A sala de aula é um universo
e não há nenhum exagero quando se afirma isso. Os alunos vêm de estruturas
familiares completamente diferentes e isso, por si, já os define como
desiguais.
Cabe ao professor
desenvolver a habilidade de lidar com as mais variadas personalidades e fazer
com que o máximo do conteúdo trabalhado seja apreendido.
I. COMO
SER BEM SUCEDIDO NESSE DESAFIO?
O professor precisa ter em
mente, de forma bem clara, o conceito de aprendizagem que o norteará no
planejamento e desenvolvimento de suas aulas. De acordo com o Dicionário
Aurélio, aprender significa "tomar conhecimento de; reter na memória
mediante o estudo, a observação ou a experiência; tornar-se apto ou capaz de
alguma coisa, em consequência de estudo, observação, experiência, advertência
etc".
Leia também:
Já para Hilgard (1973),
"a aprendizagem é o processo pelo qual uma atividade tem origem ou é
modificada pela reação a uma situação encontrada, desde que as características
de mudança não possam ser explicadas por tendências inatas de respostas,
maturação ou estados temporários do organismo". Fontana (1995) conceitua a
aprendizagem como "uma mudança relativamente persistente, no comportamento
potencial de um individuo devido à experiência".
Nessas definições, vale
ressaltar que todo o ato de aprender envolve mudança que acontece pela
experiência.
Segundo o pedagogo Júlio
Furtado, "só há ensino quando há aprendizagem, por
isso o papel do professor não é ensinar, é fazer aprender, colocar-se do mesmo
lado da aprendizagem".
Nessa perspectiva, a
construção do conhecimento não é unilateral e o aprendizado só ocorre
efetivamente quando o professor ajuda seu aluno a construir sentido sobre
aquilo que ele vai aprender. Todavia, para que isso ocorra, é necessário que
velhos paradigmas, que versam sobre os papeis do professor e do aluno na sala
de aula, sejam quebrados ou simplesmente modificados ou adequados à nova realidade.
1. APRENDIZADO
SIGNIFICATIVO.
A aprendizagem
significativa, como teoria cientifica, é um conceito relativamente novo. Foi
nos anos 60 do século passado que David Ausubel, psicólogo norte americano,
propôs essa teoria, onde enfatiza a aprendizagem de significados como aquela
mais relevante para seres humanos.
Nessa teoria, há três
requisitos primordiais para que ocorra a aprendizagem significativa: a oferta
de um novo conhecimento estruturado de maneira lógica; a existência de
conhecimentos na estrutura cognitiva que possibilite a sua conexão com o novo
conhecimento; a atitude explícita de apreender e conectar o seu conhecimento
com aquele que pretende absorver.
Portanto, colocar em prática
essa teoria na sala de aula para obtenção de resultados positivos representa
quebra de paradigmas e é o grande desafio do professor na atualidade.
Mas, há três perguntas que
devem ser feitas e respondidas antes do aprofundamento nesse tema:
1)
O que é uma aula significativa?
2)
Como ajudar o aluno a construir o conhecimento?
3)
Como finalizar uma aula significativa?
É
necessário compreender como se aprende para então se aprender a ensinar. A sala
de aula, geralmente é muito heterogénea, então, para haver aprendizagem
significativa, a aula deve ser planejada de modo que facilite a construção de
significado, pelo aluno, sobre aquilo que ele esta aprendendo. Nessa construção
de sentido, deve-se contextualizar o conceito do assunto estudado o mais
próximo possível da realidade do aluno.
Para
introduzir um assunto, o professor precisa alinhar percepções; por exemplo, se
o tema da aula for sobre o Pentateuco, o professor deve sondar a turma sobre o
que cada aluno sabe ou pensa a respeito desse assunto. De posse dessa
informação, ele faz um alinhamento das percepções dos alunos sobre o tema.
Logo, o conteúdo será desenvolvido a partir da interação entre o conhecimento
prévio do aluno e os novos conhecimentos que lhe são apresentados.
Esse
conhecimento prévio é de suma importância à nova aprendizagem, o qual pode ser,
por exemplo, um símbolo já significativo, um conceito, uma proposição, um
modelo mental, uma imagem. David Ausubel chamava-o de "subsunçor" ou
"ideia-âncora".
Em
termos simples, subsunçor é o nome que se dá a um conhecimento específico, que
já existe na estrutura de conhecimentos do indivíduo e que permite dar
significado a um novo conhecimento que lhe é apresentado ou por ele descoberto.
Tanto por recepção como por descobrimento, a atribuição de significados a novos
conhecimentos depende da existência de conhecimentos prévios fundamentalmente
relevantes e da interação com eles. Desse modo, a aula significativa tem a
participação direta do aluno, fazendo perguntas, expondo suas ideias, mostrando
o que já sabe ou pensa sobre determinado tema.
Essa
abordagem, evidentemente, pode ser usada em todas as disciplinas, cabendo, a
cada professor, fazer as adequações necessárias. Nesse processo, os novos
conhecimentos adquirem significado para o aprendiz e os conhecimentos prévios
também adquirem novos significados, e o mais importante, estabilidade
cognitiva.
A
parte final da aula significativa é a verificação da aprendizagem, que em
hipótese alguma deve deixar de ser feita, pois é com ela que o professor
constatará o sucesso de seu trabalho. Essa verificação de aprendizagem deve apresentar
desafios com valor sócio cultural que, depois de resolvidos, permitirão ao
professor checar se os conceitos foram verdadeiramente apreendidos.
Outro
aspecto, extremamente relevante, é que a aula significativa não depende de
recursos tecnológicos para que ocorra de maneira satisfatória, no entanto se o
professor dispuser dessa estrutura, deve usá-la, de modo que enriqueça ainda
mais sua explanação sobre determinado tema. Para isso, o professor deve estar
sempre atualizado e apto a usar todos os recursos tecnológicos que hoje o
mercado oferece, como datashow, lousa interativa, internet, notebook, tablet,
Ipod etc. Como dizia Sêneca: "Ensinando, aprende-se".
II. APRENDENDO COM O SENHOR JESUS
Curiosamente,
o Mestre dos mestres utilizou bastante a estrutura de aula significativa nos
seus ensinamentos. A grande maioria de seus seguidores era de pessoas simples,
que nunca estiveram em sala de aula, mas que vivenciavam na sua rotina a
cultura social de sua época. Eram pescadores, pastores de ovelhas, donas de casa,
agricultores, carpinteiros, ferreiros, artesãos, dentre outros. Ele se valia de
elementos do dia a dia de seus ouvintes para transmitir verdades espirituais de
modo simples, mas objetivo. Por exemplo: para expressar o conceito de Reino dos
Céus, o Senhor Jesus se utiliza de elementos conhecidos de seus discípulos,
como a dracma, o trigo e o joio, o grão de mostarda, a rede de pescar, a
pérola. Todos esses elementos eram comuns a todos os seus ouvintes. Eles eram o
conhecimento prévio, o conhecimento âncora ou subsunçor conceituado por Ausubel
no século 20, que o Mestre Jesus usava nas suas "aulas" de maneira
prática e didaticamente perfeita.
Observamos
na leitura dos evangelhos que as pessoas perguntavam, questionavam o Mestre e
que ele não os impedia de falar e, às vezes, até os instigava a falar; e com
elementos do seu cotidiano, os ensinava preciosas lições (Lc 13.18-21; Mt 15.
8-10;Mt 13.24-30; Mc 4.30-34).
Hoje,
vive-se em outro contexto, porém o princípio da aprendizagem é o mesmo. Esta
geração vive na era da informação, mas, paradoxalmente, nunca se viu tantas
pessoas tão desinformadas ou mal informadas.
Sendo
assim, o desafio de tornar a aprendizagem significativa na sala de aula é
possível, seja na escola secular, seja na EBD, desde que o professor busque
também a formação necessária, j a imersão no estudo dessa teoria da aprendizagem
significativa e, sobretudo, a aplicação desses conceitos em sala de aula para
que seus alunos aprendam a construir o conhecimento, não apenas memorístico,
visando uma boa nota na avaliação, mas, essencialmente, o conhecimento que faça
sentido para eles, o conhecimento que lhes traga algum significado.
Autor: Sydney de Castro
Monteiro
Publicação: Ensinador Cristão – 67 /
Reverberação: sub-ebd.blogspot.com.br