Se você me perguntar qual o
maior avivamento da história da Igreja Cristã, responder-lhe-ei que é o
pentecostal. Não quero, com a minha resposta, desmerecer a reforma de Lutero,
na Alemanha, ou a iniciativa de John Wesley, na Inglaterra.
Todavia, quando comparo
ambos os movimentos ao pentecostal, vejo-me obrigado a reconhecer que este é
maior e mais abrangente do que aqueles.
Mas reconheço, igualmente,
que sem o labor de Lutero e Wesley, nossos paisfundadores, Daniel Berg e Gunnar
Vingren, nada poderiam ter feito. No Reino de Deus, há uma santa e desejável
interdependência. Todos dependemos de todos. Em meio
a essas considerações, procuremos uma definição de avivamento.
1.
O que é o avivamento.
Quando nos propomos a
definir o avivamento de acordo com a história e a tradição da Igreja Cristã,
deparamo-nos, logo de início, com um incômodo problema de nomenclatura e
semântica. Afinal, a palavra certa é “avivamento” ou “reavivamento”? Costumamos
usá-las invariavelmente; temo-las por sinônimos. Todavia, há uma diferença substancial
entre ambas.
Avivamento diz respeito a um
organismo que, embora não esteja morto, ainda precisa experimentar a vida em
sua plenitude. Foi o caso dos discípulos de Cristo. Antes do Pentecostes, não
estavam mortos; tinham já o Espírito Santo a dirigir-lhes, inclusive, a escolha
do sucessor de Judas Iscariotes. O próprio Jesus já havia assoprado, neles, a
promessa do Consolador: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.22).
Conquanto já vivessem eles como
apóstolos e discípulos de Jesus, não haviam sido avivados, pelo Espírito Santo,
como Igreja de Cristo. Isso só haveria de acontecer no Dia de Pentecostes, em
Jerusalém, conforme o relato de Lucas, no capítulo dois de Atos.
O reavivamento, por seu
turno, concerne à igreja que, em consequência de seus pecados e iniquidades,
morreu organicamente e, agora, já começa a falecer como organização. Haja vista
o ocorrido com a congregação de Sardes, a qual o Senhor Jesus endereça uma
carta sobrecarregada de urgências:
“Conheço as tuas obras, que
tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que
estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença
do meu Deus” (Ap 3.1,2, ARA).
Essa igreja, sim,
necessitava urgentemente de um reavivamento espiritual, porque sobrevivia
apenas no âmbito material. O que a tornava visível era a sua burocracia,
membresia e clero.
Na morte de uma igreja,
desaparece o ministério e surge o clero; os membros do corpo de Cristo fazem-se
logo membresia e clientela; o que era obrigação espiritual desponta, agora,
como burocracia pesada e custosa; o que era esperança cristã transforma-se numa
mera agenda social e política. Uma igreja, nessas condições, precisa, sim, de
um urgente reavivamento.
Portanto, o avivamento coube
à Igreja Cristã que, no dia de Pentecostes, passou a viver na força e no poder
do Espírito Santo. Ela foi avivada e não reavivada, pois não estava morta; apenas
não havia nascido. Quanto ao reavivamento, cabe a igrejas e congregações como a
de Sardes que, apesar de já terem experimentado a vida em Cristo, deixaram-se
morrer espiritual e ministerialmente. Tais rebanhos carecem de um reavivamento
poderoso, para que voltem à vida. Caso contrário, morrerão; logo estarão a
cheirar mal.
Embora haja diferenças entre
os termos “avivamento” e “reavivamento” podemos, teologicamente, usar um pelo
outro, a fim de descrever o movimento do Espírito Santo numa igreja local,
objetivando levá-la a experimentar novamente a vida que somente Jesus Cristo
pode nos dar.
Portanto, o avivamento ou
reavivamento, é a operação sobrenatural do Espírito Santo, na Igreja de Cristo,
cujo principal objetivo é reconduzi-la à sua condição primordial de corpo
espiritual do Filho de Deus. Essa ação do Espírito Santo só é possível por
intermédio destes fatores: retorno à Palavra de Deus, à oração, à santidade, à
comunhão e ao serviço cristão.
2.
O retorno à Palavra de Deus.
Certa tarde, quando me
encontrava internado num hospital do Rio de Janeiro, recebi a visita de um
enfermeiro que, fugindo à rotina, me narrou suas dificuldades num seminário já
bem tradicional e histórico. Em sua primeira aula, disse-me ele, foi seriamente
advertido por um professor: “Aqui, neste seminário, não perderemos tempo com a
leitura da Bíblia nem com oração; aqui só há lugar para uma coisa: o estudo da
teologia”. Até agora não entendi como é possível estudar teologia evangélica
sem as Sagradas Escrituras.
De um seminário como esse,
não se deve esperar avivamento nem reavivamento. Infelizmente, o que antes era
casa de profeta, agora é albergue de hereges, ativistas sociais e seguidores de
Balaão. Aproveitando o ensejo, recomendo aos pastores que mantenham seus institutos
bíblicos e faculdades teológicas sob a tutela do santo ministério. Isso porque,
a teologia, para ser boa e inútil, tem de ser produzida no âmbito da Igreja
Cristã, conforme lemos nos primeiros versículos de Atos capítulo 13. Se assim
agirmos, o avivamento não será apenas desejável, como também possível e
contínuo.
Se não voltarmos
urgentemente à Palavra de Deus não haverá qualquer esperança para o Movimento
Pentecostal no Brasil. Sem o percebermos, fomos substituindo a pregação e o
ensino da Palavra de Deus por extravagâncias: coreografia, teatro, cinema,
shows, misticismos e outras tralhas e modismos. Enquanto isso, aos sermões, às
doutrinas, aos estudos bíblicos e às abençoadas escolas de obreiros reservamos
um tempo sem tempo; os cantinhos das agendas.
É ora de alguém, como
Hilquias, aparecer em nossos arraiais com esta notícia: “Achei o Livro da Lei
na Casa do SENHOR” (2 Cr 34.15). O que me espanta, nessa história, é o fato de
a Palavra do Senhor ter-se perdido justamente na Casa do Senhor. Se no palácio
real, seria compreensível; os documentos eram muitos. E se na intendência, seria
não somente compreensível, mas também desculpável; a burocracia faz perder
qualquer coisa. Mas, na Casa do Senhor, onde a Palavra do Senhor deve ocupar
sempre o primeiro lugar, não podemos nem compreender nem desculpar. Que a Bíblia
Sagrada esteja sempre em primeiro lugar tanto no templo como no santuário de
nossos corações. Nela, o avivamento é possível.
3.
O retorno à oração.
Não posso esquecer-me dos
abençoados cultos de oração na Assembleia de Deus em São Bernardo do Campo, SP.
Ali, todas às quartas-feiras, reuníamo-nos a buscar ao Senhor. Das 19h30 às 21
horas, permanecíamos ajoelhados a clamar pelos mais difíceis e complicados motivos;
a resposta era certa. O interessante é que, passados mais de 40 anos, aquela
querida igreja continua avivada; não perdeu a flama do Cenáculo; sua identidade
pentecostal acha-se inalterada.
Nada
substitui a oração.
Hoje, porém, buscamos
substituí-la por fórmulas mágicas e alienígenas. Supomos que o nosso déficit de
oração pode ter como sucedâneo uma palestra motivacional, uma seção de psicanálise,
uma semana no spa, uma mês na Europa ou uma vida toda a justificar nossos
fracassos e quedas espirituais.
O que dizer daqueles que
substituíram o Espírito Santo por um guru ou por uma pitonisa?
Busquemos ao Senhor enquanto
é tempo. Se não voltarmos à oração e ao jejum não sobreviveremos aos dias
ruins, trabalhosos e sobrecarregados que se escondem nas agendas e calendários
eclesiásticos. Voltemo-nos sem tardança à resposta do Senhor a Salomão na
inauguração do Santo Templo:
Se eu cerrar os
céus de modo que não haja chuva, ou se ordenar aos gafanhotos que consumam a
terra, ou se enviar a peste entre o meu povo; se o meu povo, que se chama pelo
meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus
caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua
terra. (2 Cr 7.13, 14, ARA)
Que os céus, sob muitas
igrejas, já foram cerrados, não há dúvida; ei-las secas e estéreis. Que os
gafanhotos já consomem vinhas e oliveiras, dantes tão produtivas, ninguém pode
esconder; é algo visível e de partir o coração. E que peste do pecado e da
iniquidade espalha-se entre os santos é um fato mais que testemunhal; nunca se
viu tanto joio em meio ao trigo. Se a situação é tão calamitosa, o que fazer? A
resposta vem do próprio Senhor: humilhação, oração e conversão. É urgente
buscar a face de Deus.
4.
O retorno à santidade.
Às vezes, orgulhamo-nos de
ser a maior igreja evangélica da América Latina. De acordo com alguns censos,
já superamos a casa dos 10 milhões de membros. E, de conformidade com outros,
temos em torno de vinte milhões de fiéis do Amapá ao Rio Grande do Sul. Uma
nação dentro da nação. Uma cifra
que supera a demografia de muitos países do mundo. Mas, aqui, não devo discutir
números ou censos; isso não seria nada sensato. O que busco discutir, nessas
linhas que me restam, é a qualidade de toda essa quantidade.
Será que temos sido
realmente santos como requer a Palavra de Deus? O Deus da Palavra ainda está a
exigir de cada um de seus filhos: “Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso
Deus, sou santo.” (Lv 19.22). Perante essa reivindicação divina, não nos resta
alternativa a não ser buscar a santidade e viver em santificação diante de Deus
e dos homens. Sejamos santos na Igreja de Cristo e no mundo que tem por
príncipe ao Diabo; no lar, entre o cônjuge e os filhos, e nas ruas e
logradouros entre desconhecidos que anseiam por conhecer o Evangelho.
Querido pastor, não permita
que seus jovens precipitem-se no inferno. Doutrine-os, na Palavra de Deus, a
fugir da prostituição. Deixe-lhes bem claro que o sexo, antes e fora do casamento,
é pecado. Quanto a você, dê-lhes um exemplo de gravidade e pureza; fuja aos
encontros equívocos com outras mulheres. Ensine às esposas e aos maridos a beleza
da fidelidade; desestimule separações e divórcios. Realce o valor do culto
doméstico e da Escola Dominical.
Exorte o rebanho a vestir-se
com decência, recato e ordem. Por que roupas sensuais? Por que vestes que
espelham a ideologia de gênero? Que os homens vistam-se como homens, e que as
mulheres trajem-se como mulheres. Por que tatuagens e marcas a desmerecer o
nosso corpo? Somos o templo do Espírito Santo?
Devido a demandas
financeiras, alguns pastores e dirigentes de congregações se quer ousam exortar
um dizimista adúltero ou uma ofertante corrupta. Já imaginou apresentar o
próximo relatório sem o dízimo daquele homem e sem a oferta desta mulher? Sob essa
pressão, alguns aceitam até oferendas de sodomitas e meretrizes.
Querido obreiro, não se
enverede por esse caminho. Quem nos faz prosperar é o Senhor; fujamos aos
produtos de roubos e furtos. Nada de dinheiro lavado na casa do
tesouro; perante Deus estará sempre sujo. Antes, recolha com amor e carinho a
contribuição da viúva pobre. Se você agir dessa forma, tanto ela quanto você
serão abençoados.
Na luta pela santidade, ressoa-nos
a exortação do autor da Epístola aos Hebreus: “Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
5.
O valor da comunhão cristã.
Ao encerrar a segunda carta
aos irmãos de Corinto, uma igreja que tinha sérias dificuldades quanto à comunhão
cristã, o apóstolo deixa-lhes esta doce e maravilhosa bênção: “A graça do
Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com
todos vós” (2 Co 13.13, ARA).
A comunhão que, na Terra,
nos mantém unidos ao Céu, é mantida pelo Espírito Santo. Horizontalmente, faz
com que todos os santos sintam-se e comportem-se como irmãos; verticalmente,
leva todos os santos, agora irmãos amados, a regozijarem-se e a conduzirem-se
como filhos do Pai Celeste.
Se às ovelhas é recomendado
viver a comunhão cristã em sua plenitude, o que esperar dos pastores?
Deveríamos nós, obreiros de Cristo, ser modelares quanto à paz, à concórdia e à
cooperação; menos do que isso é inaceitável.
Mas, às vezes,
comportamo-nos como os pastores de Abraão e de Ló. Enquanto as ovelhas
compartilhavam os pastos que já não tinham, os pastores não conseguiam enxergar
a amplidão que os espreitava quer à direita, quer à esquerda.
Por que brigar por um posto no
ministério? Se é Jesus Cristo quem dá obreiros à Igreja, tenhamos paciência; no
momento certo, seremos dados pelo Sumo Pastor ao rebanho certo. Por que altercar-se
pela presidência de um ministério ou de uma convenção? Comporte-se como homem
de Deus. O primeiro lugar nem sempre é conveniente. Às vezes, é a ruína de
nossa alma. Portanto, não se agaste. Se entregue à Obra de Deus, mas não deixe
de prostrar-se ao Deus da obra. Lembremo-nos de que seguir a paz com todos é um
dos requisitos para se entrar no Céu. Eu quero ver o Senhor.
6.
O serviço cristão.
O
verdadeiro avivamento espiritual implica também na retomada do serviço cristão.
Assim se deu com os pais-fundadores do Movimento Pentecostal. Tão logo foram
batizados no Espírito Santo saíram a evangelizar e a fazer missões. Aliás, não
há como desassociar o pentecostalismo da obra missionária; acham-se intimamente
unidos. Portanto, nós, que já passamos pelo Calvário, não deixemos de entrar no
Cenáculo. Avivando-nos, o Senhor quer levar-nos aos confins da Terra. Confiemos
no seu querer. Sim, Jesus, que rogou ao Pai que nos enviasse o Consolador, é a
nossa Páscoa.
Fonte: ANDRADE de.
Claudionor. Adoração, Santidade e Serviço. Os princípios de Deus para a sua
Igreja em Levítico 1ª edição: Abril/2018
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