Em meio ao plano de redenção
da humanidade, Deus enviou Jesus Cristo, “o qual se deu a si mesmo por nós,
para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial,
zeloso de boas obras” (Tt 2.14). Esse “povo seu especial” é o povo de Deus,
reunido em todos os tempos e em todos os lugares na Igreja de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Todos os que, de fato, pertencem à Igreja de Jesus Cristo são
chamados “cristãos”. Nessa condição especial, os cristãos têm o dever
espiritual e moral de zelar, cuidar e administrar os bens que Deus tem-lhes
dado, tanto no plano espiritual quanto no plano material. Como a Igreja de
Cristo não recebeu a missão primordial de cuidar do planeta como ocorreu com
Adão, a Igreja cuida precipuamente dos bens espirituais e morais que Deus deu a
ela mediante a proclamação do Evangelho de Cristo, e mediante o zelo pelos
princípios espirituais emanados da Palavra de Deus e do zelo pela fé e pelo
amor cristão. Mas, mesmo assim, os cristãos não podem nem devem desprezar seus
deveres morais, sociais, políticos e materiais que envolvem a realidade humana
à sua volta.
No sentido geral, a palavra “mordomia” (gr. oikonomia) tem o
significado de “administração da casa”, como lemos em Lucas 12.42, 16.2-4,
Romanos 16.23 e outras referências. Dessa palavra, vem o termo economia, com o
sentido de administração dos recursos escassos e recursos econômicos de um
país, de uma nação ou de uma organização ou empresa. O mordomo é o administrador
dos bens de um senhor, de um dono, de um proprietário rico, que tem muitos
bens, entregando-os a uma pessoa de sua confiança, um despenseiro (gr.
oikonomos), que é o administrador incumbido de importantes tarefas que deverão
ser realizadas e supervisionadas. Deus levantou um povo “especial, zeloso e de
boas obras”, a Igreja, para cuidar dos interesses do seu Reino na terra. Essa
mordomia especial cuida dos bens espirituais, humanos e materiais em nome do Rei
dos reis e Senhor dos senhores. Entendemos por “bens espirituais” os recursos e
os meios confiados à Igreja, no âmbito das coisas espirituais por excelência,
distintos dos bens materiais ou naturais.
Neste estudo, destacamos três
desses bens que são relevantes e de grande importância para a mordomia cristã.
I – CONCEITOS DE MORDOMIA
1. Mordomo.
A palavra vem do latim majordomu, com o significado de “o criado
maior da casa”, “administrador dos bens de uma casa”, “ecônomo” (Dic. Aurélio).
Na Bíblia, aparece diversas vezes a função do mordomo, que era (e ainda é) a
pessoa encarregada de administrar os bens de um senhor, de um proprietário, de
um homem que tem bens ou posses ou de uma organização, hoje com outros nomes,
na administração moderna. Tanto no AT quanto no NT, vemos que essa figura
corresponde à do administrador.
2. No Antigo Testamento.
A palavra mordomo, no
hebraico, é Ha-ish asher al: “homem que está sobre”, referindo-se ao mordomo de
José (Gn 43.19); Asher al bayth: “quem está sobre a casa” — idem (Gn 44.4); Bem
mesheq: “filho da aquisição”, referindo-se a Eliézer, o mordomo de Abraão (Gn
15.2). A palavra sempre se refere a uma pessoa de elevada confiança, a quem um
rico proprietário confia os seus bens, bem como a administração de sua casa e
dos seus empregados ou servos.
3. No Novo Testamento.
Há várias palavras gregas
traduzidas por mordomo. Epitropos: Com o significado de “encarregado”. Vemos
essa palavra em Mateus 20.8 (o mordomo da Parábola dos trabalhadores); em Lucas
8.3 (ref. a Cuza, procurador ou mordomo de Herodes); Gálatas 4.2 (ref. a
tutores e curadores de um menor). Oikonómos: Significa “mordomo”. Encontramos esse
termo em Lucas 12.42 (o “mordomo fiel e prudente”); Lucas 16.1 (ref. ao mordomo
infiel); Romanos 16.23 (“o procurador da Cidade”); 1 Coríntios 4.1,2
(“despenseiros de Cristo”). A palavra vem de oiko (casa) e nomos (administrador,
despenseiro). O dono da casa era o oikodespotes (Mc 14.14).
4. Mordomia.
Mordomia significa “cargo ou
ofício do mordomo; mordomado”. Tem origem no termo oikonomia, do grego.
Encontramos essa expressão em alguns textos do Novo Testamento, como, por
exemplo, na Parábola do Mordomo Infiel” (Lc 16.1-4). Mordomia também pode ser
entendida como “dispensação” (1 Co 9.16,17).
Na Bíblia, mordomia quer
dizer todo o serviço que realizamos para Deus e todo o comportamento que
apresentamos como cristãos diante de Deus e dos homens; é a administração dos
bens espirituais e materiais, tanto em termos individuais, por meio do corpo e
das faculdades emocionais e físicas, concedidas por Deus, como por meio da ação
administrativa dos bens espirituais e materiais à disposição da igreja local. A
mordomia cristã está ligada à Filosofia e à Ética, com base nos princípios da
Palavra de Deus.
No presente, as igrejas
locais ou as denominações reconhecem o valor da Administração Eclesiástica, com
seus aspectos científicos e técnicos de gestão de organizações, de pessoas ou
materiais. Essa expressão tornou-se conhecida há poucas décadas, quando as
igrejas passaram a preocupar-se em utilizar a terminologia, bem como as
orientações das ciências administrativas no âmbito da igreja local. Nos tempos
antigos, todas as atividades confiadas a um mordomo (administrador) eram
denominadas de mordomia. Assim como a palavra mordomo sugere a pessoas do
administrador doméstico, a palavra mordomia, na sua etimologia, geralmente se
refere à administração de atividades domésticas.
II – A MORDOMIA ESPIRITUAL DO CRISTÃO
Neste tópico, analisamos a
mordomia dos cristãos como cidadãos do céu e também cidadãos da terra. Como
pessoas ou indivíduos, temos grandes responsabilidades diante de Deus, pois
devemos ser referência para o mundo (Mt 5.13-16).
1. A Mordomia do Amor Cristão.
A mordomia cristã deve dar
grande valor à prática do amor. Um fariseu, “doutor da lei”, resolveu testar Jesus
quanto à sua visão sobre os mandamentos da Lei de Moisés. Ele conhecia bem os
Dez Mandamentos. Abordando Jesus, indagou: “Mestre, qual é o grande mandamento
da lei?” (Mt 22.36). E Jesus respondeu de maneira sábia, serena e consistente,
de tal forma que deixou seu interlocutor e os demais ouvintes admirados com sua
doutrina.
Amar a Deus de todo o
coração. Respondendo ao fariseu, Jesus disse: “Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração [...]” (Mt 22.37a). Podemos imaginar a expressão inquiridora
do fariseu olhando para Jesus e ouvindo sua sábia resposta. Amar a Deus de todo
o coração é um desafio enorme para o ser humano, pois este está prejudicado
pelo pecado. A desobediência a Deus no início de tudo causou profundas
transformações na mente humana.
2. O homem passou a ser egoísta e individualista.
Haja vista o que ocorreu
quando do assassinato de Abel por Caim. Quando Deus perguntou ao homicida onde
estava seu irmão, ele respondeu cinicamente com uma pergunta: “Não sei; sou eu
guardador do meu irmão?” (Gn 4.9).
3.
Amar a Deus de toda a alma e pensamento.
A mordomia cristã valoriza o
interior do ser humano. A alma é a sede dos pensamentos e das emoções. Na
resposta ao fariseu, Jesus enfatizou que faz parte do primeiro e grande
mandamento amar a Deus de toda a alma e de todo o pensamento.
Em consequência do que foi
escrito no item anterior sobre o amor a Deus de todo o coração, ou seja, de
todo o interior do ser, é indispensável que os sentimentos, os pensamentos e as
emoções sejam de tal forma voltados para Deus a ponto de expressar o amor que
Ele requer de seus servos. Assim, o mordomo cristão deve amar a Deus de toda a
alma e de todo o coração. É um desafio para todos os que querem viver de modo
digno e santo em toda a maneira de viver (1 Pe 1.15).
4.
Amar o próximo como a si mesmo.
No mundo atual, sem qualquer ranço
pessimista, pode-se ver que o desamor é a tônica entre muitas pessoas, entre
países, entre famílias e até entre cristãos. O próximo é aquele que faz o bem a
quem está a seu alcance, como o samaritano, que cuidou do viajante, estrangeiro
e caído à beira do caminho (Lc 10.30-37). O individualismo e o egoísmo humanos
têm dificultado e até impedido gestos de amor ao próximo. Mas quem é o próximo?
b) O próximo é nosso familiar.
Na prática, no dia a dia,
parece que é mais fácil fazer o bem a quem está bem longe. Nos lares, é comum
os pais não terem gestos de afeto e carinho para com seus filhos; e os filhos
dificilmente demonstram afeto a seus pais por falta de exemplo dos genitores.
Em geral, os maridos têm dificuldade de demonstrar amor por suas esposas, e
estas, aos esposos. Mas, se amamos a nós mesmos, como cristãos, devemos tomar
esse amor próprio como referência para amar aqueles que nos são caros e que estão
ao nosso redor. Talvez a maior demonstração de amor pelos familiares é falar do
amor de Deus para os que não são cristãos.
Há uma promessa gloriosa para
quem tem Jesus, que é a de ver a salvação de toda a sua família (At 16.31). Em
muitos casos, porém, a falta de amor entre os parentes, primos, sobrinhos e
irmãos carnais tem contribuído para que muitos não sejam motivados a aceitar a
Cristo como Salvador. Por isso, é necessário demonstrarmos amor aos nossos
parentes, que são nossos próximos mais próximos. É um mandamento bíblico: “Vós,
maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela” (Ef 5.25).
As mulheres devem amar seus
maridos e a seus filhos (Tt 2.4b). Em consequência, os pais devem amar os
filhos, e estes a seus pais. O amor no lar fecha todas as brechas para o
adversário da família.
b) O próximo é nosso irmão em Cristo.
Na igreja local, temos uma oportunidade
grande de exercitar o amor por nossos irmãos de fé. É necessário demonstrar
amor uns pelos outros. Jesus disse: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis
uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros” (Jo 13.34,35). É um tremendo desafio ser discípulo de Jesus. O amor aos
irmãos é a “marca do cristão” perante Deus e perante os de fora.
Amar de forma fingida,
parcial e com engano não é amar como nos ama Cristo. É amar de todo o coração.
Diz Pedro: “Purificando a vossa alma na obediência à verdade, para amor
fraternal, não fingido, amai-vos ardentemente uns aos outros, com um coração
puro” (1 Pe 1.22).
c)
O próximo é nosso vizinho de rua ou de prédio.
Quando dirigi a Secretaria de
Missões, pude verificar que há pessoas que estão dispostas a ir ao Japão, à
China ou à Europa para serem missionárias, mas não querem sequer dar um bom-dia
para o vizinho. São pessoas que nunca se esforçaram para falar da Palavra de
Deus para o vizinho da rua ou do apartamento do prédio onde moram. Mas eles
estão ali, bem próximos. E, se não ouvirem falar do amor de Deus, irão para o
Inferno. E a palavra de Deus exorta: “Livra os que estão destinados à morte e
salva os que são levados para a matança, se os puderes retirar” (Pv 24.11).
d)
O próximo é o colega ou o professor da escola.
Numa determinada faculdade de
Medicina, uma jovem, membro de uma igreja evangélica, passou os seis anos do
curso estudando, porém nunca se apresentou como cristã. Ela, no entanto, sempre
estava presente nos cultos, participava dos trabalhos da igreja local e até
mesmo da evangelização. Em sua escola, todavia, fazia questão de ficar oculta
quanto à sua fé. Era a luz debaixo do alqueire. Entretanto, ao final do curso,
fez parte da comissão organizadora das solenidades de formatura, que incluíam a
realização de uma missa e, também, de um culto, pois havia mais algumas alunas
evangélicas. Quando ela foi entregar o convite pessoal para uma das
professoras, uma médica, essa disse à jovem: “Você é crente? Como nunca falou
de Deus para mim? Estou passando grandes tribulações na minha vida e preciso
que alguém me fale de Deus! E você ficou aí calada esse tempo todo? Preciso ir
a uma igreja!”. A jovem ficou sem palavras. A surpresa da professora feriu-lhe
o coração e a alma. Um remorso tomou conta do seu ser. Ela pediu desculpas, mas
disse que, se quisesse, poderia recebê-la na igreja onde ela congregava. E,
para sua alegria, a professora dirigiu-se à igreja e lá aceitou a Cristo como
Salvador. A jovem era próxima, mas não se motivou a fazer nada enquanto
estudava na faculdade.
e) O próximo é o colega de trabalho.
Hoje, graças a Deus, é
difícil haver uma repartição municipal, estadual ou federal em que não haja
diversos cristãos trabalhando ali. Da mesma forma, em muitas empresas e
organizações, em escolas e universidades, há muitos crentes em Jesus, e as
pessoas incrédulas estão ali, famintas e sedentas de Deus, de paz e de
salvação. No meio do ambiente de trabalho, há dezenas de pessoas, vítimas do
vício, das drogas e da prostituição.
A maioria delas jamais
adentrará pelas portas de uma igreja evangélica. Essas pessoas estão feridas,
caídas à beira do caminho. Quem é o seu próximo? Quem vai ajudá-las a sair da
perdição e ser saradas das feridas espirituais? As atrizes das novelas? Os
atores de cinema? Os políticos? Certamente, não. Se houver o amor ao próximo no
coração dos cristãos, estes haverão de falar do amor de Deus aos colegas de
trabalho, e alguns, ainda que poucos, haverão de encontrar a salvação em Cristo
Jesus. Ele mandou pregar a toda criatura (Mc 16.15).
f) O próximo é o carente ou excluído
social.
No mundo, as economias crescem
e também se desenvolvem graças à chamada globalização, em que se maximizam os
lucros através da diminuição dos custos pela utilização da tecnologia avançada
ao lado do uso exploratório de mão de obra barata nos países emergentes. A vida
de milhões de pessoas melhorou graças a maior produção de bens e de
oportunidades de trabalho. Porém, ainda há muitos milhões de excluídos dos
resultados econômicos; há muitos pobres e miseráveis que não têm sequer o
mínimo de calorias para manter uma vida saudável por comerem somente uma vez
por dia. Eles estão por aí, na periferia das cidades e metrópoles — e alguns
são evangélicos. E, pasmemos, há igrejas onde o luxo é tão grande que os
miseráveis não conseguem entrar — e nem são bem recebidos quando entram. São
igrejas da “classe A”! Um pastor disse-me que, numa igreja, quando um pobre vai
à frente, seu nome sequer é anotado. É aconselhado a procurar uma igreja mais
próxima de sua casa e que tenha pessoas do seu nível social. Nessas igrejas, o
carpinteiro de Nazaré talvez se sentisse pouco à vontade.
Para os excluídos, não
adianta pregar apenas com palavras. É necessário demonstrar amor por eles
falando e agindo, pregando e dando o pão cotidiano, assistindo, dando o peixe
e, mais que isso, ensinando a pescar, para que experimentem algum tipo de
ascensão social (Tg 2.14-17).
5. A Mordomia da Fé Cristã.
A palavra fé (gr. pisteuõ; lat. Fides) é “a confiança que
depositamos em todas as providências de Deus. É a crença de que ele está no
comando de tudo, e que é capaz de manter as leis que estabeleceu. É a convicção de que a sua
palavra é a verdade”. A melhor definição de fé é enunciada pelo autor do livro
aos Hebreus, que recebeu uma profunda inspiração para a descrição dessa virtude
cristã: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das
coisas que se não veem” (Hb 11.1).
Nessa definição, vemos três elementos
essenciais à fé:
1. Ela é fundamento ou base
para a confiança em Deus;
2. Ela envolve a esperança ou
expectativa segura do que se espera da parte de Deus;
3. Ela é “a prova das coisas
que não se veem”, mas são esperadas, ou significa convicção antecipada.
O dom da fé tem lugar
especial na mordomia cristã. É a capacidade concedida pelo Espírito Santo para
o crente realizar coisas que transcendem à esfera natural, visando o benefício
e a edificação da igreja. O dom da fé “pode ser considerado como um dom
especial da fé para uma necessidade particular. Alguns o definem como ‘a fé que
remove montanhas’, trazendo manifestações incomuns ou extraordinárias do poder
de Deus”. Esse dom é concedido num momento especial, quando só um milagre
resolve algo que não tem solução no meio da igreja ou na vida de um servo de
Deus que atende a seus propósitos. Esse dom da fé não se desenvolve, mas é
concedido, em ocasiões especiais, para a resolução de algum problema insolúvel
aos meios normais, racionais ou naturais, sendo somente dado àquele que já tem
fé em Deus e em sua promessas. “Esse dom opera também em conjunto com vários
outros dons”.
6. A Fé como Patrimônio Espiritual.
A fé cristã é o depósito
espiritual, acumulado durante toda a vida cristã. Seu valor é inestimável em
termos humanos ou materiais. Sem dúvida, a fé tem sentido espiritual profundo naquilo
que o crente deve guardar para não perder a sua “coroa” (Ap 3.11).
Paulo, antevendo o final de
sua vida, serenamente esperou a morte com resignação e coragem. Ao escrever
para seu jovem discípulo, Timóteo, disse: “Combati o bom combate, acabei a
carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a
qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também
a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.7,8).
O apóstolo dos gentios tinha
convicção de que todas as lutas pelas quais passara, em meio a tribulações
diversas, nas perseguições que sofrera, tanto dos judeus quanto dos “falsos
irmãos”, bem como as enfermidades que lhe acometeram, a ingratidão de tantos a
quem ajudou, o desprezo de alguns, tudo isso lhe assegurou experiências
especiais com Cristo para que chegasse ao fim da jornada cristã, não como
derrotado, frustrado ou decepcionado. Pelo contrário, como um vencedor, um
campeão da fé. Ele sentiu-se um vencedor não de um combate qualquer, mas do
“bom combate”, ou nobre (gr. kalon) combate,
tomando esse termo como uma metáfora emprestada das competições nos esportes,
que ele bem conhecia, ou dos combates militares, que lhe eram bem familiares.
Ou seja, ele não combatera de qualquer forma, mas de maneira legítima e nobre.
Ele exortou Timóteo a lutar e
a sofrer a seu lado no grande combate pela fé cristã. “Sofre, pois, comigo, as
aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com
negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. E, se
alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente” (2 Tm 2.3-5).
Se houve alguém que lutou de forma aguerrida o combate cristão, esse alguém foi
Paulo. Em seu “cântico de vitória”, descrevendo lutas, vicissitudes e
obstáculos, ele declarou de forma solene: “Mas em todas estas coisas somos mais
do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte,
nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o
presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor!” (Rm 8.37-39). Nos seus últimos dias, Paulo confirmou perante Timóteo e
os irmãos em Cristo que estava consciente de que combatera o bom combate, acabara a
carreira e guardara “a fé” (2 Tm 4.7,8). Ele foi um mordomo fiel e sabia que
seria galardoado por Deus com “a coroa da justiça”.
III – A MORDOMIA DOS BENS MATERIAIS
Aos ímpios, que ignoram a
Deus, Ele permite que adquiram e possuam bens materiais, mas a seus servos, que
nEle confiam, não apenas permite, como também lhes dá, como bênçãos a serem
desfrutadas na vida terrena. Diz Davi: “Porque quem sou eu, e quem é o meu
povo, que tivéssemos poder para tão voluntariamente dar semelhantes coisas?
Porque tudo vem de ti, e da tua mão to damos” (1 Cr 29.14).
1.
O Cristão e as Finanças.
Em sua mordomia dos bens
materiais, o cristão deve trabalhar para ganhar o dinheiro para sua
sobrevivência com trabalho honesto. Não deve aceitar trabalhar em lugares que
incentivam o pecado ou ganhos ilícitos e corruptos. A ética bíblica orienta-nos
que devemos trabalhar com afinco. Desde o Gênesis, após a Queda, vemos que o homem
deve empregar esforço para obter os bens de que necessita. Disse Deus: “No suor
do teu rosto, comerás o teu pão [...]” (Gn 3.19 a). O apóstolo Paulo escreveu,
dizendo: “Porque bem vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; pois,
trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, vos pregamos
o evangelho de Deus” (1 Ts 2.9). “E procureis viver quietos, e tratar dos
vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo
temos mandado” (1 Ts 4.11). Esse texto, tomando o exemplo do apóstolo,
orienta-nos que devemos trabalhar de modo diuturno, “para não sermos pesados” a
ninguém. A preguiça é um pecado intolerável aos olhos de Deus. O Senhor exorta
o preguiçoso a aprender com as formigas, que trabalham no verão para ter
mantimento no inverno (Pv 6.6,9; 10.26 e ref.).
2. O Cristão e as Riquezas.
Deus não demoniza a riqueza
nem diviniza a pobreza. A mordomia cristã, porém, deve levar o crente a viver
de forma honesta, sem ambições exageradas, sem avareza e cobiça de coisas materiais.
O cristão não deve recorrer a meios ou práticas ilícitas para ganhar dinheiro
através do jogo, do bingo, da rifa, das loterias e de outras formas “fáceis” de
buscar riquezas. Em Provérbios, lemos: “O homem fiel abundará em bênçãos, mas o
que se apressa a enriquecer não ficará sem castigo” (Pv 28.20). O cristão
também não deve frequentar casas de jogos, como cassinos e assemelhados. Esses
ambientes estão sempre associados a outros tipos de práticas desonestas, como
prostituição e drogas.
Avareza é o amor ao dinheiro.
Uma compulsão para enriquecer a qualquer custo. É uma escravidão ao vil metal.
Diz a Bíblia: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e
nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas
dores” (1 Tm 6.10). Deus não condena a riqueza em si, mas a ambição, a cobiça e
a avareza. Abraão era um homem muito rico; Jó era riquíssimo, tanto antes
quanto depois de sua provação (Jó 1.3,10); Davi, Salomão e outros reis
acumularam muitas riquezas, e nenhum deles foi condenado por isso. O que Deus
condena é a ganância, a ambição desenfreada por riquezas (cf. Pv 28.20).
Jesus
asseverou:
“E disse-lhes: Acautelai-vos
e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância
do que possui” (Lc 12.15). Na Parábola do rico insensato, Jesus censurou a
ambição por riquezas. “Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua
alma, e o que tens preparado para quem será? Assim é aquele que para si ajunta
tesouros e não é rico para com Deus” (Lc 12.20,21). A mordomia cristã
desenvolve-se quando damos prioridade às riquezas espirituais, que não são
privilégios dos ricos desse mundo, mas de todos os que se voltam para Deus,
valorizando os bens espirituais.
Jesus
disse: “Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a
ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam” (Mt 6.20).
3.
O Cristão e a Contribuição para a Igreja.
A mordomia cristã reconhece
que a Igreja do Senhor, no seu aspecto organizacional, necessita de recursos
financeiros. As igrejas cristãs não devem ter suas necessidades materiais
financiadas por governos ou qualquer outra fonte que não esteja definida na
Palavra de Deus. Um velho pastor dizia: “O dinheiro de Deus está no bolso dos
crentes”. De fato, no que tange à parte material, Deus mantém sua igreja por
meio dos recursos que Ele mesmo concede a seus servos. Na igreja, há várias
maneiras pelas quais o cristão pode e deve contribuir de modo positivo e
abençoado, contribuindo, assim, para o engrandecimento e manutenção da Obra do
Senhor.
4. Contribuindo com os recursos que Deus
confia a seu povo.
Considerando que tudo o que
temos vem de Deus, desde a vida, o corpo, a saúde, os talentos, o tempo, as
oportunidades e tudo o que é bom para nosso viver digno, devemos contribuir
para a Igreja, basicamente, das seguintes formas: contribuindo com recursos
financeiros, através da entrega dos dízimos, como requerimento de Deus a seu
povo, para manutenção de sua casa (cf. Ml 3.8-12) e contribuindo com “ofertas
alçadas” ou contribuições voluntárias para as necessidades da obra do Senhor.
No Novo Testamento, o dízimo
não foi abolido. Jesus, porém, trouxe a maneira correta da entrega dos dízimos.
Jesus repreendeu os fariseus, que entregavam os dízimos das coisas pequenas,
mas esqueciam-se do mais importante da Lei: “o juízo, a misericórdia e a fé”.
Diante dessa distorção, Jesus mandou fazer a entrega dos dízimos sem deixar de
cumprir o mais importante da Lei.
No Antigo Testamento, o
dízimo era para sustento dos sacerdotes e levitas. E hoje, será que não há mais
essa necessidade? Claro que sim. Os obreiros que vivem do evangelho em tempo
integral precisam ser mantidos pelo evangelho. Diz Paulo: “Não sabeis vós que
os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que estão
de contínuo estão junto ao altar participam do altar? Assim ordenou também o
Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 9.13). O
dízimo era para ajudar os órfãos e as viúvas. Hoje, da mesma forma, há muitos necessitados
nas igrejas, e estes não podem viver de esmolas. O salmista disse: “Fui moço e
agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a
mendigar o pão” (Sl 37.25). No Novo Testamento, cuidar dos órfãos e das viúvas
é “a verdadeira religião” (Tg 1.27). Diante dessa fundamentação bíblica, a
mordomia do dízimo é de indispensável importância na vida da igreja. O ensino
do dízimo deve ser ministrado de forma clara e estar fundamentado na Palavra de
Deus, estimulando, assim, a prática saudável da entrega dos dízimos na Casa do
Senhor.
5. Doando-nos para a obra do Senhor.
Além de nossa contribuição financeira
para a igreja do Senhor, devemos ofertar a nós mesmos, doando-nos conforme
nossas capacidades para fazer algum trabalho na igreja local.
6.
O Cristão e as Finanças no Lar e no Trabalho.
Grande parte das pessoas não
sabe exercer a mordomia das finanças no lar e no trabalho. Há crentes que vivem
em dificuldade financeira, devendo empréstimos ou adiantamentos de salário,
porque não sabem cuidar das finanças no seu lar. Gastam além de suas rendas,
muitas vezes, deixando de pagar os compromissos, causando escândalo ao bom nome
do evangelho. Dívidas contribuem para o desgaste no casamento e na família,
levando muitos a tornarem-se devedores contínuos, dependentes de empréstimos
que não conseguem pagar. A Palavra de Deus, todavia, tem orientações práticas quanto
à administração dos recursos financeiros. Paulo ensina o equilíbrio no trato
com os bens materiais. “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a
contentar-me com o que tenho” (Fp 4.11).