Is
6.8,9 “Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem
há de ir por nós? Então, disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim . Então, disse
ele: Vai e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em
verdade, mas não percebeis.”
I. O LUGAR DOS PROFETAS NA HISTÓRIA
DE HEBREUS.
1. Os profetas do
AT eram homens de Deus.
Os
profetas do AT eram homens de Deus que, espiritualmente, achavam-se muito acima
de seus contemporâneos. Nenhuma categoria, em toda a literatura, apresenta um
quadro mais dramático do que os profetas do AT. Os sacerdotes, juízes, reis,
conselheiros
e os salmistas, tinham cada um, lugar distintivo na história de Israel, mas
nenhum deles, logrou alcançar a estatura dos profetas, nem chegou a exercer
tanta influência na história da redenção.
LEIA
TAMBÉM:
(2) Os profetas
exerceram considerável influência.
Os
profetas exerceram considerável influência sobre a composição do Antigo Testamento.
Tal fato fica evidente na divisão tríplice da Bíblia hebraica: a Torá, os Profetas
e os Escritos (cf. Lc 24.44).
A
categoria dos profetas inclui seis livros históricos, compostos sob a
perspectiva profética: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis. É provável que
os autores desses livros fossem profetas. Em segundo lugar, há dezessete livros
proféticos específicos (Isaías até Malaquias). Finalmente, Moisés, autor dos
cinco primeiros livros da Bíblia (a Torá), era profeta (Dt 18.15). Sendo assim,
dois terços do AT, no mínimo, foram escritos por profetas.
II. PALAVRAS HEBRAICAS APLICADAS
AOS PROFETAS.
1. Ro’eh.
Este
substantivo, traduzido por “vidente”, em português, indica a capacidade
especial de se ver na dimensão espiritual e prever eventos futuros.
O
título sugere que o profeta não era enganado pela aparência das coisas, mas que
as via conforme realmente eram — da perspectiva do próprio Deus. Como vidente,
o profeta recebia sonhos, visões e revelações, da parte de Deus, que o
capacitava a transmitir suas realidades ao povo.
2. Nabi’.
(a)
Esta é a principal palavra hebraica para “profeta”, e ocorre 316 vezes no AT.
Nabi’im é sua forma no plural. Embora a origem da palavra não seja clara, o
significado do verbo hebraico “profetizar” é: “emitir palavras abundantemente
da parte de Deus, por meio do Espírito de Deus” (Gesenius, Hebrew Lexicon).
Sendo assim, o nabi’ era o porta-voz que emitia palavras sob o poder
impulsionador do Espírito de Deus.
A
palavra grega prophetes, da qual se deriva a palavra “profeta” em português,
significa “aquele que fala em lugar de outrem”. Os profetas falavam, em lugar
de Deus, ao povo do concerto, baseados naquilo que ouviam, viam e recebiam da
parte dEle.
(b)
No AT, o profeta também era conhecido como “homem de Deus” (ver 2Rs 4.21 nota),
“servo de Deus” (cf. Is 20.3; Dn 6.20), homem que tem o Espírito de Deus sobre si
(cf. Is 61.1-3), “atalaia” (Ez 3.17), e “mensageiro do Senhor” (Ag 1.13). Os
profetas também interpretavam sonhos (e.g., José, Daniel) e interpretavam a
história — presente e futura — sob a perspectiva divina.
III. HOMENS DO ESPÍRITO E DA PALAVRA.
O
profeta não era simplesmente um líder religioso, mas alguém possuído pelo
Espírito de Deus (Ez 37.1,4). Pelo fato do Espírito e a Palavra estarem nele, o
profeta do AT possuía estas três características:
1. Conhecimentos
divinamente revelados.
Ele
recebia conhecimentos da parte de Deus no tocante às pessoas, aos eventos e à
verdade redentora. O propósito primacial de tais conhecimentos era encorajar o povo
a permanecer fiel a Deus e ao seu concerto.
A
característica distintiva da profecia, no AT, era tornar clara a vontade de
Deus ao povo mediante a instrução, a correção e a advertência. O Senhor usava
os profetas para pronunciarem o seu juízo antes de este ser desferido. Do solo
da história sombria de Israel e de Judá, brotaram profecias específicas a respeito
do Messias e do reino de Deus, bem como predições sobre os eventos mundiais que
ainda estão por ocorrer.
2. Poderes
divinamente outorgados.
Os
profetas eram levados à esfera dos milagres à medida que recebiam a plenitude
do Espírito de Deus. Através dos profetas, a vida e o poder divinos eram
demonstrados de modo sobrenatural diante de um mundo que, doutra forma, se
fecharia à dimensão divina.
3. Estilo de vida
característico.
Os
profetas, na sua maioria, abandonaram as atividades corriqueiras da vida a fim
de viverem exclusivamente para Deus. Protestavam intensamente contra a
idolatria, a imoralidade e iniquidades cometidas pelo povo, bem como a
corrupção praticada pelos reis e sacerdotes.
Suas
atividades visavam mudanças santas e justas em Israel. Suas investidas eram
sempre em favor do reino de Deus e de sua justiça. Lutavam pelo cumprimento da
vontade divina, sem levar em conta os riscos pessoais.
IV. OITO CARACTERÍSTICAS DO PROFETA
DO ANTIGO TESTAMENTO.
Que
tipo de pessoa era o profeta do Antigo Testamento?
1.
Era alguém que tinha estreito relacionamento com Deus, e que se tornava confidente
do Senhor (Am 3.7). O profeta via o mundo e o povo do concerto sob a
perspectiva divina, e não segundo o ponto de vista humano.
2.
O profeta, por estar próximo de Deus, achava-se em harmonia com Deus, e em
simpatia com aquilo que Ele sofria por
causa dos pecados do povo. Compreendia, melhor que qualquer outra pessoa, o
propósito, vontade e desejos de Deus.
Experimentava as mesmas reações de Deus. Noutras palavras, o profeta não somente ouvia a voz de Deus, como também
sentia o seu coração (Jr 6.11; 15.16,17; 20.9).
3.
À semelhança de Deus, o profeta amava profundamente o povo. Quando o povo
sofria, o profeta sentia profundas dores.
Ele
almejava para Israel o melhor da parte de
Deus (Ez 18.23). Por isso, suas mensagens continham, não somente advertências,
como também palavras de esperança e
consolo.
4.
O profeta buscava o sumo bem do povo, i.e., total confiança em Deus e lealdade
a Ele; eis porque advertia contra a
confiança na sabedoria, riqueza e poder humanos, e nos falsos deuses (Jr
8.9,10; Os 10.13,14; Am 6.8).
Os
profetas continuamente conclamavam o povo a viver à altura de suas obrigações conforme
o seu concerto estabelecido com Deus, para que viesse a receber as bênçãos da
redenção.
5.
O profeta tinha profunda sensibilidade diante do pecado e do mal (Jr 2.12,13,
19; 25.3-7; Am 8.4-7; Mq 3.8). Não tolerava a crueldade, a imoralidade e a
injustiça. O que o povo considerava leve desvio da Lei de Deus, o profeta
interpretava, às vezes, como funesto. Não podia suportar transigência com o
mal, complacência, fingimento e desculpas do povo (32.11; Jr 6.20; 7.8-15; Am
4.1; 6.1). Compartilhava, mais que qualquer outra pessoa, do amor divino à
retidão, e do ódio que o Senhor tem à iniquidade (cf. Hb 1.9).
6.
O profeta desafiava constantemente a santidade superficial e oca do povo,
procurando desesperadamente encorajar a obediência sincera às palavras que Deus
revelara na Lei. Permanecia totalmente dedicado ao Senhor; fugia da
transigência com o mal e requeria fidelidade integral a Deus. Aceitava nada
menos que a plenitude do reino de Deus e a sua justiça, manifestadas no povo de
Deus.
7.
O profeta tinha uma visão do futuro, revelada em condenação e destruição (e.g.,
63.1-6; Jr 11.22,23; 13.15-21; Ez 14.12-21; Am 5.16-20,27, bem como em
restauração e renovação (e.g., 61– 62;
65.17–66.24;
Jr 33; Ez 37).
Os
profetas enunciaram grande número de profecias acerca da vinda do Messias.
8.
Finalmente, o profeta era, via de regra, um homem solitário e triste (Jr 14.17,18;
20.14-18; Am 7.10-13; Jn 3– 4), perseguido pelos falsos profetas que prediziam
paz, prosperidade e segurança para o povo que se achava em pecado diante de
Deus (Jr 15.15; 20.1-6; 26.8-11; Am 5.10; cf. Mt 23.29-36; At 7.51-53).
Ao
mesmo tempo, o profeta verdadeiro era reconhecido como homem de Deus, não
havendo, pois, como ignorar o seu caráter e a sua mensagem.
V. O PROFETA E O SACERDOTE.
Durante
a maior parte da história de Israel, os sacerdotes e profetas, constantemente,
entravam em conflito. O plano de Deus era que houvesse cooperação entre eles,
mas os sacerdotes tendiam a aderir ao liberalismo e deixavam de protestar
contra a decadência do povo de Deus.
(1)
Os sacerdotes muitas vezes concordavam com a situação anormal reinante, e sua
adoração a Deus resumia-se em cerimônias e liturgia. Embora a moralidade
ocupasse um lugar formal na sua teologia, não era enfatizada por eles na
prática.
(2)
O profeta, por outro lado, ressaltava fortemente o modo de vida, à conduta, e
as questões morais.
Repreeendiam
constantemente os que apenas cumpriam com os deveres litúrgicos. Irritava, importunava,
denunciava, e sem apoio humano defendia justas exigências e insistia em aplicar
à vida os
eternos
princípios de Deus.
O
profeta era um ensinador de ética, um reformador moral e um inquietador da consciência
humana. Desmascarava o pecado e a apostasia, procurando sempre despertar o povo
a um viver realmente santo.
VI. A MENSAGEM DOS PROFETAS DO
ANTIGO TESTAMENTO.
A
mensagem dos profetas enfatiza três temas principais:
1. A natureza de
Deus.
(a)
Declaravam ser Deus o Criador e Soberano onipotente do universo (e.g., 40.28),
e o Senhor da história, pois leva os eventos a servirem aos seus supremos
propósitos de salvação e juízo (cf. Is 44.28; 45.1; Am 5.27; Hc 1.6).
(b)
Enfatizavam que Deus é santo reto e justo, e não pode tolerar o pecado, iniquidade
e injustiça. Mas a sua santidade é temperada pela misericórdia. Ele é paciente
e tardio em manifestar a sua ira. Sendo Deus santo, em sua natureza, requer que
seu povo seja consagrado e santo ao SENHOR (Zc 14.20; cf. Is 29.22-24; Jr 2.3).
Como
o Deus que faz concerto, que entrou num relacionamento exclusivo com Israel,
requer que seu povo obedeça aos seus mandamentos, como parte de um compromisso
de relacionamento mútuo.
2. O pecado e o
arrependimento. Os profetas do AT compartilhavam
da tristeza de Deus diante da contínua desobediência, infidelidade, idolatria e
imoralidade de seu povo segundo o concerto. E falavam palavras severas de justo
juízo contra os transgressores.
A
mensagem dos profetas era idêntica a de João Batista e de Cristo: “arrependei-vos,
senão igualmente perecereis”. Prediziam juízos catastróficos, tal como a
destruição de Samaria, pela Assíria (e.g. Os 5.8-12; 9.3-7; 10.6-15), e a de
Jerusalém por Babilônia (e.g., Jr 19.7-15; 32.28-36; Ez 5.5-12; 21.2, 24-27).
3. Predição e
esperança messiânica.
(a)
Embora o povo tenha sido globalmente infiel a Deus e aos seus votos, segundo o
concerto, os profetas jamais deixaram de enunciar-lhe mensagens de esperança.
Sabiam que Deus cumpriria os ditames do concerto e as promessas feitas a Abraão
através de um remanescente fiel.
No
fim, viria o Messias, e através dEle, Deus haveria de ofertar a salvação a
todos os povos.
(b)
Os profetas colocavam-se entre o colapso espiritual de sua geração e a
esperança da era messiânica. Eles tinham de falar a palavra de Deus a um povo
obstinado, que, inexoravelmente rejeitavam a sua mensagem (cf. Is 6.9-13).
Os
profetas eram tanto defensores do antigo concerto, quanto precursores do novo.
Viviam no presente, mas com a alma voltada para o futuro.
VII.OS FALSOS PROFETAS.
Há
numerosas referências no AT aos falsos profetas. Por exemplo: quatrocentos falsos
profetas foram reunidos pelo rei Acabe (2Cr18.4-7); um espírito mentiroso
achava-se na boca deles (2Cr 18.18-22).
Segundo o Antigo Testamento,
o profeta era considerado falso:
(1)
se desviasse as pessoas do Deus verdadeiro
para alguma forma de idolatria (Dt 13.1-5);
(2)
se praticasse adivinhação, astrologia, feitiçaria, bruxaria e coisas
semelhantes (ver Dt 18.10,11);
(3)
se suas profecias contrariassem as Escrituras (Dt 13.1-5);
(4)
se não denunciasse os pecados do povo (Jr 23.9-18); ou
(5)
se predissesse coisas específicas que não cumprissem (Dt 18.20-22). Note que os
profetas, do novo concerto não falavam de modo irrevogável e infalível como os
profetas do AT, que eram a voz primacial de Deus no que dizia respeito a Israel.
No
Novo Testamento, o profeta é apenas um dos cinco dons ministeriais da igreja.
Os
profetas no NT tinham limitações que os profetas do AT desconheciam (cf. 1Co
14.29-33), por causa da natureza multifacetada e interdependente do ministério
nos tempos do NT.
Adaptado dos Escritos de: DONALD C.
STAMPS
Fonte
Original:
Bíblia de Estudo Pentecostal
Editora: CPAD