Observação: Subsídio Bíblico para a lição 9 – Classe: Jovens. 3°
Trimestre de 2019.
I - A Suprema Importância do
Conhecimento de Deus
1. Refutando o
gnosticismo
Pedro abre a sua
epístola com uma saudação característica: “graça e paz vos sejam multiplicadas,
pelo conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor” (v. 2). Conforme observou
Simon Kistemaker, “a oração de Pedro é que Deus nos envie uma quantidade cada vez
maior tanto de graça quanto de paz. A paz flui da graça, e é a felicidade
interior do ser humano que ele deseja compartilhar com seu próximo. Os
conceitos de graça e paz são como dois lados da mesma moeda”.
O que difere essa
saudação das demais presentes no Novo Testamento é a palavra “conhecimento”.
Isso porque uma das ênfases teológicas do apóstolo neste segundo documento é o
conhecimento experimental de Deus e de Cristo, contrapondo os ensinos gnósticos
da época, uma heresia que iria atingir a igreja com força total no século II.
Naquele contexto, como
o gnosticismo havia distorcido o significado do saber, introduzindo sérias
heresias no meio cristão, era necessário um ensino cuidadoso e fundamentado
para refutar a filosofia gnóstica. Apesar da ampla diversidade, tornando
difícil uma definição sucinta, é possível dizer que esse sistema enfatizava a
mente humana e ensinava que a salvação podia ser obtida através do conhecimento
(gnosis), em vez da fé. Esse “conhecimento” era esotérico e só poderia ser adquirido
por aqueles que haviam sido iniciados nos mistérios do sistema gnóstico, não
pelo estudo ou pelo sistema normal de aprendizado.
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Na perspectiva
gnóstica, o conhecimento tinha a ver com uma percepção privada, uma revelação
interior, uma iluminação espiritual que provinha de dentro do indivíduo. Eles
supunham que os erros e enganos provocados pelo ser humano não era por causa do
pecado, mas por causa da ignorância.
2. O conhecimento de
Deus (2 Pe 1.2)
Contrapondo tais
heresias, Pedro diz que a graça e a paz são multiplicadas pelo conhecimento
(gr. epignosis) de Deus e de Jesus Cristo, nosso Senhor. No grego, a palavra
empregada para conhecimento é gnosis, mas aqui o apóstolo acrescenta o prefixo
epi, que significa completo, claro, pessoal. Eldon Fuhrman explica que Pedro
está ensinando que “o cristianismo significa nada menos do que um conhecimento
rico e crescente de Deus por causa do nosso relacionamento com Jesus. Esse
conhecimento não é uma mera especulação abstrata, porque se refere a uma Pessoa
viva”. John Wesley referiu-se a esse conhecimento como o divino e experimental
conhecimento de Deus e de Cristo.
Em primeiro lugar, uma
visão clara das Escrituras rejeita o conhecimento de Deus em termos puramente
intelectuais, racionais e científicos. O conhecimento a que o autor bíblico se
refere não é a mera compreensão intelectual de uma verdade, e sim a
“participação viva na verdade, no sentido segundo o qual Jesus usa o termo em
João 17.3: E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus
verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.
O conhecimento racional
faz as pessoas conhecerem muito sobre religião em termos teológicos, mas pouco sobre
a pessoa de Deus e sobre o relacionamento com Ele. Nas palavras de J. I.
Packer: “Pode-se saber bastante sobre Deus sem conhecê-lo muito”. De acordo com
Packer: “E necessário fazer uma autoanálise sincera neste ponto. Somos, talvez,
evangélicos ortodoxos. Podemos explicar o evangelho com clareza e podemos
sentir o cheiro de doutrina falsa a quilômetros de distância. [...] Entretanto,
diz ele, a alegria, a bondade, a liberdade de espírito, que constituem as
marcas de quem conhece a Deus, são raras em nosso meio — mais raras talvez do
que em outros círculos cristãos, onde, se fizermos uma comparação, a verdade do
evangelho não é conhecida com tanta clareza e tão completamente”.
Isso não significa
abraçar uma postura anti-intelectual, mas entender que não somos seres
exclusivamente pensantes, mas também afetivos e espirituais, e que nossa mente
é absolutamente incapaz de compreender a profundidade dos mistérios de Deus.
Compreendida de maneira correta, portanto, “fazer teologia é o ato de amar o
verdadeiro Deus com todo o entendimento com a finalidade de exaltá-lo em cada dia
de nossa vida”, como bem expressou Rick Nanez. Esse tipo de conhecimento
utiliza a razão, sem subordinar o evangelho a ela, curvando- se diante do
senhorio de Cristo.
Jonas Madureira chama
isso de inteligência humilhada. Diz ele: “A razão não precisa morrer, só
precisa dobrar os joelhos. A razão que se sujeita a Deus não deve se
envergonhar da sua sujeição, nem se inferiorizar pelo fato de reconhecer sua
dependência da revelação”.
Em segundo lugar, as
Escrituras também rejeitam uma visão eminentemente espiritualizada do
conhecimento de Deus, baseada em misticismo, revelações interiores e
conhecimento secreto de Deus.
Como cristãos, somos
convidados a buscar o conhecimento vivencial de Deus. Temos aqui o conhecimento
efetivo e relacionai não somente sobre Deus, mas de, com e para Deus. É de
Deus, pois é acerca dEle; com Deus, pois dependemos da sua presença enquanto o
estudamos; e é para Ele, no sentido de que todo conhecimento que alcançamos
serve para glorificá-lo.
Segundo Craig Keener,
“Na Bíblia hebraica, o conhecimento de Deus geralmente se refere a um
relacionamento correto com ele, baseado no devido conhecimento a seu respeito e
expresso em piedade autêntica. O conhecimento de Deus também pode expressar
intimidade com Deus e indicar o relacionamento de aliança (cf. Os. 2.20)”.
A fé pentecostal,
principalmente, tem um sério compromisso com esse conhecimento experiencial do
Senhor. Segundo Bernardo Campos, o pentecostalismo não é só um ato noético
(relativo ao intelecto) e explicativo; é também prático. Em outras palavras,
diz Campos: “Não é uma mera questão intelectual, e sim um ato vivencial,
experiencial, existencial e prático, teológico e espiritual”.
3. Conhecimento para a
vida e piedade (2 Pe 1.3)
No versículo 3, Pedro
deixa ainda mais evidente que o conhecimento de Deus não é uma mera compreensão
intelectual, mas a participação viva na verdade, pois por meio desse
conhecimento relacionai e profundo recebemos de Cristo tudo o que diz respeito
à vida e piedade. Tal afirmação exalta a autoridade de Jesus e ao mesmo tempo
realça que o seu poder não está confinado à devoção religiosa, mas abrange
todos os aspectos da vida. Conforme Roger Stronstad, nosso conhecimento
experimental de Deus “nos forneceu tudo o que necessitamos soteriológica e
eticamente falando”.
Somos recordados com
isso de que Cristo é suficiente para nós!
Primeiro, Ele é
suficiente como Salvador. A supremacia e suficiência do Filho de Deus mostra
que não precisamos de nada além dEle para alcançarmos a salvação, pois a sua
morte sacrificial quitou de uma vez por todas a dívida que tínhamos por causa
do pecado (cf. Cl 2.14). Esse ensinamento está implícito em um dos lemas da
Reforma Protestante: Solus Christus (Somente Cristo).
O Senhor Jesus não é
mais um no grande panteão de deuses criados pelo homem. Ele é o Filho Unigênito
de Deus (Jo 3.16), o primogênito de toda Criação (Cl 1.15), o Caminho, a
Verdade e a Vida (Jo 14.6), o [único] Mediador entre Deus e o homem (1 Tm 2.5).
Em virtude dessa supremacia é que o nome de Jesus é superior a qualquer outro
nome, ante quem todo joelho se dobrará, dos que estão nos céus, e na terra, e
debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor. (Fp
2.9- 11).
Em segundo lugar, Jesus
é suficiente como Senhor de nossas vidas. Apesar de reconhecerem a Cristo como
Salvador, aquEle que proporciona salvação através da sua morte na cruz, um
número considerável de pessoas — cristãos inclusive — tem grande dificuldade de
assimilar a soberania de Cristo em todos os aspectos da vida. Em outras palavras,
consideraram-no como Salvador, mas não necessariamente como Senhor, capaz de
direcionar todos os ambientes de suas vidas.
Fonte: A razão de nossa esperança – Alegria,
Crescimento e Firmeza
nas Cartas de Pedro. Editora CPAD |
Autor: Pr. Valmir Nascimento.