que aconteceu. Os “tempos dos gentios” não começaram com a
Babilônia, por volta de 606 a.C., e sim com a escravidão no Egito, mais de mil
anos antes da época de Nabucodonosor, como veremos no capítulo 36. Portanto,
toda a datação profética baseada nessa teoria falsa não condiz com a Bíblia.
O fato de Deus ter dito que
Israel iria vagar no deserto quarenta anos segundo o número de dias da missão
dos espias em Canaã não é base para transformar “dias” em “anos” ou “anos” em
“dias”. Nesse caso, tanto os dias quanto os anos foram literais e continuarão
sendo. Se interpretarmos todas as ocorrências da expressão “sete vezes” na
Bíblia como 2.520 anos, então teremos de afirmar que Jacó se curvou diante de
Esaú durante 2.520 anos (Gn 33.3); que em Israel se aspergiu sangue no Dia da
Expiação durante 2.520 anos (Lv 4.6,17; 8.11); que o leproso purificado
passaria por um processo de 2.520 anos até a confirmação da cura (Lv
14.7,16,27,51); que Israel marchou em volta do Jericó durante 2.520 anos (Js
6.4,15); que o servo de Elias procurou sinais de chuva por 2.520 anos (1Rs
18.43); que o menino ressuscitado espirrou por 2.520 anos (2Rs 4.35).
O sensacionalismo profético
pode objetar a esse raciocínio pelo fato de a expressão “sete vezes” nesses
versículos achar-se na seção histórica da Bíblia, não na profética, como em Lv
26. Mas usemos o mesmo raciocínio com a profecia. Teríamos de crer que Naamã
deveria mergulhar no rio Jordão durante 2.520 anos, já que a profecia afirmava
que se ele fizesse isso ficaria limpo (pode ser que alguém fique limpo depois
de mergulhar tantas vezes num rio, 2Rs 5.10,14); que Nabucodonosor comeu grama
com os animais do campo durante 2.520 anos (Dn 4.16, 23, 25, 32); que a aliança
de sete anos entre o Anticristo e Israel irá durar 2.520 anos (Dn 9.27); que da
mesma forma, durante 1.260 anos que terminam na segunda vinda de Cristo; as
duas testemunhas deverão profetizar; Jerusalém deverá ser devolvida aos
gentios; a mulher fugirá para o deserto, e o seu filho varão será arrebatado;
no céu, o Diabo será lançado à Terra; a besta reinará sobre os dez reinos da
Roma restaurada, quando dará aos homens uma marca ou irá matá-los (Ap 11.1-3;
12.5, 6, 14; 13.5, 16-18).
2. Não troque o sentido literal pelo
espiritual ou simbólico.
Um escritor moderno, em seu
livro de conferências sobre o Apocalipse, é um bom exemplo da tendência moderna
de conferir a palavras e frases de significação literal qualquer sentido que
venha a satisfazer a imaginação de alguém. Ele interpreta a palavra
“terremoto”, do sexto selo (Ap 6.12-17), como a destruição da sociedade, em vez
de um terremoto literal; o Sol negro como um saco de cilício significaria um
tipo de Cristo rejeitado e Deus destronado; a Lua tornada em sangue seria a
destruição da autoridade constituída; as estrelas em queda simbolizariam a
apostasia dos líderes religiosos nos céus eclesiásticos (seja lá o que isso
signifique); os céus retirados como um pergaminho que se enrola indicariam a
destruição de toda a cristandade organizada.
Ele afirma também que os
juízos das trombetas não são literais. A erva citada na primeira trombeta (Ap
8.7) são as pessoas simples, e as árvores, a dignidade humana. Portanto, em vez
de a erva e de um terço das árvores serem literalmente queimados, conforme
claramente afirmado na Bíblia, todos os seres humanos comuns, mas apenas um
terço de sua dignidade serão destruídos.
Em vez de um terço do mar
que se torna em sangue, um terço da criação que morre e um terço dos navios
destruídos na segunda trombeta de Ap 8.8-9 (a montanha ardente que causa isso),
ele afirma que a montanha significa a forma da Babilônia espiritual no mar das
nações que é destruída pelos povos.
Em vez de as águas se
tornarem amargas por uma estrela que cai do céu e causa a morte de muita gente,
na terceira trombeta, em Ap 8.10,11, ele afirma que a estrela que cai do céu é
o papa ou algum dignitário religioso. Mas como o papa pode cair do céu nas
águas e envenená-las? Como ele irá ao céu para depois cair de lá na Tribulação?
Como ele poderá envenenar as águas potáveis se cair nelas? Por certo, ele não
tem esse veneno todo.
A terça parte do Sol, da Lua
e das estrelas que se torna escura na quarta trombeta (Ap 8.12) para ele
significa a escuridão espiritual, em vez do escurecimento literal de parte da
terra.
Esse escritor explica a quinta
trombeta (Ap 9.1-12) como segue. A estrela que cai do céu com a chave do abismo
é o papa ou o líder religioso apóstata da terceira trombeta. (Isso faria o papa
cair do céu duas vezes, uma vez sob a terceira trombeta e outra sob a quinta
trombeta.) A chave é o sistema que abre o abismo. A fumaça da cova é a sujeira
fora da luz verdadeira no céu espiritual dos homens causada pelos poderes
demoníacos quando as religiões falsas dominarem a Terra, depois que o Espírito
Santo for retirado. Os gafanhotos não são
literais, mas simbolizam as falsas religiões, que irão proliferar como
gafanhotos. O tormento das picadas dessas criaturas é a aflição causada pelas
religiões. O rosto de homem indica inteligência e racionalidade (mas se não são
criaturas verdadeiras, como exercerão tais faculdades?). O cabelo, que tem
aparência de cabelo de mulher, significa uma vida profana, e as couraças de
ferro simbolizam a consciência destruída. A erva e as árvores aqui não são
simbólicas como na primeira trombeta. Os cinco meses durante os quais as
criaturas atormentam homens não são literais, e não se sabe o que significam.
Assim, nada é literal se crermos nesse método de interpretação.
A sexta trombeta (Ap
9.13-21), ele diz, também não é literal: os 200 milhões de criaturas são as
hordas asiáticas que atravessaram a Europa e a Palestina por muitos séculos.
Ele afirma que as duas
testemunhas não são dois homens, mas simbolismos do remanescente judaico que
servirão de testemunho. O varão é Cristo; a mulher, Israel; o Sol, a honra do
Novo Testamento; a Lua, a honra do Antigo Testamento; as doze estrelas, as doze
tribos. Os 1.260 dias de Apocalipse 12.6 representam a primeira parte da
Septuagésima Semana de Daniel, quando a mulher foge, ou seja, quando Israel é
disperso entre as nações. Os “tempos” de Apocalipse 12.14 representam segunda
metade da Semana, e a água lançada pela boca do dragão é a falsa doutrina, mas
Israel fugirá desses ensinos e será o único testemunho favorável a Deus.
Ele diz que a besta de
Apocalipse 13 é o Império Romano redivivo, as sete cabeças são as sete colinas
sobre as quais a cidade de Roma foi construída e a cabeça ferida de morte é a
Roma imperial restaurada. Mas como poderia uma das colinas literais da Roma
imperial ser reanimada se é parte da terra em que a cidade foi construída? (Ver
nos capítulos 20 e 36 a prova de que esse raciocínio é incorreto.)
Ele diz também que as sete
taças (Ap 16.2-21) não são literais, exceto a quarta e a quinta, mas quem é ele
para decidir que esses são os únicos juízos literais dos selos, trombetas e
taças? Ele explica as chagas da primeira taça como uma peste espiritual. Na
interpretação dele, a segunda e a terceira taças são a secagem da fonte de vida
(seja lá o que isso signifique), não o mar e os rios literalmente tornados em
sangue. A sexta taça representa a destruição do Império Turco, não a seca
literal do rio Eufrates, mas por que não dar a esse rio a mesma significação em
outras passagens da Escritura Sagrada (p. ex., Gn 2.14; 15.18; Jr 13.4-7;
46.2-10; 51.63; Ap 9.14) e ver como seria ridículo? Ele diz ainda que o
“terremoto” da sétima taça, que destrói a Babilônia e outras cidades, não é
literal, mas significa a destruição de todas as instituições religiosas e
civilizações que temos hoje.
Esse método da interpretação
de Apocalipse deveria ser chamado “como não interpretar a profecia”, porque
anula o significado literal da própria revelação de Deus e a substitui por
teorias humanas. Se essas ideias expressam o real conteúdo do que Deus quis
revelar, por que Ele não esclareceu isso no livro, em vez de nos dar tais
revelações? Por que esperar até agora para nos fazer entender o que Ele de fato
pretendia transmitir?
3. Não tente encontrar ou acrescentar
significados ocultos à Escritura Sagrada.
Contente-se com o que Deus
julgou conveniente revelar e nunca tente ler nas entrelinhas ou acrescentar
algo às suas palavras para entendê-las. Por exemplo, nos anos recentes, alguns
estudiosos escolheram cerca de 35 homens do passado e alguns ainda vivos e
transliteraram seus nomes para o grego a fim de verificar se algum deles somava
666 e assim descobrir quem poderia ser o Anticristo. O nome que igualasse esse
número seria o Anticristo mencionado em Ap 13.18. Esqueça! Tudo isso não passa
de especulação louca e não comprova coisa alguma acerca da marca ou do nome do
Anticristo, como veremos.
Os outros enxergam os
Estados Unidos na profecia tomando as letras USA do nome Jerusalém
(JER-USA-LEM). Se essa for a única maneira de situar os Estados Unidos na
profecia, melhor esquecer também. O fato é que os Estados Unidos não são
mencionados uma única vez na profecia, em lugar algum. Isaías 18 refere-se aos
habitantes do Sudão, “que está além dos rios da Etiópia”, não aos Estados
Unidos. O cavaleiro do cavalo branco de Ap 6 e o falso profeta de Ap 13.11-18,
19.20 e 20.10 não se refere aos Estados Unidos, como veremos nos capítulos 10 e
22.
4. Creia que a profecia pode ser
entendida como é, sem quaisquer modificações ou adições, e que ela constitui simplesmente um registro
de coisas ainda por acontecer algum dia após a sua declaração. A profecia deve
ser entendida tão literalmente quanto entendemos a história. Assim, enquanto a
história é o simples registro do que aconteceu, a profecia é o registro do que
está para acontecer. Ambos os tipos de registro são feitos na linguagem do
cotidiano e devem ser entendidos na mesma base. Deus espera que os entendamos
da forma em que são escritos, e Ele nos julgará se não usarmos a inteligência
normal para entendê-los.
5. Esqueça a ideia de que a profecia
deve ser cumprida antes que possa ser entendida.
Se o cumprimento da profecia
é necessário para o seu entendimento, então ela falhou em seu objetivo, que é
revelar com antecedência ao ser humano o que deve acontecer. Muitos autores se
desculpam por não terem certeza sobre o que escrevem e declaram que as
profecias não poderão ser entendidas até o seu cumprimento final. Seria preferível
que tais homens não escrevessem nada a escrever sobre o que não têm certeza. Se
alguém afirma: “Assim diz o Senhor”, é para que mais tarde não tenha de pedir
desculpas.
Toda a profecia verdadeira é
clara acerca do que acontecerá e tão claramente entendida antes que o fato
aconteça quanto depois de cumprida. Por exemplo: buscar nas “invenções
modernas” o cumprimento de antigas profecias. A humanidade não imaginava o
automóvel, e jamais interpretou a passagem de Na 2.3-4 relacionada a um deles,
até ele ser inventado. Não se concebiam aviões, rádios nem locomotivas, e
jamais alguém interpretou a Escritura Sagrada como um prenúncio de tais
invenções até elas serem inventadas. Foi pouco depois de tais coisas serem
inventadas que aqueles estudiosos anunciaram tê-las descoberto em passagens
proféticas da Bíblia. Antes da Segunda Guerra Mundial, ninguém imaginava a
bomba atômica. Mas logo que foi inventada, os arautos do sensacionalismo
profético despertaram do longo sono da ignorância e “encontraram” a energia
atômica registrada na profecia. Não demorou muito para que quase toda a
cristandade (como se esses sensacionalistas merecessem crédito) entendesse que
o lançamento da bomba atômica foi o cumprimento de várias profecias e que
também várias outras profecias iam se cumprir. A bomba atômica, dizem esses
homens, não só resultará no fim do mundo, como também será a causa de muitas
outras coisas.
Quanto antes removermos o
apêndice do sensacionalismo profético, melhor será para nós, e mais cedo o bom
nome da profecia será restaurado. A verdadeira profecia será outra vez
respeitada conforme estabelecida por Deus. Voltemos ao fato de que nenhuma
invenção moderna é especificamente mencionada na Bíblia. O “automóvel” de Na
2.3,4 é, na verdade, uma referência aos carros romanos puxados por cavalos
pertencentes ao rei de Nínive e a Nabucodonosor durante o combate ocorrido nas
ruas daquela cidade, então sob o domínio do império assírio. É o que Na
2.1-4,13 mostra com clareza. Em 3.1-3, são mencionados o “açoite”, o “ruído das
rodas”, os “cavalos [que] atropelam” e os “cavaleiros”. A “locomotiva” de Jó 41
é o “rei sobre todos os filhos de animais altivos”, como explica o último
versículo. A frase “como as aves voam”, de Is 31.5, não se refere ao avião, mas
à segunda vinda de Cristo, como prova a própria passagem. Ele afirma que “como
as aves voam”, Deus descerá para lutar por Israel, e naquele tempo cada homem
lançará fora os seus ídolos para sempre — e todos nós sabemos que isso não
aconteceu em 1917, quando o general Allenby tomou Jerusalém dos turcos. Essa
profecia será cumprida quando os exércitos do céu vierem com Jesus “como as
aves voam” (como em Zc 14.1-5; 2Ts 1.7-10; Jd 14; Ap 19.11-21 etc.). Isso pode
até combinar com alguma invenção em particular que os estudiosos tenham
vislumbrado nos acontecimentos proféticos, mas o contexto comprova que o
assunto da passagem não se trata de uma invenção moderna. Dn 12.4 é o único
versículo da Bíblia inteira que faz referência às invenções modernas. Quem
quiser que use esse versículo para pregar a respeito dessas coisas e assim
evitará o sensacionalismo e as especulações descabidas em torno de passagens
que não têm relação alguma com as invenções dos dias de hoje.
6. Não reinterprete nenhum símbolo ou
profecia que já tenha a própria interpretação de Deus nem modifique o
significado que Ele já expressa com clareza.
Deus sempre interpreta os
símbolos que utiliza, como se vê claramente em Dn 2.38-44; 7.17, 23-26;
8.20-23; 9.20-27; 11.2-45; 12.1-13; Ap 1.20; 12.9; 13.18; 17.8-18 etc. A profecia
clara e literal não precisa de interpretação alguma, visto que ela é
simplesmente a história escrita com antecedência. Se Deus usar uma palavra ou
figura de linguagem (ou qualquer outra forma de expressão humana) num sentido
diferente do que em geral se conhece, temos o direito de esperar que Ele nos dê
uma explicação. Exceto nesses casos, devemos interpretar as palavras como são
geralmente utilizadas e entendidas. Quando não temos a explicação de um símbolo
ou de uma figura de linguagem, devemos dar por certo que eles são claros em si
mesmos, bem como é claro o seu emprego em outras partes das Escrituras,
sobretudo quando harmonizados com todas as outras passagens que tratam do mesmo
assunto.
7. Dê uma única significação — literal e
clara — a uma passagem, a menos que haja o esclarecimento de que uma
significação dupla deve ser entendida.
Duas ações devem ser observadas para a correta interpretação de
algumas profecias.
(1) A lei da dupla
referência. Em
algumas passagens, duas pessoas se distinguem: a pessoa visível, que é
manipulada ou guiada, e a pessoa invisível, que está usando a visível como um
instrumento. Em Gn 3.14,15, a serpente (o instrumento de Satanás, a pessoa
invisível) é manipulada, porém ela também pode ser uma referência ao próprio Satanás,
que foi derrotado pela semente da mulher. Em Is 14.4-27 e Ez 28.11-19, os reis
da Babilônia e de Tiro são aqueles manipulados, mas nessas passagens Satanás
também aparece caindo “do céu”, é acusado de invadi-lo com a intenção de se
parecer com o Altíssimo (Is 14.12-14) e descrito como perfeito na beleza e em
seus caminhos desde a sua criação, até que ele pecou (Ez 28.12-17). Em Mt
16.23, Pedro fala a Jesus, mas é Satanás quem utiliza Pedro como instrumento
para impedir Cristo de ir à cruz.
O método de distinguir a
pessoa visível da invisível nessas passagens permite interpretar as afirmações
que não podem ser aplicadas à primeira como referentes à segunda. O rei da
Babilônia e o rei de Tiro não podem ser a pessoa mencionada em Is 14.12-14 e Ez
28.12-17, respectivamente, porque nenhum deles foi lançado fora do céu ou
criado como anjo ou querubim. Pedro não pode ser o próprio Satanás, embora
Jesus tenha dito: “Para trás de mim, Satanás”. Ele só podia estar se referindo
a Satanás, embora o restante do versículo possa ser aplicado tanto a ele quanto
ao discípulo.
(2) A lei de perspectiva
profética. Essa
lei é a descrição de futuros acontecimentos como contínuos e sucessivos, embora
possa haver um intervalo de milhares de anos entre eles. Por exemplo, em Is 61.1-3,
conforme registrado em Lc 4.17-20, Cristo interrompe a profecia na expressão “o
ano aceitável do Senhor”. Ele fecha o livro e declara: “Hoje se cumpriu esta
Escritura em vossos ouvidos”. Se Ele tivesse continuado a ler a profecia — “… e
o dia da vingança do nosso Deus” — e então anunciado que ela estava se
cumprindo naquele dia, a sua afirmação seria falsa, porque “o dia da vingança”
ainda não chegou. Já se passaram cerca de dois mil anos desde “o ano aceitável
do Senhor”. O dia da vingança ainda não veio, e não virá até a futura
Tribulação. Ambos os acontecimentos são citados em um único versículo de
Isaías, e apenas uma conjunção os separa. Isso parece indicar que ambos os
acontecimentos seguem um a outro em sucessão, mas não é assim.
Ou seja, os profetas veem
coisas na mesma visão como alguém que olha para vários picos de montanha sem
perceber os vales entre eles. Devemos aprender a considerar cada acontecimento
em separado na profecia e reunir em conjunto tudo que é dito a respeito dele em
toda a Bíblia para então descobrir quando será cumprido em relação a outros
acontecimentos. Isso é manejar bem a palavra da verdade (2Tm 2.15).
8. A chave para a interpretação de
muitas profecias é considerar o profeta um pregador de justiça.
O profeta não era um adivinho,
mas um vidente. Ele era um arauto de Deus com a missão de repreender, instruir
e corrigir o povo de sua época e predizer certos acontecimentos. Ele tinha
capacidade de discernimento e de presciência e era mais que um vidente. Era-lhe
permitido enxergar as circunstâncias e os objetivos de Deus em relação a elas.
O presente era apenas um momento no plano divino em execução, cujo propósito
era estabelecer o Reino de Deus outra vez na Terra a fim de libertá-la de toda
rebelião. Desse modo, o profeta era um professor, um reformador social e um
político, bem como um arauto do futuro Reino. Muitas de seus pronunciamentos
eram de fato sermões pregados conforme a ocasião exigia. Isso se verificava
especialmente nos tempos de Isaías, Jeremias e Ezequiel e dos Profetas Menores,
embora muitas profecias sobre o tempo futuro estejam registradas nesses livros.
Daniel e João foram profetas que anunciaram acontecimentos futuros, embora em
seus livros haja também o elemento de vidência, como se vê em Dn 2; 4—6 etc.; Ap
2 e 3.
9. É importante entender a história do
escritor, bem como a época e as circunstâncias nas quais ele escreveu.
Deve-se procurar entender a
época em que o escritor viveu, o objetivo de suas previsões, as pessoas a quem
ele se dirige e o assunto de sua mensagem. Conhecer o contexto histórico, os
costumes da época, o povo a quem o profeta escreveu, os idiomas e expressões
humanas de seu tempo e o objetivo que ele tinha em mente evitará que o
estudante da profecia bíblica cometa equívocos na interpretação dos
acontecimentos proféticos.
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| Autor: Finis Jennings Dake