Refletiremos
acerca da ação evangelística pessoal do próprio Deus. Surpresos, constataremos
que Ele evangeliza até mesmo quando está em silêncio.
I. AS
PRIMEIRAS NOTAS EVANGÉLICAS DE DEUS
VEJA O SUBSÍDIO EM
VÍDEO
Se lermos atentamente a Bíblia Sagrada, constataremos que,
quando o universo ainda não existia, o Plano da Salvação já estava esboçado no
espírito de Deus.
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1. O
Cordeiro Morto na eternidade.
Em Apocalipse, o Espírito Santo revela a João que o Senhor
Jesus, para redimir-nos, não morreu apenas no tempo. Na presciência divina, o
Cordeiro de Deus já estava morto antes mesmo dos eventos registrados em Gênesis
(Ap 13.8).
Nossa redenção, por esse motivo, transcende o tempo e os
eventos
da criação; é eterna (Hb 9.12). Portanto, quando ainda não
havia
pecado, ou pecadores, o amoroso Deus já tinha estabelecido
as bases da nossa salvação.
A morte do Cordeiro, na presciência de Deus, foi a
primeira nota evangélica da História Sagrada. Se Cristo morreu na eternidade,
na
eternidade também fomos eleitos (1 Pe 1.2). Eis porque,
conforme veremos mais adiante, quando Adão pecou, Ele não se mostrou surpreso.
Na sentença sobre o pecado, anuncia a redenção do pecador
(Gn 3.15). Antecipadamente, prega o evangelho do Unigênito à humanidade, representada,
ali, no primeiro ser humano. Antes mesmo que houvesse tempo, proclamou a
salvação eterna. Era como se Deus, num tabernáculo vazio, chamasse os
pecadores, que ainda não existiam, ao arrependimento.
Parece
loucura?
A pregação do evangelho tem peculiaridades que só o amor
divino é capaz de operar (1 Co 1.21).
2.
Deus evangeliza trabalhando.
Na criação dos céus e da terra, quando Deus montava o
cenário para o drama de nossa redenção, seus anjos, antegozando o triunfo do
Calvário, louvam-no exaltadamente (Jó 38.7). Eles sabiam que o nosso planeta não
seria mais uma esfera entre outras esferas, mas o círculo que, na plenitude do
tempo, haveria de se fechar com a morte de Cristo. Por isso, os santos anjos
ensaiavam, naquele instante da obra divina, para celebrar o nascimento do Filho
de Deus em Belém (Lc 2.13.14).
A proclamação do evangelho evoca cânticos de júbilos. Ao descrever o regozijo dos exércitos celestes
na conversão de um pecador, declarou Jesus:
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que
se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de
arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não
acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E,
achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já
achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus
por um pecador que se arrepende. (Lc 15.7-10)
3.
Deus evangeliza proclamando.
Deus evangeliza tanto trabalhando quanto proclamando.
Ninguém melhor do que Ele sabe usar as palavras, pois a nossa linguagem nEle
nasceu e nEle se desenvolve. Ele cria o mudo e o eloquente (Êx 4.11). Por intermédio
de seu Espírito Santo, inspirou o Livro dos livros (2 Tm 3.16). E, pela boca de
seus servos, narra as histórias mais belas, declama as poesias mais sublimes, anuncia
as promessas mais escondidas e consola-nos, diariamente, com o cajado do Bom
Pastor.
A Bíblia não se limita a conter a Palavra de Deus. Ela é a
Palavra de Deus que evangeliza e redime o pecador, guiando-o às regiões mais celestes
(Ef 2.6). Todas as vezes que a Sagrada Escritura é lida, ouve-se o próprio Deus
evangelizando. Por isso, quem rejeita o Filho, rejeita o Pai.
III. O EVANGELHO DE CRISTO A ABRAÃO
De Adão, o primeiro homem, a Abraão, o primeiro patriarca
dos hebreus, temos um interregno de aproximadamente dois mil anos. Nesse período,
o Reino de Deus parecia engolido pelo império de Satanás.
Todavia, o Evangelista Eterno estava apenas preparando o
caminho de seu Filho que, decorridos mais dois milênios, haveria de nascer em Belém
de Judá.
1.
Abraão, o gentio.
Ao ser chamado por Deus a peregrinar numa terra
desconhecida e mui distante, Abraão não passava de um gentio como eu e você.
Era um caldeu entre os caldeus.
O idioma que falava não era o hebraico, mas a língua aramaica
que, nascida em Damasco, estendia-se até as fronteiras com a Índia. Mas aprouve
a Deus evangelizá-lo, separando-o dentre as gentes, para, por meio dele, levar
o mundo a uma surpreendente realidade espiritual.
De tal forma converte-se Abraão ao Deus Único e Verdadeiro
que, ante o seu chamamento, deixa uma cidade segura e confortável para andejar
um chão ermo e cheio de sobressaltos. Suas experiências com o Senhor são
profundas; faz-se amigo de Deus (Is 41.8).
Não demora para que o seu nome seja mudado, indicando uma
nova dimensão em sua vida espiritual. Dantes, era Abrão: grande pai. Mas,
agora, é Abraão, que em hebraico significa pai de uma multidão não somente
étnica, mas destacadamente espiritual (Gn 17.5). Logo, o patriarca hebreu torna-se
o nosso pai na fé (Tg 2.21).
O cristianismo e o judaísmo são religiões abraãmicas.
Semelhante designação é reivindicada também pelo islamismo. Todavia, ao ler o
Corão, não pude encontrar, em nenhuma de suas suratas, algo que me levasse a
identificar a fé islâmica com a crença do patriarca hebreu.
2. O
evangelho de Deus a Abraão.
Se nos detivermos a analisar a vocação do patriarca hebreu, encontraremos
a mais bela síntese da mensagem cristã. Em primeiro lugar, Deus individualiza a
chamada de Abraão, a fim de universalizar a convocação de todas as nações a
crer em Jesus Cristo.
a) Uma chamada que transcende a nacionalidade.
Deus, em primeiro lugar, intima Abraão a deixar a sua
nacionalidade: “Sai-te da tua terra”.
A fé no Deus Único e Verdadeiro não pode circunscrever-se a
uma nacionalidade. Seu caráter reivindica seja ela proclamada a todos, em todo
o tempo e lugar, por todos os meios. Por esse motivo, não sou favorável a uma
igreja oficial, como a anglicana, pois sempre estará a serviço do Estado.
A Igreja, por ser Igreja, não pode ser trancada na burocracia
estatal, pois a sua natureza leva-a a forçar todas as portas, inclusive as do
inferno.
Israel jamais poderia ter restringido a sua fé a um
território, a uma cidade, a um santuário e a um objeto sagrado. Infelizmente,
foi o que aconteceu. Embora fundassem uma terra santa, não foram
suficientemente zelosos para santificar os povos além de suas fronteiras. Ao
elegerem Jerusalém como a cidade santa por excelência, não saíram, a partir dela,
a proclamar a Palavra de Deus até aos confins da terra como fez o profeta
Jonas. Quanto ao Santo Templo, achavam que Deus estava restrito àquela casa e
que, de lá, jamais sairia. E, para completar o seu exclusivismo religioso, fizeram
da arca sagrada um totem. Supunham que, tendo-a por perto, nenhum mal viria a
alcançá-los.
O Senhor mostrou-lhes, porém, que aquele objeto tão belo e
tão cobiçado viria a perder-se um dia (Jr 3.16). Enfim, os israelitas, ao contrário
de Abraão, não conseguiram transcender a própria nacionalidade na divulgação da
verdadeira fé. Logo, o Deus de Israel é também o Deus de todos os povos, porque
sua é a terra e a sua plenitude. Até mesmo os apóstolos demoraram a entender o
alcance universal do evangelho de Cristo. Fez-se necessária a convocação de um
concílio, para que, iluminados pelo Espírito Santo, autorizassem Paulo e
Barnabé a prosseguirem o seu ministério junto aos gentios.
b) Uma chamada que transcende a etnia.
Deus ordenou também a Abraão que deixasse a sua parentela,
pois o chamava a ser o pai de todos os que creem. Então, como haveria ele de
confinar-se à etnia hebreia, se o mais ilustre de seus descendentes haveria de
morrer por todos os povos? Os israelitas, porém, ignorando a natureza de sua chamada
universal, isolam-se nacionalmente.
A fim de arrancar os apóstolos a esse exclusivismo, o Senhor
concede a Pedro a visão global do evangelho. No lençol descido do
céu, o galileu contempla toda sorte de animais imundos e
repulsivos.
Em seguida, ouve do próprio Jesus: “Não faças tu comum ao
que Deus purificou” (At 10.15). A partir daquele momento, a Igreja de Cristo, ainda
majoritariamente judaica, internacionaliza-se até alcançar os povos mais
inalcançáveis. A grandeza de Israel, portanto, não está em sua nacionalidade,
nem em sua etnia; reside em sua herança espiritual.
c) Uma chamada que transcende a família.
Abraão foi chamado ainda a deixar a casa de seu pai, pois a
família que dele sairia não se fundaria em laços de sangue, mas numa aliança
espiritual. É claro que, aos olhos de Deus, a família é muito importante.
Precedendo o Estado e até mesmo a Igreja, ela é a base tanto
daquele quanto desta. Mas, pela fé em Jesus Cristo, filho de Abraão, surge um
povo mais forte que a própria família.
Certa vez, perguntou o Senhor Jesus: “Quem é minha mãe?
E quem são meus irmãos?”. Ato contínuo, destacando seus discípulos,
responde: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque qualquer que fizer a
vontade de meu Pai, que está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe” (Mt
12.49,50).
A família, para Abraão, teria um fundamento mais forte que o
sanguíneo. A fé no Deus Único e Verdadeiro seria capaz de unir, num mesmo
corpo, em Jesus Cristo, todos os povos da Terra. Todos os que o aceitam,
portanto, são chamados para fora de sua nacionalidade, etnia e família, a fim
de formar um só organismo espiritual. Assim é descrita a Igreja de Cristo pelo
apóstolo Paulo: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus;
porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.
Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea;
porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.26-28).
d) Uma terra que transcende os olhos.
No evangelho que Deus pregou a Abraão, havia uma terra
estratégica, larga e espaçosa. Disse-lhe o Senhor: “para a terra que eu te
mostrarei”. Portanto, Abraão é chamado para fora de sua nacionalidade, de sua
etnia e de sua família, com o objetivo de possuir uma terra que ele ainda não
via. Assim, movido por uma fé justificadora, começa o patriarca a ver o
invisível. Naquele exato momento, deixando para trás o sedentarismo
confortável, faz-se
nômade. E, de oásis em oásis, peregrina até chegar a uma
terra que, profeticamente, já era sua, mas, historicamente, ainda estava em
poder de gentios aguerridos, profanos e inimigos de Deus.
Por que Canaã, e não Ur dos caldeus? Por que a terra do
amorreu e do jebuseu, e não Padã-Arã? Ambas as cidades eram mais importantes que
o território cananeu. Todavia, não eram estrategicamente localizadas para a
difusão do conhecimento divino a toda a Terra. Somente Israel serviria como a
localização exata para o Senhor Jesus iniciar a expansão do Reino de Deus. Os
evangelistas, partindo de Jerusalém, alcançariam toda a Judeia, a região de
Samaria e, finalmente, os confins do globo.
A igreja católica, sob o comando de Urbano II, reuniu-se em
cruzada, para retornar a Jerusalém. Mas a Igreja Primitiva, impulsionada pelo Espírito
Santo, partiu de Jerusalém para conquistar o mundo para Cristo.
Temos aí o verdadeiro significado de Urb et Orbi. Ou seja: à
cidade e ao mundo com um só alvo: proclamar a Palavra de Deus. Quanto àquela
terra, não há dúvida. Pertence a Israel.
e) Uma nação paradoxal.
Na promessa que o Senhor lavra ao seu amigo, há uma nota
paradoxal: “E far-te-ei uma grande nação”. Se Abraão fosse o pai da China, ou
dos Estados Unidos, não haveria, aí, contradição alguma. De seus lombos, porém,
saiu uma das menores nações do mundo. Por mais que se multiplique, a demografia
de Israel jamais chegará ao nível da chinesa ou da americana. Não obstante, não
há povo tão influente, espiritual e moralmente, do que o hebreu.
Nenhuma outra escritura é tão lida quanto a Bíblia. Nenhum
profeta
é citado como Moisés. Quanto a Jesus Cristo, nosso Senhor,
nenhum ser humano é tão evocado quanto Ele. Verdadeiro Homem e Deus Verdadeiro,
o Nazareno reúne, em torno de seu nome, povos de todas as nacionalidades que,
vinculados pela fé, tratam-se como irmãos. Essa é a grandeza de Israel.
f) Abraão, fonte de bênçãos e maldições.
No evangelho que Deus pregou a Abraão, há dois mandamentos
específicos. Se o primeiro representou dificuldades geográficas e logísticas, o
segundo representará um grande desafio espiritual e teológico.
Na segunda ordenança, diz-lhe o Senhor: “e tu serás uma
bênção”. Se na versão corrigida de Almeida o mandamento parece profecia, já na
tradução atualizada, a promessa soa como um mandamento bastante claro: “Sê tu
uma bênção” (Gn 12.2).
Abraão teria de ser uma bênção à sua família e a todas as
nações da Terra. Ele abençoou-nos com os profetas, com as Escrituras Sagradas e
com o Cristo. Jamais poderemos retribuir-lhe as bênçãos que, de seus
descendentes, recebemos. Por isso, cabe-nos abençoá-lo. Hoje, abençoamos Israel
não somente mantendo vínculos amistosos com o Estado judeu, mas curvando-nos ao
evangelho que nos veio por intermédio da família hebreia.
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