Há trinta e oito anos, o
pensador norte-americano Charles Malik proferiu um discurso no Billy Graham
Center, que pertence ao campus do Wheaton College, nos Estados Unidos da
América. As palavras de Malik estavam carregadas de um forte tom profético,
pois mesmo tendo-se passado três décadas, continuam ecoando em nossa geração.
Malik advertiu em seu discurso sobre os perigos que o cristianismo enfrentava
ao procurar cuidar somente da alma e esquecer totalmente a mente. Mas, as
palavras de Malik não eram apenas proféticas, eram também apologéticas. Na sua
fala, destacou que o cristianismo tem perdido relevância na cultura ocidental
porque não tem conseguido de forma satisfatória dar respostas intelectualmente
aceitáveis àqueles que o questionam. Citemos uma parte do seu discurso:
“Devo ser franco com vocês: o antiintelectualismo ê o maior perigo que o
cristianismo evangélico enfrenta. A mente, compreendida em suas maiores e mais
profundas faculdades, não tem recebido suficiente atenção. No entanto, a
formação intelectual não ocorre sem uma completa imersão, durante anos, na
historia do pensamento e do espírito. Os que estão com pressa de sair da
universidade e começar a ganhar dinheiro, trabalhar na igreja ou pregar o
evangelho não têm ideia do valor infinito de gastar anos dedicados à
conversação com as maiores mentes e almas do passado, desenvolvendo, afiando e
aumentando o seu poder de pensamento. O resultado é que o terreno do pensamento
criativo é abandonado e entregue ao inimigo. Quem, entre os evangélicos, pode
enfrentar os grandes pensadores seculares em seus próprios termos acadêmicos?
Quem, entre os estudiosos evangélicos, é citado pelas maiores autoridades
seculares como fonte normativa de história, filosofia, psicologia, sociologia
ou política? O modo evangélico de pensar tem uma mínima oportunidade de se
tornar dominante nas grandes universidades da Europa e da América que modelam
toda a nossa civilização com seu espírito e suas ideias? Por uma maior eficácia no testemunho de Jesus
Cristo, bem como em favor de sua causa, os evangélicos não podem se dar ao luxo
de continuarem vivendo na periferia da existência intelectual responsável”.
E já que essas palavras de Malik se revestem de um significado
especial quando sabemos que ele falou para líderes, pastores e formadores de
opinião. Em outras palavras, ele as proferiu para aqueles que no dia a dia veem
a necessidade de fazerem apologias de suas crenças. Elas põem em relevo o fato
de que a nossa fé necessita possuir relevância intelectual no contexto cultural
no qual está inserido.
O mundo mudou e a cultura também. Passamos de uma cultura moderna, fundamentada
nos princípios do movimento iluminista alemão do século 17 e 18 para uma
cultura pós-moderna com raízes lançadas na segunda metade do século 20. Cada um
desses modelos culturais possui sua própria cosmovisão, isto é, sua visão de
mundo. A cosmovisão determina a forma de pensar das pessoas. No primeiro caso,
o movimento iluminista lançou as bases da Modernidade e a sua crença no
racionalismo. Nada podia ser considerado válido se não passasse pelo crivo da
razão. A ciência ganhou status de deus - surgiu o cientificismo.
No segundo caso a
pós-modernidade, movimento surgido nos anos 60 e 70, inverteu o polo das
coisas. Não há mais verdade absoluta, mas somente verdades; a ética deu lugar a
estética; a razão foi substituída pelo sentimento e Deus pelos deuses.
O apologista que se propõe a fazer uma
defesa da fé evangélica no meio desse caldo cultural, mas não
mergulhou profundamente na história da tradição cristã, está desqualificado
intelectualmente para esse combate. J. P. Morelland (2005, p.15,16) revela as
dimensões dessa batalha e a necessidade do apologista cristão estar preparado
intelectualmente para enfrentá-la:
“O cristão comum não percebe que há uma batalha intelectual sendo
travada nas universidades, nas revistas especializadas e nos círculos
profissionais. O naturalismo iluminista e anti-realismo pós-moderno uniram-se
numa aliança profana contra uma cosmovisão amplamente teísta e especificamente
cristã. (...) Os cristãos não podem ficar indiferentes ao resultado dessa luta.
Pois a instituição específica mais importante que forma a cultura ocidental é a
universidade. Nela, futuros líderes políticos, jornalistas, professores,
executivos empresariais, advogados e artistas serão instruídos. E na
universidade que eles formularão ou, ainda mais provável, simplesmente
absorverão a cosmovisão que moldará a vida deles. E como eles são os formadores
de opinião e os líderes que influenciam nossa cultura, a cosmovisão que
assimilarem na universidade será a que formará a cultura. Se a cosmovisão
cristã pudesse ser restabelecida no lugar de destaque e respeito na
universidade, isso teria um efeito de fermentação no meio da sociedade. Se
mudarmos a universidade, mudaremos nossa cultura por intermédio dos que a
moldam. (...) Uma das desafiadora tarefa dos filósofos cristãos é ajudar a
mudar a tendência intelectual contemporânea de tal modo a favorecer um ambiente
socio-cultural onde a fé cristã possa ser considerada uma opção
intelectualmente aceitável por homens e mulheres esclarecidos.”
Alister
McGrath (2008, p. 16), um dos maiores apologistas
contemporâneos, destaca que “A arte da apologética eficaz é trabalhosa, uma vez
que exige a um só tempo o domínio da tradição cristã, a capacidade de ouvir sem
preconceitos e a disposição de fazer o esforço necessário para expressar ideias
nesse nível, e tudo isso de tal forma que o público possa se beneficiar dele. E
trabalho árduo, mas os resultados justificam o investimento nesse tipo de rigor
intelectual e preocupação pastoral”.
Por
outro lado, o apologista não pode alimentar apenas o intelecto, ele
necessita alimentar também o espírito. Como bem observou McGrath (2008, p.15),
“o cristianismo deve se distinguir por sua relevância para a vida. E não apenas
por sua racionalidade.” Isso será feito com um conhecimento profundo das
verdades reveladas nas Sagradas Escrituras. E de causar espanto quando ficamos
sabendo que o reformador suíço Ulrich Zuínglio (1484-1531) decorou todas as
cartas de Paulo em grego, sendo capaz de copiá-las na íntegra, e muitos dos
nossos “teólogos” contemporâneos nem mesmo leram a Bíblia toda. Alguns conhecem
superficialmente as línguas bíblicas e as citam de forma imprecisa.
Não esqueçamos as palavras
bíblicas que nos alertam para a necessidade de estarmos preparados bíblica e
intelectualmente na defesa da nossa fé: “antes, santificai a Cristo, como
Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão
e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe
3.15).
Fonte: Jornal Mensageiro da Paz, Novembro de 2010 | Artigo:
Pr. José Gonçalves
🔥
Lições Bíblicas Adultos – Clique Aqui
🔥
Lições Bíblicas Jovens – Clique Aqui
🔥
Lições Bíblicas Adolescentes – Clique Aqui
🔥
Auxílios para Professores da Escola Dominical – Clique Aqui
📚 Curso
de Formação de Professores da Escola Dominical
- Clique Aqui