A constituição do homem, corpo, alma e
espírito; a morte, o inferno e o lugar dos justos são assuntos interligados. Os
grupos religiosos heterodoxos sabem que para eliminar a doutrina do inferno é
necessário reavaliar uma séria de outras doutrinas. Por isso que todo esse
conjunto doutrinário é afetado por esses grupos, na tentativa de, sem Jesus,
escapar do inferno.
Veja também:
A alma
A STV ensina que o homem se acaba quando morre,
afirmando que o mesmo acontece aos animais. Negam a doutrina bíblica que a alma
humana sobrevive à morte. Gostam de citar para os crentes o salmo 115.17;
Eclesiastes 3.19, 20; 9.5; Ezequiel 18.4; 1 Tm 6.16, interpretando essas
passagens bíblicas fora do seu contexto, violando assim os princípios mais
rudimentares da hermenêutica. Nenhuma passagem bíblica deve ser interpretada
isoladamente. Essa crença das Testemunhas de Jeová não tem fundamento bíblico.
O salmo 115.17 diz: "Os mortos não louvam
ao SENHOR, nem os que descem ao silêncio". As Testemunhas de Jeová usam
essa passagem para dizer que a morte liquida completamente o homem e que a alma
não sobrevive à morte. Uma leitura superficial e arrancada de seu contexto dá
a impressão de que elas estão corretas. Mas o salmista está falando do silêncio
que a morte impõe ao ser humano e não da vida além túmulo. Veja o contraste
que o salmista faz no versículo seguinte: "Mas nós bendiremos ao
SENHOR". É o contraste entre os vivos e os mortos.
O texto de Eclesiastes: "Porque o que
sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; a mesma
coisa lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo
fôlego; e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos
são vaidade. Todos vão para o mesmo lugar, todos são pó e todos ao pó
tornarão" (Ec 3.19,20). O tema versa sobre as coisas que Salomão viu
debaixo do sol e a palavra "alma" sequer aparece no texto sagrado.
Isso revela que o assunto é com relação à morte física, comum tanto ao homem
como ao animal.
O outro texto de Eclesiastes diz: "Porque
os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem
tampouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao
esquecimento" (Ec 9.5). Basta perguntar para uma Testemunha de Jeová se
ela tem esperança ou se espera alguma recompensa de Jeová na sua morte. Sua
resposta neutraliza a interpretação da STV, pois o texto diz "nem tampouco
eles têm jamais recompensa". Além disso, uma leitura no versículo seguinte
mostra a qualquer pessoa que se trata da vida neste mundo: "... não têm
parte neste século, nem em coisa alguma do que se fez debaixo do sol" (Ec
9.6). Veja que "nesse século", ou seja, nessa vida, não está falando
do além-túmulo. E muito perigoso arrancar texto de seu contexto e fazer dele
pretexto e inventar uma doutrina.
VEJA
TAMBÉM:
Outro texto, também muito usado pelas
Testemunhas de Jeová, é o de Ezequiel 18.4: "a alma que pecar essa
morrerá". Dos vários significados da palavra "alma" que encontramos
na Bíblia, a STV escolheu o significado que lhe interessou, desprezando todo o
contexto do texto sagrado. À luz do contexto, a palavra "alma" diz
respeito ao próprio ser humano.
O assunto que o profeta está abordando é a
responsabilidade pessoal e individual do ser humano diante de Deus. Nos vv. 2
e 3 , desse capítulo 18, Ezequiel diz: "Os pais comeram uvas verdes, e os
dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor JEOVÁ, que nunca mais
direis esse provérbio em Israel". Apartir daí o profeta desenvolve o
argumento sobre a responsabilidade pessoal. O v. 20 deixa isso muito claro:
"A alma que pecar essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o
pai levará a maldade do filho". Não tem consistência usar Ezequiel 18.4
como argumento para negar a imortalidade da alma.
Alma
e espírito são entidades distintas e ambas sobrevivem à morte. Muitas vezes
evitamos usar a expressão "imortalidade da alma" porque tanto as
Testemunhas de Jeová como os adventistas do sétimo dia usam 1 Timóteo 6.16, que
diz: "Aquele que tem, ele só, a imortalidade", para contestar a
doutrina cristã de que a alma sobrevive a morte. Seu argumento é desmantelado
quando alguém lhes pergunta se os anjos são imortais. Assim, o que o apóstolo
está dizendo é que Deus é a origem da imortalidade.
O Corpo Governante nega a existência do
inferno ardente porque Russell, antes mesmo de fundar a sua organização, ele
pessoalmente não concordava com tal crença. A organização declara que Russell
passou a crer nessa crença porque foi derrotado num debate com um cético.
Russell, antes de fundar sua religião, era crente fervoroso na doutrina da
tortura eterna das almas condenadas num inferno de fogo e enxofre. Mas ao
tratar de converter ao Cristianismo um conhecido descrente, ele próprio foi
derrotado e impelido ao ceticismo. Depois disso Russell fez seus próprios estudos,
como resultado, ficou também incrédulo.
Hoje,
ensina a STV que o inferno é a própria sepultura, e que o lugar de suplício
eterno, onde os ímpios serão atormentados para sempre, não existe. Diz a
organização: "O Seol e o Hades não se referem a um lugar de tormento, mas
à sepultura comum da humanidade". Esse é o artifício para eliminai-
a doutrina do inferno de fogo ardente das Escrituras Sagradas.
A tentativa de arrancar o inferno
da Bíblia
Citam o salmo 146.4, que diz: "Sai-lhes o
espírito, e eles tornam-se em sua terra: naquele mesmo dia perecem os seus
pensamentos" para afirmar que os mortos não sentem dor, logo, segundo as
Testemunhas de Jeová, não existe inferno e nem a alma sobrevive à morte.
Seu argumento teria validade se a
"dor" se referisse à dor física do corpo, porque quem morre
fisicamente, em seu corpo não sente mais nada: nenhuma dor nem sentimento, e é
esse o sentido desse salmo. O salmista está falando da morte do corpo. O sofrimento
dos incrédulos após a morte existe, pois a Bíblia diz: "...e morreu também
o rico, e foi sepultado. E no Hades, ergueu os olhos estando em
tormentos..." (Lc 16.22-23).
Costumam dizer que os bons vão para o inferno,
simplesmente para dizer que inferno não é inferno, ou seja, contrariando as
palavras do Senhor Jesus, dizendo que o inferno não é o lugar "preparado
para o diabo e seus anjos" (Mt 25.41). Querendo fundamentar essa sua
tese, usam as palavras do salmista: "Pois não deixarás a minha alma no
inferno, nem permitirás que o teu santo veja a corrupção" (SI 16.10). É
bom lembrar que essa passagem bíblica é uma referência ao Messias. O corpo de
Jesus foi colocado na sepultura, no hebraico,
khever, conforme aparece em Isaías 53.9, e no grego,
mnemeion, em João 19.41,42, mas a sua alma foi ao
Sheol ou Hades. Veja
o salmo 16.10 e Atos 2.27.
Antes do advento do Messias, tanto os justos
como os injustos iam para o mesmo lugar na sua morte — o
Sheol, em hebraico, e Hades, no
grego. Lá havia uma divisão: o lugar dos justos, que os rabinos denominavam
"Seio de Abraão", "Jardim do Éden" e o "Trono de
Glória". Destes três nomes, o "Seio de Abraão" era o mais usado
na teologia judaica da época, e esse Paraíso fazia parte do
Hades.
Quando a Bíblia diz que os ímpios vão
para o Sheol,
salmo 9.17, e ao mesmo tempo um justo, é por causa dessa divisão que havia no
mundo dos mortos. O Senhor Jesus, na sua morte, "desceu às partes mais
baixas da terra" (Ef 4.9), e tomou de Satanás as chaves do inferno:
"E tenho as chaves da morte e do inferno" (Ap 1.18). Depois da
ressurreição Jesus "levou cativo o cativeiro" (Ef 4.8). A partir daí,
os fiéis vão para o céu na sua morte e o Sheol ou Hades é só
para os injustos.
Não é possível apresentar um comentário de
todas as passagens bíblicas que falam da existência do inferno de fogo ardente
para os ímpios. Queremos simplesmente mostrar os artifícios do Corpo Governante
na interpretação dessas passagens bíblicas. Podemos tomar como exemplo as
palavras do Senhor Jesus: "E irão estes para o tormento eterno, mas os
justos, para a vida eterna" (Mt 25.46). Como negar a doutrina do inferno
ardente e da condenação eterna diante dessa passagem bíblica? A STV não
encontrou recursos bíblicos para neutralizar esta passagem. Então se utilizou
de uma nota de rodapé do Novo Testamento Interlinear,
The Emphatic Diaglott, de Benjamin Wilson e publicado pela
própria instituição.
Benjamin Wilson disse sobre a palavra grega
kolasis, que o verbo grego
kolazó, "castigar", significa:
"1.
Decepar; como no truncamento de ramos de árvores, podar. 2. Restringir,
reprimir... 3. Castigar, punir. Extirpar alguém da vida, ou da sociedade, ou
mesmo restringir, é tido como castigo; - por conseguinte, surgiu este terceiro
uso metafórico da palavra. Adotou-se a primeira acepção, porque concorda
melhor com a segunda parte da sentença, preservando-se assim a força e a beleza
da antítese. Os justos vão para a vida, os ímpios para o decepamento, sendo
cortados da vida, ou para a morte. Veja 2 Tes. 1.9".
Os três significados dados aqui por Benjamin
Wilson não são nenhuma novidade, é o que consta dos dicionários de grego. O que
nos chama atenção são a justificativa e a sutileza na escolha de "decepar".
Veja a maneira simplista: "Adotou-se a primeira acepção, porque concorda
melhor com a segunda parte da sentença...".
O verbo
aparece apenas 2 vezes no Novo Testamento e da mesma forma o substantivo:
"...e, não achando motivo para os castigar, deixaram-se ir por causa do
povo;..." (At 4.21); "...e reservar os injustos para o dia de juízo,
para serem castigados" (2 Pe 2.9). O substantivo aparece aqui, em Mateus
25.46, e em 1 João 4.18: "...porque o temor tem consigo a pena, e o que
teme não é perfeito em caridade". Em nenhum lugar do Novo Testamento esta
palavra aparece com o sentido de "decepar".
Querer
dar o sentido de kolasis como
"decepar" no Novo Testamento é uma camisa-de-força. Benjamin Wilson
foi sabido em suavizar a imposição com a palavra "adotou-se". Essa é
a técnica usada pelo Corpo Governante para negar as grandes doutrinas da fé
cristã. Nenhum leitor da Bíblia chegará a essa conclusão pela própria Bíblia.
Qualquer pessoa é capaz de entender que o sentido dessa palavra é o de punição.
Outra
dificuldade do Corpo Governante é a passagem do rico e Lázaro, registrada em
Lucas 16.19-31, onde lemos:
Ora, havia um
homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias
regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que
jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas
que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E
aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão;
e morreu também, o rico e foi sepultado. E, no Hades, ergueu os olhos, estando
em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E, clamando, disse:
Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a
ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta
chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em
tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu,
atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, cie
sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os
de lá, passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa
de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que
não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Eles têm
Moisés e os Profetas; ouçam- nos. E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se
algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse:
Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum
dos mortos ressuscite."
Esse texto bíblico refuta de maneira clara à
teologia da organização. Como eles conseguiram se sair dessa situação
incômoda? Inventaram uma interpretação absurda e aleatória. Ensinam que o rico
representa a classe dos religiosos: os fariseus, os saduceus e o clero da
"cristandade", que se acham separados de Deus e mortos quanto ao seu
favor. Lázaro representa o povo comum que recebe a Cristo e expõe sua mensagem
perante a classe representada pelo rico. O sofrimento representa as verdades
que os seguidores de Cristo pregam. Assim resolveram o problema.
Se as Testemunhas de Jeová ensinam que com a
morte tudo se acaba, que o Hades é a
sepultura e que os mortos estão inconscientes, como pode o
Hades ilustrar tal sofrimento? Como pode o estado de
inconsciência ilustrar este sofrimento? Onde está escrito que o rico era
religioso para representar a classe dos fariseus, dos saduceus e a do clero da
cristandade? Desde quando a riqueza, na Bíblia, representa a falsa religião?
Será que só o pobre segue a Cristo? Claro que não!
O Rico e Lázaro não
parece ser uma parábola como o título indica, mas um fato verídico, pois
falta-lhes elementos parabólicos. Os títulos dados às passagens bíblicas não
vêm dos escritores sagrados, exceto os que aparecem em negrito apenas nos
Salmos. São colocados pelos editores que publicam edições da Bíblia, para
facilitar o estudo dela. A expressão "Parábola do Rico e Lázaro" não
consta dos originais.
Parábola
é uma ilustração para extrair lições e verdades espirituais. E uma maneira
figurada de se ensinar uma verdade. Jesus não disse e nem deu a entender que
era parábola. É diferente das parábolas. Não diz: "o reino dos céus é
semelhante" e nem "assemelhá-lo-ei..." ou algo desse tipo; mas
disse: "Havia um homem..." (v 16), maneira típica de se introduzir
uma narrativa no Velho Testamento. Veja 1 Samuel 1.1 e Jó 1.1. As seitas agem
de maneira como se apenas o fato de o texto ser parábola pudesse dar- lhes o
poder de, como num passe de mágica, mudar o sentido das palavras. De qualquer
forma, parábola ou não, a mensagem continua inalterada.
SOARES,
Esequias. Manual de Apologética Cristã: Defendendo os Fundamentos da Autêntica
Fé Bíblica. 2ª edição de 2003. CPAD. Adaptação: Subsídios EBD