INTRODUÇÃO
Deus
levantou uma série de juízes para liderar, guiar e resgatar seu povo, que se
rebelava continuamente contra Ele e seguia os costumes dos cananeus. O período
dos juízes foi a época dos fracassos de Israel e da resposta de Deus ao clamor de
seu povo. Deus levantou Samuel nesse
período de crise na história de Israel. Ele serviu ao povo como juiz, sacerdote
e profeta. Como o último juiz (At 13.20) e o primeiro profeta (At 3.24), foi
uma figura de transição entre o tempo dos Juízes e o dos Reis. Samuel foi o
instrumento escolhido por Deus, cuja linhagem espiritual está ligada a Josué,
Moisés e Abraão.
Samuel
foi o último e o melhor juiz de Israel. Ele também foi o primeiro grande
profeta da nação de Israel. Sendo o resultado de um milagre, o filho de uma
mulher estéril, ele foi consagrado ao serviço de Deus desde seu nascimento. Ele
se tomou um grande líder em Israel, e foi escolhido por Deus para ajudar a
nação a passar pela transição de uma confederação de tribos a uma nação
unificada.
SAMUEL
COMO SACERDOTE
Samuel
começou seu serviço no Tabernáculo em Siló ainda muito jovem. Mesmo ao lado dos
filhos de Eli, cujo comportamento obsceno era bem conhecido (1 Sm 2.12- 17,
22-25), permaneceu firme em seu amor pelo Senhor. Numa noite, recebeu uma
revelação especial de Deus concernente ao final da dinastia de Eli (1 Sm
3.11-14). Esse oráculo foi o início do seu ministério profético. Samuel fora
separado como profeta em Israel e todos começaram a reconhecê-lo como homem de
Deus (1 Sm 3.19-21).
A
profecia a respeito do juízo de Deus sobre a família de Eli cumpriu-se durante
uma campanha militar contra os filisteus. Os filhos deste sacerdote, Hofni e
Fineias, levaram a Arca da Aliança para a frente de batalha (1 Sm 4). Ambos
foram mortos e o objeto sagrado, capturado pelos inimigos. Ao ouvir sobre a
morte dos filhos e o que acontecera à Arca, Eli caiu da cadeira onde estava
sentado e morreu. A morte de Eli e de seus filhos e a vergonha pelo fato de a
Arca da Aliança ter-se transformado em um troféu de guerra causaram o fim de
Silo como centro religioso em Israel. A desolação do lugar chocou a nação e a
reverberação do evento podia ser bem sentida até no século VI, quando Jeremias
disse: “Ide agora ao meu lugar, que estava em Siló, onde, no princípio, fiz
habitar o meu nome, e vede o que lhe fiz, por causa da maldade do meu povo
Israel” (Jr 7.12).
1.
Servindo como sacerdote.
Embora
não fosse descendente de Arão, Samuel serviu como sacerdote após o término da
dinastia de Eli. Este aspecto de sua vida, entretanto, foi obscurecido por sua
liderança como profeta e juiz em Israel.
As
facetas múltiplas de seu ministério foram mostradas juntas na narrativa da
assembleia de Mispa. Samuel convocou os israelitas e exortou-os ao
arrependimento, orou por eles e ofereceu um sacrifício em seu favor (1 Sm 7),
pelo que Deus os ajudou no ataque contra os filisteus. A vitória foi celebrada
com a colocação de uma pedra memorial em Mispa (1 Sm 7.12), que se chamou
“Ebenézer” (“pedra da ajuda”).
Como
Moisés, Samuel orou pelo povo (1 Sm 7.9; cf.12.17,19,23). No final de seu
ministério público, fez uma revisão do passado de Israel, exortou os israelitas
a aprender com a história e ameaçou-os com trovões e chuva de granizo (1 Sm
12). Ao ouvir suas declarações proféticas e ver a devastação causada pela
tempestade, o povo pediu novamente a Samuel que orasse por eles. Ele concordou,
mas advertiu-os sobre o juízo iminente de Deus: “Tão-somente temei ao Senhor, e
servi-o fielmente de todo o vosso coração; considerai quão grandiosas coisas vos
fez. Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, assim vós como o
vosso rei” (1 Sm 12.24,25).
SAMUEL
COMO PROFETA (1Sm 3.19,20)
Samuel é considerado o primeiro profeta (At 3.24). O Senhor o chamou para ser mensageiro (1 Sm 3.1-14). Foi reconhecido como “servo” de Deus, por meio de quem o Senhor falou com seu povo individualmente (1 Sm 9.6) e como nação (1 Sm 7.2-4; 8.1-22). Seu ministério profético foi tão excelente que todas as tribos ouviram sobre o homem de Deus; “E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor” (1 Sm 3.20).
1. Conceito de Profeta no
Antigo Testamento.
A palavra profeta é tradução
do hebraico nabi. Nabi provém da raiz naba do hebraico e
seu sentido primário é “alguém que declara ou anuncia algo”. No contexto
bíblico, fala daquele que recebeu por revelação direta de Deus suas palavras
para proclamar ao povo. O nabi aparece mais de trezentas vezes nas
páginas do Antigo Testamento, isso dentro de diversos contextos, o que pode ser
visto em passagens como: Gênesis 20.7; Números 12.6; 1 Samuel 3.20; 1 Reis 1.8;
Salmos 74.9; Jeremias 1.5.
2. O profeta Samuel, o
vidente (1 Sm 9.9 – BKJ)
Vidente (Heb. ro eh) descreve
uma pessoa que vê as coisas de Deus. Profeta (Heb. naví) significa chamado (ou
seja, por Deus) O teto esclarece que o termo profeta finalmente substituiu
vidente, mas os dois termos descreviam o mesmo ofício (Bíblia de Estudo King
James – BV BOOKS EDITORA)porta-voz de Deus, além de ser visto como um atalaia e
pastor (Jr 6.16; Ez 3.17).
3. O conceito de Profeta no
Novo Testamento.
O Novo Testamento tem sua
definição também para o prophétes, palavra que aparece 159 vezes. O
prefixo da palavra pro, antes, phemi, falar, já esclarece em si o significado:
uma pessoa que fala em nome de outra. Portanto, o profeta seria inspirado por
Deus para falar as suas palavras.
O profeta neotestamentário
caracterizava-se também pelo oficio profético e, nesse particular, podia
exortar, ensinar, orientar, estar à frente de um rebanho.
4. A Diferença entre o
Ministério Profético e o Dom da Profecia.
Há uma distinção bem clara
quanto ao ministério profético e o dom da profecia. Podemos confirmar isso pela
citação do teólogo Robert Brandt, que diz:
Qual
é a diferença entre o dom de profeta e o dom de profecia? Primeiro, é um dom
para os líderes do corpo, de tempo integral. Já o dom de profecia é o dom de
transmitir uma mensagem, inspirada. O dom de profeta destina-se a uma parcela
muito pequena dos membros do corpo. O dom de profecia está ao alcance de todos
os membros (1Co 14.31). [...] A diferença entre o ministério de profeta e o dom
de profecia é a seguinte: todos aqueles chamados a exercer o ministério de
profeta profetizam. No entanto, nem todos os que profetizam têm o ministério de
profeta.
5. Dons ministeriais e dons
espirituais.
Precisamos distinguir entre
os dons ministeriais e os dons espirituais, conforme dito. O dom de profeta faz
parte do grupo dos dons ministeriais, enquanto que o dom de profecia é
destinado a toda a Igreja, o Corpo de Cristo.
O profeta do Novo Testamento
exercia um ministério e isso se comprova pelo fato de alguns homens serem dados
como dons à Igreja. A autoridade ministerial do profeta era vista pela Igreja,
o que pode ser comprovado em Atos 13.1-3 e 14.23, mas, é claro, não podemos
ligar ministério profético com o dom da profecia, ainda que ambos venham da
mesma fonte, Deus.
a) Ministério
Profético (Ef .11).
O ministério profético exista
hoje, pois Deus, através do seu Espírito Santo, continua a dar homens como dons
para atuar na estrutura do Corpo de Cristo, a Igreja.
6. Ainda existe a profecia
como um Dom.
Não podemos negar que a
profecia como um dom existe, especialmente no seu aspecto preditivo, o que pode
ser comprovado por meio das profecias faladas por Ágabo (At 11.27,28;
21.10,11). Deus, por seu grande poder soberano e por amar seus servos, pode, em
momentos de necessidade, em extremas circunstâncias, avisá-los para se
colocarem em estado de alerta, vigilância. É claro, a profecia preditiva deve
ser analisada, jamais dogmatizada, e sua veracidade não se dá no ato de sua
verbalização, mas, sim, no seu cumprimento (Dt 18.22).
O dom da profecia não pode
ser normativo, posto que a regra infalível da fé do cristão é a Santa Palavra
de Deus, aliás, o que é usado com o dom da profecia deve se sujeitar às
Escrituras, assim como os que exercem o ministério do ensino e pregação.
a) Dom
da Profecia (1 Co 12.4-11; 2 Co 14.1, 3,29, 39,40)
Não podemos jamais desprezar
o dom da profecia alegando falhas da parte dos homens, exageros, pois podemos
estar entre dois extremos. Caso fiquemos apenas no formalismo, corremos o risco
de sermos apenas uma instituição social, limitando o agir de Deus. Caso sejamos
demasiados nesse dom, podemos nos tornar fanáticos. O que vale dizer é que o
mais importante é que tanto quem exerce o ministério profético como quem é
usado com o dom da profecia deve evidenciar em sua vida o fruto do Espírito,
pois através dele é que se conhece a árvore (Mt 7.15-23; Gl 5.21,22).
SAMUEL
COMO JUIZ
1.
Juiz, uma função política e religiosa.
Samuel
foi um juiz fiel, o qual viveu a teocracia ideal, deu forma à vida política de
Israel, unificou as tribos e obteve vitória contra os filisteus (1 Sm
7.13b-17). A função de juiz era política e religiosa. Como líder político,
preservava a unidade das tribos e tratava das questões legais que estavam acima
da esfera dos líderes locais. Como líder militar, “livrava” Israel dos
inimigos. Durante o ministério de Samuel, o Senhor concedeu a Israel um período
de descanso.
2. O
fracasso dos filhos do Juiz e um novo rumo para Israel.
O
centro de liderança do Juiz Samuel foi seu local de nascimento, Ramá (1 Sm
7.17), de onde viajava e fazia um circuito por várias cidades. Pouco se sabe
sobre sua vida doméstica, exceto que seus dois filhos (Joel e Abias) eram
homens ímpios (1 Sm 8.1-7). O fracasso dos dois deu ocasião a que os líderes do
povo decidissem por um novo rumo na vida de Israel. Em vez de depender de
figuras carismáticas, como os juízes, determinaram que a nação estava pronta a
seguir a liderança de uma dinastia real (1 Sm 8). O pedido foi recebido com
relutância por Samuel, mas recebeu a aprovação de Deus.
O
profeta Samuel submeteu-se à vontade de Deus, ciente de que o novo rumo seria
perigoso para Israel. A providência divina trouxe Saul à vida de Samuel. Este
jovem chegara a Ramá para perguntar ao profeta sobre o paradeiro das jumentas
de seu pai. Apoiado por Deus, Samuel secretamente ungiu Saul como rei de Israel
(1 Sm 9). O Senhor também o colocou como figura central da nação, depois que
foi escolhido numa assembleia pública em Mispa, onde o rei foi determinado por
meio de sorteio (1 Sm 10). Deus selou a questão quando Saul demonstrou seu
valor na batalha, ao ser bem-sucedido na luta contra os filisteus.
Samuel
foi um fiel servo do Senhor. Seu nome é mencionado no Novo Testamento entre os
heróis da fé (Hb 11.32).