I. Neemias, o Autor
Tudo quanto sabemos acerca de Neemias, cujo nome, em hebraico, significa “Yahweh consola”, pode ser derivado do livro que tem o seu nome, bem como de algumas tradições que circundam a sua carreira. Não é dada a sua genealogia, mas é dito que ele era filho de Hacalias (Nee. 1.1) e tinha um irmão de nome Hanani (Nee. 7.2).
Neemias
foi enviado com uma escolta de cavalaria e munido de cartas, da parte do rei,
endereçadas a diversos sátrapas das províncias pelas quais ele teria de passar.
Uma dessas missivas era para Asafe, que cuidava das florestas do rei, e que
recebeu ordens para suprir a madeira necessária para Neemias, em sua tarefa de
reconstrução. Neemias prometeu ao rei que voltaria, terminada a sua tarefa (ver
Nee. 2.1-10).
Chegando
a Jerusalém, Neemias realizou a
notável tarefa de restaurar as muralhas de Jerusalém no breve espaço de cinquenta
e dois dias (Nee. 6.15). Naturalmente, Neemias encontrou quem lhe fizesse
oposição, aqueles que não queriam que Judá se reerguesse. Os principais
adversários foram Sambalate e Tobias. Esses dois chegaram a planejar apelar
para a violência, se necessário fosse, para impedir a reconstrução, e assim os
que reconstruíam a cidade tiveram de fazê-lo armados, a fim de afastar a ameaça
(ver Nee. 4).
Além
das reedificações, Neemias tomou medidas que visavam a reforma, tendo
introduzido a lei e a boa ordem, e restaurado a adoração a Yahweh, em
consonância com as antigas tradições judaicas (ver Nee. 7 e 8). Mas seus
adversários, ao insinuarem que Neemias queria tornar-se um monarca independente
em Judá, conseguiram impedir temporariamente o trabalho de reconstrução e de
reformas (ver Esd. 4.2). Todavia, contornada essa dificuldade, o trabalho teve
prosseguimento, contando com a cooperação de Esdras, o sacerdote, que havia
chegado antes dele em Jerusalém e se tornara importante figura política e
religiosa em Jerusalém (ver Nee. 8.1,9,13 e 12.36).
Após
doze anos de trabalho profícuo em Jerusalém, Neemias retornou à corte de
Artaxerxes (Nee. 5.14; 13.6), em cerca de 434 A.C. Não nos é informado por
quanto tempo ele permaneceu ali; mas, após algum tempo, ele voltou a Jerusalém.
Isso posto, podemos apresentar a seguinte cronologia:
Neemias
foi nomeado governador em 445 A.C. (Nee. 2.1). Voltou à corte de Artaxerxes em
433 A.C. (Nee. 5.14). Então voltou a Jerusalém, “ao cabo de certo tempo"
(Nee. 13.6). Seu retorno a Jerusalém foi assinalado por novas reformas,
incluindo a questão da rejeição às mulheres estrangeiras com quem os judeus se
tinham casado, durante o tempo do cativeiro babilónico. Além disso, o amonita
Tobias foi expulso do templo, onde estava residindo, foi restaurada a
observância do sábado, e, de modo geral, as coisas foram postas em ordem (ver
Nee. 13).
É
provável que Neemias tenha permanecido em Jerusalém até cerca de 405 A.C., que
teria sido o fim do reinado de Dario Noto (Nee. 12.22). Contudo, não temos
nenhuma informação certa sobre o tempo e a maneira da morte de Neemias.
O
livro de Neemias, de acordo com os estudiosos conservadores, foi escrito
pessoalmente por ele, embora muitos suponham que suas tradições tenham sido
incorporadas ao livro por algum autor posterior. O trecho de Nee. 1.1 afirma
que o livro é de autoria de Neemias.
NaBíblia hebraica, os livros de Neemias e Esdras compõem um único volume. E o
livro de Esdras também não envolve reivindicação de autoria. É provável que um
único autor-editor tenha escrito a unidade inteira, e, na porção que alude a
Neemias, aquele autor-editor tenha vinculado esse nome, porque, na realidade,
estava ali incorporando a autobiografia de Neemias. No entanto, apesar de
Esdras ter sido a personagem principal daquilo que, atualmente, se chama de
livro de Esdras, este não deixou a sua autobiografia, pelo que o seu nome não
aparece vinculado à unidade. Mas, de fato, Esdras e Neemias compõem um Único
livro, que foi preparado como suplemento de I e II Crônicas. E assim, a ideia
de um autor-editor haver trabalhado com essa coletânea, como um todo, não é
destituída de razão.
Na Septuaginta, os livros de Esdras-Neemias ainda aparecem unidos; mas, nas modernas Bíblias hebraicas, os dois livros são separados, a partir da edição chamada de Bomberg, de 1525 D.C. Essa edição seguiu o arranjo alemão, no qual os dois livros apareciam separados. Eusébio de Cesaréia tinha conhecimento de apenas um livro, “Esdras-Neemias”, chamado de livro de Esdras, que, sem dúvida incluía a porção que hoje foi separada como o livro de Neemias. No entanto, nos dias de Orígenes, pelo menos em algumas coletâneas dos livros sagrados, esses dois livros apareciam distintos um do outro. A unidade Esdras-Neemias pertence à terceira divisão da Bíblia hebraica, a divisão chamada Escritos ou Hagiógrafos.
Autor: Esdras e Neemias (?)
Tema: Reedificação dos Muros de Jerusalém
Data: Cerca de 430 — 420 a.C.
II. Considerações Preliminares
O
livro de Neemias encerra a história do AT, ocasião em que os expatriados judeus
foram autorizados a retornarem a seu país, estando cativos na Babilônia.
Juntamente com o livro de Esdras (com o qual forma um só livro no AT hebraico;
ver a introdução ao livro de Esdras), Neemias relata os três retornos dos
exilados a Jerusalém. Esdras trata de fatos dos dois primeiros retornos (538
a.C.; 457 a.C.), e Neemias, de fatos ligados ao terceiro (444 a.C.). Enquanto o
enfoque de Esdras recai na reconstrução do templo, o de Neemias recai na
reconstrução dos muros de Jerusalém. Os dois livros frisam a importância da
renovação espiritual e da consagração a Deus e à sua Palavra.
Neemias,
um contemporâneo de Esdras, servia na corte de Artaxerxes I (rei da Pérsia),
como copeiro, quando soube que os exilados que já se encontravam em Judá,
estavam sob opróbrio e os muros de Jerusalém continuavam em ruínas. Depois de
orar em favor da triste condição de Jerusalém, Neemias recebeu uma munificente
autorização do rei Artaxerxes para viajar a Jerusalém como governador, e
reedificar os muros da cidade. Como líder dinâmico ele motivou seus
compatriotas a reedificar todo o muro em apenas cinquenta e dois dias, apesar
da ferrenha oposição.
Serviu
como governador por doze anos. Depois de um breve retorno à Pérsia, exerceu um
segundo mandato de governador de Judá (cf. 2.1; 13.6,7a).
Esdras, o sacerdote, auxiliou
Neemias na promoção do avivamento e renovação espiritual do remanescente que
voltara. É possível que Neemias tenha ajudado Esdras a escrever esse livro. A historicidade
do livro de Neemias é confirmada por documentos antigos descobertos em 1903,
chamados Papiros de Elefantina, que mencionavam Sambalate (2.19), Joanã
(12.23), e a substituição de Neemias como governador em cerca de 410 a.C.
III. Propósito
Este
livro foi escrito (1) como o epílogo da história pós-exílica de Judá, iniciada
no livro de Esdras, e (2) para demonstrar o que Deus fez em favor do
remanescente judeu através da liderança piedosa de Neemias e Esdras durante a
terceira etapa da restauração pós-exílica.
IV. Visão Panorâmica
Os
caps. 1—7 narram o desempenho de Neemias como governador e como responsável
pela reedificação dos muros de Jerusalém. O cap. 1 revela a profunda
espiritualidade de Neemias como homem de oração. Estando a serviço do rei da
Pérsia, foi informado da triste situação de Jerusalém e começou zelosamente a
interceder em oração, pedindo que Deus interviesse em favor da cidade e dos
seus habitantes. O cap. 2 descreve como Deus usou Artaxerxes para nomear
Neemias como governador de Jerusalém, e como este chegou ali.
Os
caps. 3.1—7.1 revelam a liderança corajosa, sábia e decisiva de Neemias ao
mobilizar Jerusalém para reconstruir seus muros, e isto em apenas cinquenta e
dois dias, a despeito de forte oposição dentro e fora da cidade.
A segunda metade do livro descreve (1)
a restauração espiritual que teve lugar entre os habitantes de Jerusalém,
liderada por Esdras, o sacerdote (8 —10), e
(2)
certos problemas nacionais abordados por Neemias (11—13). De muita importância
para a renovação espiritual do povo, foram a leitura pública da Lei de Deus, o
arrependimento do pecado e uma nova resolução do remanescente no sentido de ter
em memória o seu concerto com Deus e de cumpri-lo. O último capítulo trata de
reformas que Neemias iniciou durante seu segundo período de governo (cap. 13).
V. Características Especiais
Cinco características principais
destacam-se no livro de Neemias.
(1)
Registra os últimos eventos da história judaica do AT, antes do período
intertestamentário.
(2)
Fornece o contexto histórico de Malaquias, o último livro do AT, posto que
Neemias e Malaquias foram contemporâneos.
(3)
Neemias é um excelente modelo bíblico de um líder crente no governo: um homem
de sabedoria, convicção, coragem, integridade a toda prova, fé firme, compaixão
pelos oprimidos, e possuidor de ricos dons de liderança e organização. Durante
todos os seus anos como governador, Neemias foi um homem justo, humilde, isento
de cobiça, abnegado e que não se corrompeu pela sua posição ou poder.
(4)
Neemias é um dos exemplos mais notáveis do AT de um líder que ora (cf. também
Daniel). Umas onze vezes, o registro descreve Neemias dirigindo-se a Deus em
oração ou intercessão (e.g., 1.4-11; 2.4; 4.4, 9; 5.19; 6.9, 14; 13.14, 22, 29,
31). Foi um homem que executou tarefas que pareciam impossíveis, por causa da
sua total dependência de Deus.
(5)
O livro ilustra de modo claro o fato de que a oração, o sacrifício, o trabalho
árduo e a tenacidade operam em conjunto na realização de uma visão dada por
Deus.
VII. O Livro de Esdras Ante o NT
Este
livro registra o cumprimento de todos os passos básicos da restauração do
judaísmo pós-exílico, passos estes necessários à vinda de Cristo no início da
era do NT. Teve lugar a reconstrução de Jerusalém e do templo, a restauração da
lei, a renovação do concerto e a devida preservação da linhagem davídica.
Exteriormente, tudo estava em condição para a vinda do Messias (cf. Dn 9.25). O
período retratado em Neemias termina com a esperança profética de que o Senhor
em breve viria ao seu templo (Ml 3.1). O NT começa com o cumprimento dessa expectativa
e esperança pós-exílica.
Referências:
-
Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD
-
CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo.
HAGNOS, 2001