Imagine
a cena: uma bela família reunida à mesa de um restaurante. Provavelmente para
celebrar alguma data especial, quebrar a rotina familiar ou simplesmente
fazerem uma refeição juntos, desfrutando de um momento de comunhão. Sentados
lado a lado, mas cada um com a cabeça abaixada, imersa em seu smartphone,
tablet ou brinquedo eletrônico, no caso do bebé. Isso mesmo, pai, mãe, filhos e
até o bebé com seus gadgets - tão próximos geograficamente, mas ao mesmo tempo
tão distantes.
O
caso não é ilustrativo, ao contrário, é verídico e cada vez mais comum de ser
observado. Você mesmo diversas vezes já deve ter testemunhado situação
semelhante. Fato que fomenta o recorrente debate sobre este tempo: a tecnologia
aproxima ou afasta as pessoas?
É
intrigante como ferramentas criadas para facilitarem a comunicação podem se
tornar grandes obstáculos para a mesma. Facilitadores virtuais, mas também
barreiras para relações interpessoais. Segundo alguns especialistas e
estudiosos sobre a influência tecnológica nas relações e reações humanas, os
celulares, assim como outros meios tecnológicos tendem a nos aproximarem dos
que estão longe, em contrapartida, nos afastam dos que estão perto.
Ou seja, na maioria dos
casos, estar na presença de um celular ou outro gadget significa não estar 100%
nesse lugar. Você pode estar ali, mas não inteiro, pois sua mente e atenção
estarão divididos.
O mesmo confirma os dados de
pesquisa internacional, publicados pelo jornal O Dia: entre mais de duas mil
pessoas entrevistadas, 89% consideram que o uso inoportuno dos smartphones e
tablets, além de irritante, prejudicam o relacionamento. Para elas, as
tecnologias, as redes sociais, por exemplo, de fato aproximam parentes e amigos
que moram em locais distantes. Porém, as constantes checadas nos aparelhos
portáteis esfriam e desgastam as relações 'ao vivo', pessoalmente. A cada dez
entrevistados, nove .afirmaram que pelo menos uma vez durante a semana amigos
ou parentes se distraíram da conversa por estarem checando suas notificações no
Facebook e mensagens no Whats app, dois dos aplicativos mais usados no mundo.
Dentre os participantes do estudo ainda, 25% admitiram já terem tido sérios
atritos com pessoas próximas por causa disso. Outros recentes estudos da Universidade
de Essex, na Inglaterra, sobre em que grau a simples presença de aparelhos
tecnológicos afetam as conversas face a face, levaram à conclusão de que o
"celular é uma má companhia".
Os especialistas dividiram
um grupo de 74 participantes em duplas. Metade das duplas conversou com um
celular à vista, em uma mesa próxima, já a outra metade sem a presença dele.
Para o experimento todos tinham que conversar por 10 minutos sobre algo
interessante que já tinham vivido. As duplas que se conheceram sem a presença
de um celular relataram maior proximidade e uma melhor qualidade na relação do
que aquelas que conversaram com um celular próximo. Através dos resultados
deste, dentre outros experimentos realizados, os pesquisadores constataram que
as pessoas compartilham mais coisas pessoais, se conectam mais umas com as
outras, quando não há um celular por perto.
O estudo feito por Andrew K.
Przybylski e Netta Weinstein, publicado no "lhe Journal of Social and
Personal Relationships" afirma: "A evidência dos experimentos indica
que a simples presença de telefones celulares inibe o desenvolvimento da
proximidade e confiança interpessoais, e reduz os níveis de empatia e
compreensão das duplas". Isso sem nem mesmo as pessoas terem manuseado o
aparelho. Imagine quando o fazem!
Pensando em alertar ao
público sobre o quanto esse pequeno aparelho pode impor grandes distâncias
entre as pessoas, um restaurante em Los Angeles, EUA, teve uma bela iniciativa.
Se seus clientes não usarem o celular durante a refeição, ganham 5% de
desconto. A participação, claro, não é obrigatória, e sim voluntária. Aí você
pode pensar: quem não iria querer desconto?! Mas pasmem, segundo uma reportagem
recente do "Huffington Post", seis em cada dez clientes rejeitam a
oferta. Não querem, ou não conseguem ficar por um breve período acompanhados somente
das pessoas que, de fato, estão com eles. Assustador não é mesmo?
No entanto, outros
levantamentos também constatam a utilidade da tecnologia para aproximação. E o
caso do estudo sobre hábitos de usos na internet realizada pelo centro de
pesquisas Pew, nos Estados Unidos. Dentre os 2.252 adultos entrevistados, cerca
de 21% dos casados ou em relacionamentos sérios disseram se sentirem mais
próximos do cônjuge, noivo (a) ou namorado (a) graças às mensagens trocadas
pelo celular. E muitos alegaram ainda que já conseguiram resolver discussões
sérias online, que tiveram dificuldades em solucionar pessoalmente.
Contudo, essa pesquisa
também demonstrou que a tecnologia também pode ser uma fonte de tensão,
especialmente para alguns casais. Dentre os casados ou em relacionamentos
sérios, 25% alegaram que seu cônjuge se distrai com algum aparelho eletrônico
quando os dois estão juntos. E 8% disseram ter precisado discutir com o mesmo
sobre o tempo passado online. "A tecnologia está em toda parte e nossas relações
não são uma exceção. Ferramentas como os telefones celulares e as redes sociais
estão disponíveis - para os casais jovens, desde o começo - e podem desempenhar
um papel para o bem e para o mal, depende de como cada um administra",
disse Amanda Lenhart, autora do relatório e pesquisadora do Pew.
É exatamente sobre o modo
como utilizamos a tecnologia que devemos repensar. Afinal, a tendência
universal é que ela se expanda cada vez mais e esteja assim proporcionalmente
mais presente na nossa rotina diária. Portanto, impedir seu avanço ou seu uso,
além de impossível, não é o caminho correto. Mas sim dosá-lo, criar limites e
regras saudáveis para que a sua aplicação seja benéfica tanto na área
relacional - com respeito à genuína comunhão com o próximo — quanto no âmbito
profissional e até mesmo ministerial, pois bem aplicada a tecnologia se torna
uma excelente ferramenta para propagação do Evangelho e edificação da Igreja.
ESTABELECER AS PRÓPRIAS REGRAS
Cabe a cada um estabelecer
as próprias regras, de acordo com o ritmo e necessidade individual ou coletiva
de sua família. No entanto, no geral algumas se aplicam muito bem, tais como:
desligar (não só colocar no silencioso) o celular durante os cultos, aulas,
reuniões importantes; Quando acordar tentar, como exercício contra a
dependência, não fazer nada além no celular, que não seja desligar c
despertador — afim de que o set primeiro contato do dia não seja com uma
máquina, mas com uma pessoa; Após ter dado notícias de onde se está a quem é de
direito, esquecê-lo na bois; quando estiver com amigos familiares,
evangelizando ou prestando aconselhamento; No trabalho, cinema, teatro ou outra
atividade de lazer com a família abuse do modo silencioso; Na rua, só checar
notificações e mensagens se não estiver em movimento e em local seguro evitando
assim roubos ou possíveis acidentes causados pela distração; Nunca levar nenhum
gadget para a mesa, porque além da refeição, o momento a companhia também se
tornar muito mais saborosos.