Como entender 1 Reis 15.14, que revela o rei Asa evitando
destruir os altares idólatras, e 2 Crônicas 14.3, que mostra o inverso, ele
ordenando a destruição dos altares?
Cremos que a Bíblia
Sagrada é a Palavra de Deus, que os autores humanos a escreveram inspirados
pelo Espírito Santo, e que ela é a inerrante, completa e infalível Palavra de
Deus. Mas a Bíblia não foi ditada aos homens; os escritores humanos tinham
objetivos específicos para seus escritos (embora a intenção de Deus estivesse
além da intenção humana), e os propósitos e temas dos livros de Reis e de
Crônicas são diferentes.
Os livros de Reis e
Samuel foram escritos no período do Exílio, tratam do surgimento da nação de
Israel e mostram que a violação da aliança com Deus, por parte do povo e de
seus reis, foi o motivo da deportação. Os livros de Crônicas mostram a
monarquia davídica como modelo do governo teocrático de Deus sobre a Terra,
prenunciando o reino do Messias. Eles foram escritos após o exílio, para
mostrar que Deus continuava fiel em suas promessas para com Israel (MERRILL in
ZUCK, 2009, p. 177,178).
A história do rei Asa
aparece, no livro de Reis, num relato muito sucinto (1 Rs 15.8-24). Em 2
Crônicas este relato é expandido nos capítulos 14 a 16 (17 versos em Reis e 48
em Crônicas). O cronista divide a história deste rei em dois períodos, o de
fidelidade (14.1-15.19) e o de infidelidade (16.1-14). No primeiro, ele buscou
ao Senhor e removeu a idolatria (14.4,5), ouviu a profecia (15.8) e renovou a
aliança com Deus (15.10-15). Depois, ele trocou a aliança e a confiança em Deus
(16.2,3) e desprezou a profecia (16.10), o que lhe trouxe problemas e morte. O
cronista apresenta estas opções para a comunidade pós-exílica: fidelidade e
bênção, ou infidelidade e morte.
O autor de Crônicas
mostra que o rei, inicialmente, aboliu a adoração pagã (14.3), mas, no período
final, seu decreto foi desobedecido (15.17). A adoração em lugares altos (montes
ou elevações de terra) era uma prática comum, inclusive por adoradores fiéis:
Abraão (Gn 12.8; 22.2), Moisés (Êx 19.3) e Samuel (1 Sm 9.12). Após a
construção do Templo, este foi o lugar alto escolhido e exclusivo para a
adoração a Deus (2 Cr 3.1; 6.6; 7.12-15). Heater JR (in ZUCK, 2010, p. 134,135)
afirma que o historiador, no livro de Reis, condena os “lugares altos” que, por
sincretismo, se tomaram destrutivos para o povo, ao final da era monárquica,
mas que, no período anterior, eles cumpriam um papel legítimo na adoração ao
Senhor. A idolatria, no entanto, sempre foi condenada.
Veja
também:
Enquanto Reis mostra
apenas a visão final de quebra da aliança, Crônicas mostra um quadro mais
detalhado, para destacar que a adoração fiel a Jeová sempre resultou em bênçãos
e vitórias para seu povo e mostrar que a adoração pagã, que era ainda praticada
pelo povo, traria o juízo de Deus.
Artigo: Carlos Kléber Maia
Estudo
Publicado em Subsídios EBD –
Site de Auxílios Bíblicos e Teológicos para Professores e Alunos da Escola Dominical.