Aqui estudaremos a
regeneração, a justificação, a santificação e a glorificação do novo homem em
Cristo.
I. O Nascimento do Novo Homem
Nicodemos era um clássico
rabino judeu da época do Novo Testamento. Embora versado na Lei, nos Profetas e
nos Escritos, jamais tivera, até a sua entrevista com o Senhor Jesus, um
encontro real e experimental com Deus. Mas, ao procurar o Mestre Divino, o
afamado teólogo vê-se face a face com a Teologia; Jesus é a fonte de todo o
saber, quer divino, quer terreno (Cl 2.3). E, já assentado aos pés do meigo
Nazareno, cumpre-se na vida do humilde e piedoso fariseu o que havia
profetizado Jeremias: “Invoca-me, e te responderei; anunciar-te-ei coisas
grandes e ocultas, que não sabes” (Jr 33.3, ARA). Que coisas grandes e ocultas
ignorava Nicodemos? Uma delas, segundo veremos mais adiante, era o nascer de
novo; a nova criatura não é gerada nem da carne, nem do sangue, mas de Deus, da
água e do Espírito.
1. Nascido não do sangue
nem da carne.
No prólogo de seu
evangelho, o apóstolo João afiança que o novo homem, em Cristo, é, antes de
tudo, uma criação espiritual; não é gerado nem do sangue, nem da carne, mas de
Deus (Jo 1.12,13). Apesar do pecado do primeiro Adão, nós podemos renascer para
Deus, por meio dos méritos de Jesus, o Ultimo Adão.
A atuação do Espírito
Santo, no interior do ser humano, é o milagre mais expressivo que Deus pode
operar em nossa vida. Ao nascer de novo, o homem experimenta um novo gênesis —
a comunhão plena com o Pai Celeste (Rm 8.16). Nem o próprio Adão usufruiu de um
relacionamento tão íntimo com o Senhor.
Um dos exemplos mais
emblemáticos do novo nascimento, na História Sagrada, é o de Saulo de Tarso.
Embora irrepreensível quanto à guarda da Lei de Moisés, ainda não compreendia o
espírito das ordenanças e mandamentos divinos. Foi-lhe imprescindível o
confronto no caminho, em direção a Damasco, para que o iracundo fariseu
entendesse que o fim da Lei é Cristo (Rm 10.4). A partir daquele instante, eis
que o irascível Saulo é transformado em Paulo — o apóstolo e doutor dos gentios
(2 Tm 1.11).
Aprofunde seu
conhecimento:
1) O Ser Humano e o
Suicídio – Acesse
Aqui
2) Não julgueis - Acesse Aqui
3) Aspectos da Vida
Cristã Abundante - Acesse
Aqui
2. Nascido de Deus.
O nascimento do novo homem
é descrito, pelo evangelista, como o ato de nascer de Deus (Jo 1.12). Isso
implica na aceitação, pela fé, do plano de Salvação que o Pai Celeste elaborou
bem antes da fundação do mundo (Ap 13.8). Tornar-se nova criatura, em Cristo, é
o auge da bem-aventurança humana (2 Co 5.17; G1 6.15). Logo, nascer de Deus é
tornar-se filho de Deus pela fé.
Quando o pecador, após
ouvir o evangelho, converte-se a Jesus Cristo, dá-se, em sua vida, um
nascimento sobrenatural, que, operado pelo Espírito Santo, transforma-o em uma
nova criatura (1 Jo 5.1). A partir desse instante, ele começa a participar da
natureza divina, conforme explica o irmão Pedro: “Pelas quais ele nos tem dado
grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da
natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”
(2 Pe 1.4).
Tornar-se partícipe da
natureza de Deus não implica na divinização do pecador arrependido, mas em sua
imediata adoção como filho desse mesmo Deus amoroso e bom (G1 4.6). Por esse
motivo, não podemos concordar com a teologia ortodoxa oriental, que, fugindo ao
espírito do Novo Testamento, ensina que a pessoa, já no ato de sua conversão, é
submetida a um processo de divinização — theosis, em grego. De acordo com as
Escrituras, estar unido a Deus não faz do homem um deus nem um meio-deus, mas leva-o
a identificar-se como discípulo de Jesus Cristo.
3. Nascido da água.
O batismo em águas só tem
efeito salvador, quando recebido pela fé (Mc 16.16). Se devidamente observado,
simboliza não apenas a morte e a ressurreição de Cristo, como também o renascimento
espiritual daquele que o recebe como Salvador e Senhor (Rm 6.1-12). Dessa
forma, cumpre-se o que Paulo escreveu, asseverando que Jesus nos salvou
mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt 3.5). Dessa
experiência, ressurge o novo homem em Jesus Cristo.
O batismo, ordenado por
nosso Senhor, constitui-se num sermão dramático e vividamente teológico. Tendo
as águas por cenário, quer corrente, quer paradas, o oficiante e o batizando
encenam, por intermédio de atos e palavras, todo o drama do Calvário: a morte e
a ressurreição de Jesus. Naquele momento, o pecador arrependido assume pela fé,
nos méritos do Cordeiro de Deus, toda a sua condição de mártir — testemunha
plena de Cristo (Lc 24.48). Ele confessa ao mundo acreditar no sacrifício
remidor do Filho de Deus e, por esse sacrifício, está pronto a oferecer a sua
vida.
Ao descermos às águas
batismais, comprometemo-nos, junto à Santíssima Trindade, a ser e a agir como
mártires de Jesus Cristo. O mártir não é apenas o que morre por sua fé em
Cristo. Mas aquele que, por amor a Deus, se oferece todos os dias em holocausto
suave ao Pai Celeste. Nesse sentido, o batismo é uma das evidências da
salvação; é um credo em forma de drama.
4. Nascido do Espírito
Santo.
A regeneração só é
possível por intermédio da atuação do Espírito Santo na vida do pecador
arrependido; é Ele quem opera o novo nascimento (Jo 3.6). Esse ato regenerador
não pode ser explicado em linguagem humana (Jo 3.8). Somente a partir dessa
ação sobrenatural, em nossa alma, é que o novo homem, em Cristo, torna-se
possível (G1 6.15). Temos, aí, a genuína conversão.
O nascer do Espírito Santo
implica numa rendição total ao Senhor Jesus. Essa entrega, querido leitor, põe
todo o nosso ser à sua inteira disposição: corpo, alma e espírito. E, dessa forma,
a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade começa a operar em nós, desde o nosso
espírito, a parte mais recôndita e íntima do nosso ser, passando pela alma, que
nos coloca em contato com o mundo físico, finalizando a sua operação
regeneradora e santificadora em nosso corpo — a parte de nosso ser mais afetada
pelo pecado. A partir daí, tornamo-nos templos do Espírito Santo (1 Co 6.19).
Concluindo, o nascimento que o Divino Consolador opera em nosso âmago é algo
que vem de dentro para fora; começa em nosso espírito até alcançar todo o nosso
ser. Nesse ponto, já estamos no usufruto pleno da natureza de Deus, conforme
escreve o apóstolo Pedro (2 Pe 3.1-7).
II. A
Justificação do Novo Homem
O novo homem nasce, por
meio da fé em Jesus Cristo, num contexto de injustiça e pecado. Por isso,
precisa de um novo status diante do tribunal de Deus — a justificação pela fé.
1. A inutilidade da
justiça humana.
Nossas obras, ainda que
boas e aparentemente meritórias, não nos salvam nem nos justificam diante de
Deus (Ef2.8,9). Aliás, são elas consideradas trapos de imundície (Is 64.6). Só
existe um meio de obtermos a salvação e de nos justificarmos perante o Justo
Juiz: a fé nos méritos perfeitíssimos de Jesus Cristo (Rm 5.1).
A partir deste processo, o
novo homem passa a ter um novo status jurídico perante Deus (Rm 5.9).
1) A Unidade da Fé –
Acesse
Aqui
2) A Justificação
Unicamente pela Fé (Sola Fide) – Acesse
Aqui
2. A maravilhosa doutrina
da justificação.
Ao pecador que, pela fé,
recebe a Jesus, Deus lhe concede mais do que um mero perdão e muito mais do que
uma anistia; concede-lhe o status de justo. A anistia e o perdão não mudam a
posição jurídica de um réu, mas a justiça de Cristo, sim (1 Co 6.11).
3. O novo homem é justo.
A partir de sua conversão,
o pecador passa a ser visto por Deus como se jamais tivesse cometido qualquer
injustiça; doravante, é um justo aos olhos de Deus (1 Jo 3.7). Haja vista o que
houve com o ladrão que, na cruz, creu no sacrifício de Jesus Cristo (Lc
23.42,43).
Na redenção do pecador,
operam conjunta e harmonicamente estes inexplicáveis atributos divinos: o amor
e a justiça. Não há dúvida de que Deus ama a todos com um amor eterno e
inexcedível. O amor divino, porém, fugindo aos rompantes do romantismo
irresponsável e trágico, tem um caráter pactuai: exige do pecador uma fé
salvadora genuína e um arrependimento sincero. Não basta ao homem um mero
assentimento intelectual quanto à eficácia do sacrifício de Cristo no Calvário,
nem um mero remorso concernente ao seu passado nada recomendável. É imperioso
que a pessoa, já cônscia das reivindicações do evangelho, curve-se
incondicionalmente aos pés da cruz.
Quando o pecador,
reconhecendo o seu status de réu diante de Deus, busca em Cristo o seu único e
suficiente mediador, opera-se de imediato, junto ao trono do Justo Juiz, um
procedimento jurídico denominado biblicamente de justificação. Nesse momento,
sem qualquer burocracia ou decorrências, o status desse pecador muda
radicalmente: de réu condenado ao Lago de Fogo, passa ser visto, por Deus, como
justo, porque doravante estará comprometido com a justiça divina e a praticará
por toda a sua vida (1 Jo 2.29).
III. A
Santificação do Novo Homem
Ao contrário da
regeneração, que é um ato instantâneo, a santificação é um processo que demanda
toda a nossa vida até alcançarmos a estatura de varões perfeitos.
1. A santificação como
posicionamento.
No exato instante de sua
conversão, o pecador arrependido passa a ser visto não apenas como justo, mas
também como santo por Deus e pela Igreja (1 Co 1.2). Já separado do mundo,
torna-se propriedade exclusiva do Senhor (Êx 19.5; 1 Pe 2.9). Posicionalmente é
santo, embora esteja ainda em processo de santificação.
2. A santificação como
processo.
O novo homem, em Cristo,
ainda que seja visto como santo, e realmente o é, terá de submeter-se a um
longo e disciplinado processo de santificação, até que venha a alcançar a
estatura do Filho de Deus (Pv 4.18; Ef4.13).
Na santificação do novo
homem, a Palavra de Deus é imprescindível, pois nos conduz ao ideal cristão:
perfeição e santidade, para que em tudo sejamos imagem e semelhança de Deus (Gn
17.1; Mt 5.48; 1 Pe 1.16).
3. A santificação é a
vontade de Deus no novo homem.
É impossível que haja um
novo homem sem o processo de santificação (Hb 12.14). Quanto mais nos
santificamos, mas parecidos nos tornamos com o Senhor Jesus; somos seus
imitadores (1 Co 11.1). Logo, devemos ver a santificação como a vontade suprema
de Deus para a nossa vida (1 Ts 4.3). Mas, se acidentalmente pecarmos, o sangue
de Jesus Cristo nos purifica de toda a injustiça e impureza (Jo 1.7). Cuidado,
querido leitor, com os pecados cometidos de forma consciente e premeditada,
pois, no âmago dessas práticas, há uma blasfêmia velada contra o Espírito
Santo, conforme nos adverte o apóstolo (Hb 10.26-31).
4. Nosso compromisso com a
santificação.
Que a Igreja de Cristo
volte a pregar, com mais instância e urgência, a doutrina da santificação, pois
nenhum impuro ou profano entrará na Jerusalém Celeste (Ap 21.8).
Organizemos, a partir de
agora, congressos, fóruns e conferências sobre esse tema. Resgatemo-lo! Nas
últimas décadas, essa tão necessária e urgente doutrina vem sendo esquecida em
não poucos púlpitos e cátedras. Ao invés dessa temática, que permeia toda a
Bíblia Sagrada, observamos alarmados e, às vezes, impotentes, uma enxurrada de
modismos e tralhas, rotuladas de teologias, nos invadirem as igrejas. Além das
velhas, más e perversas: prosperidade e confissão positiva; temos, agora, a
grotesca teologia do coaching. Tais coisas, querido leitor, jamais nos levarão
às moradas divinas.
Preguemos a santificação,
a pureza e os bons costumes. Se não o fizermos, veremos nossas crianças
arruinadas numa sociedade que jaz sepultada no Maligno. Resgatemos, pois, a
nossa identidade pentecostal. Cuidemos da sã doutrina. Zelemos pelos dons
espirituais. Ensinemos os meninos, os adolescentes, os jovens e os novos
crentes a buscar o batismo no Espírito Santo.
Artigo: PR. Claudionor de
Andrade | Adaptação: Site: Subsídios EBD
Estudo
Publicado em Subsídios EBD –
Site de Auxílios Bíblicos e Teológicos para Professores e Alunos da Escola Dominical.