Obs. Subsídio para a classe de Jovens. Lição 11 – 2° trimestre
de 2019.
OBJETIVOS
• CONSCIENTIZAR do poder destrutivo do orgulho;
• ADVERTIR a respeito do poder destrutivo da inveja.
O
orgulho e a inveja são dois temas diretamente relacionados ao poder.
Provérbios, um dos livros sapienciais ou de sabedoria, aborda o perigo da opção
de uma vida orgulhosa e individualista. O poeta recomenda privilegiar uma vida
simples e humilde.
I. O Poder e o Orgulho
Fatal
1. A sabedoria é o
antídoto contra o orgulho
As pessoas têm uma
tendência de confundir inteligência com sabedoria. O ser humano, por natureza,
é um ser inteligente, mas nem todas as pessoas sabem aplicar com eficácia a
inteligência disponível. Quem sabe, esse é o sábio. No livro de Provérbios, a
sabedoria é vista como uma forma de antídoto contra o orgulho e algo que deve
ser buscado com todo o ânimo (Pv 16.16). Quem a acha, sempre agirá com
humildade (Pv 11.2). Nesse contexto, a pessoa orgulhosa nunca alcança a
sabedoria que é abençoada por Deus.
O orgulhoso é
desprovido de lucidez e bom senso, pois está pronto a fazer o mal se os seus
interesses forem colocados em risco (Pv 6.18; 16.17; 27.7). Ele não consegue
controlar-se quando confrontado, pois seu orgulho toma-o inseguro, inflexível e
até mesmo ingênuo (Pv 25.28; 27.12; 26.3,9). Dessa forma, o orgulhoso toma-se
uma pessoa não confiável, podendo colocar todo um projeto em risco. Por isso,
há a necessidade de quem lidera ter percepção do comportamento das pessoas que
fazem parte de seu grupo. A pessoa orgulhosa vê na posse do poder a
possibilidade de proteger-se de sua insegurança. Assim, ela não seria a melhor
pessoa para ser indicada para um serviço de responsabilidade (Pv 25.14;
26.6,10,11,13-26; 27,22) e para um projeto que necessita de relacionamentos
interpessoais saudáveis (Pv 26.18-22).
Em Provérbios 1.7, está
escrito: “O temor do SENHOR é o princípio da ciência”. Por consequência, quem
teme ao Senhor não busca a riqueza conquistada pela injustiça, mas busca o
trabalho honesto e sem arrogância (Pv 16.17; 28.19,20; 29.3).
2. O orgulho precede a
ruína
Champlin afirma que o
versículo 18 trata da personificação do orgulho, e prever como ele é precede a
ruína e queda fatal:
Naturalmente, o v. 18 é
uma das declarações mais familiares e mais empregadas. O orgulho é
personificado. Estamos diante de um homem arrogante, que se pavoneia por onde
passa, dominando outras pessoas, buscando com quem brigar, mas então de súbito,
ele sucumbe. O homem orgulhoso tropeça em um obstáculo e cai numa cova. Ele é
como o animal que um caçador, finalmente, apanha em sua armadilha. Sua queda é
fatal. O caçador o apanha, e uma seta atravessa-lhe o coração. A segunda linha
métrica provê o pensamento que fornece o paralelo sinônimo. Na primeira
métrica, o orgulho se projeta; na segunda, os dias de projeção terminaram, pois
o homem orgulhoso cai. O indivíduo que vive de cabeça levantada olha
sobranceiramente, e não para onde está indo, não vê aquilo em que tropeça, e
cai. Outrossim, quanto mais elevada é a pessoa, maior é a sua queda... esse foi
o caso de Nabucodonosor... Dn 4.30,31. (CHAMPLIN, 2001, p. 2620)
A pessoa que adquire
riqueza e poder e é desprovida de sabedoria leva uma vida de prepotência e
arrogância (Pv 16.19; 18.23). Desse modo, ela vê as pessoas como objetos, e não
como criaturas de Deus e nem como seu próximo. As pessoas nessa situação tendem
a lutar constantemente para manter o seu status quo. Por isso, tratam as
pessoas subordinadas ou em condições de dependência como se nunca fossem
precisar delas. Elas investem nos relacionamentos com pessoas em condições
financeiras e de poder semelhantes com o propósito de trocas de favores e
interesses. Elas vivem uma vida de insegurança constante, sempre com medo de
perder o poder e, por esse motivo, não dormem enquanto não maquinam o que fazer
para manter-se no controle (Pv 4.16; SI 36.4; Is 57.20; Mq 2.1).
Eles vivem uma vida sem
paz e tranquilidade, aliada a uma constante insegurança pelo sentimento de
culpa e medo. O poeta recomenda uma vida simples e humilde, pois melhor é a
pobreza — que pode até ser fruto de contexto sócio-histórico (Pv 28.6) — que é
construída por meio da integridade e justiça (Pv 28.11). A experiência
demonstra que as pessoas que alcançam a excelência na vida são aquelas que
conseguem extrair o melhor das coisas simples (Pv 22; 23.5), enquanto os
soberbos, que pensam desfrutar o melhor da vida, terminam em uma vida que não
valeu a pena ser vivida, ou seja, uma vida em ruínas.
Leia também:
3. A sabedoria da
Palavra dá sentido à vida e produz bem-aventurança
O acesso à educação na
antiguidade era uma exclusividade dos poderosos. No entanto, na época da
organização tribal, em que os clãs tinham prioridade e o relacionamento entre
os membros e a proteção era bem evidente, a sabedoria também era algo
compartilhado no ambiente familiar interno, a sabedoria popular (Pv 4.1-5). O
conselho nos ambientes urbanos ou a sabedoria dos anciões nos lugarejos
constituíam outro contexto de compartilhamento de sabedoria. Todavia, com o
tempo e, principalmente, com a instituição da monarquia, a sabedoria faz um
caminho que vai de um nível familiar para um nível de manutenção de status e de
poder. E uma sabedoria mais exclusiva e para atendimento de objetivos
específicos, constituída pelos escribas e escolas de escribas. A sabedoria era
uma das três principais fontes de revelação divina (Jr 18.18). A poesia hebraica
tinha um papel na literatura e crença de Israel. Assim, aqueles que tinham
acesso ao texto escrito ou aqueles que aprendiam aos pés dos propagadores da
tradição oral, quer em casa, na rua ou na prática litúrgica, eram moldados pela
sabedoria da Palavra.
Quem ouve e busca a
sabedoria viverá em segurança sem temer nenhum mal (Pv 8.30,31). A sabedoria
dada por Deus não é exclusiva dos nobres, diplomatas ou burocratas, mas faz-se
aparente e notória nas ruas, nas praças, nas esquinas das ruas barulhentas, entre
outros lugares (Pv 1.20). O monarca não está no centro da preocupação de
Provérbios, mas, sim, o indivíduo israelita. Assim, o poeta aconselha a busca
do conhecimento, quer seja secular ou da Palavra de Deus, mas nenhum
conhecimento trará resultado permanente e eficaz se não estiver debaixo do
temor do Senhor. Viver uma vida sábia sob o temor do Senhor é que dá sentido à
vida.
II. O Poder e a Inveja
Mortal
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ESTUDE A BÍBLIA À DISTÂNCIA
A narrativa do ato de
adoração dos dois primeiros irmãos (Gn 4.1-8), que resultou no assassinato de Abel
por Caim, ensina muito sobre as consequências da inveja, além de instruir sobre
o cuidado de Deus com o pecador. As orientações divinas dadas a Caim ainda são
atuais para que o cristão sábio possa evitar a morte espiritual.
1. Inveja, uma das paixões
mais características da natureza humana
O tema inveja foi
estudado por diversos pensadores. Entre eles, podemos citar: a) o famoso
filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.); b) o poeta romano Ovídio (43 a.C. em
17 ou 18 d.C.); c) o político e filósofo Francis Bacon (1561-1626); d) o médico
neurologista e criador da Psicanálise, Sigmund S. Freud (1856-1939); entre
outros.
Pela etimologia, a
palavra inveja é formada pelos étimos latinos in (dentro de) + videre (olhar),
que indicam um olhar maléfico que penetra no outro de forma destrutiva. Segundo
Zimerman (2001, p. 225), o sujeito invejoso é aquele que se recusa a ver e a
reconhecer as diferenças entre ele e o outro, uma vez que esse outro possui as
qualidades de que ele necessita e que almeja ter. Aristóteles tratava a inveja
como uma das 14 paixões que caracterizam a alma humana. Para ele, “as paixões
são todos aqueles sentimentos que, causando mudança nas pessoas, fazem diferir
seus julgamentos”. No caso da inveja, ela é a paixão que interfere no
julgamento do indivíduo, causando-lhe um “pesar pelo sucesso evidente de que
gozam os iguais”. Ele defende que a pessoa geralmente sente inveja daqueles que
são semelhantes (idade, classe social, reputação, proximidade, entre outros) e
dificilmente terá esse sentimento por pessoas consideradas bem inferiores ou
bem superiores a si (ARISTÓTELES, 2003, p. XIV, 67). Dessa forma, o indivíduo
sente inveja de seus competidores diretos, que estão praticamente “em pé de
igualdade”. Ovídio, em um poema, personifica a inveja e destaca o seu poder
mortífero:
A inveja habita no
fundo de um vale onde jamais se vê o sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam
a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas [...].
A palidez cobre seu rosto, seu corpo é descarnado, o olhar não se fixa em parte
alguma. Tem os dentes manchados de tártaro, o seio esverdeado pela bile, a
língua úmida de veneno. Ela ignora o sorriso, salvo aquele que é excitado pela
visão da dor [...]. Assiste com despeito o sucesso dos homens e esse espetáculo
a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma, e este é seu
suplício. (OVÍDIO, 1996, p. 770)
Para Klein, a inveja
vai além de desejar o que é do outro, pois também pode gerar o desejo de que o
outro não possua o que tem, ou seja, não importa que eu não tenha, desde que o
outro também não possua o objeto desejado (KLEIN, 1991, p. 205; ZIMERMAN, 2001,
p. 225). O invejoso, motivado pela sua baixa autoestima, considera-se incapaz
de conquistar o objeto de desejo e tenta destruí-lo. Caim, ressentido,
revolta-se contra o irmão que conquista o lugar desejado por ele e, dotado do
“poder-fazer”, assassina Abel.
2. Caim entristece-se
com a aprovação de Abel
O ser humano não
escolhe em qual família nascer. Assim, os pais, irmãos e outros parentes são
impostos e com eles compartilhamos boa parte de nossa história de vida. O
nascimento do segundo filho geralmente é sinônimo de conflito, que pode até ser
gerenciável, mas nem sempre. O relacionamento entre irmãos é uma das três
contingências vitalícias do ser humano. Não existe ex-pais, nem ex-filhos e nem
ex-irmãos.
A história de
rivalidade entre irmãos, levada ao extremo e algo inevitável, faz-se presente
desde que o mundo é mundo. Na literatura universal, é comum a luta entre
irmãos, bem como a rivalidade entre os ofícios de lavrador e pastor. Por
exemplo, nos textos babilônicos antigos, a vida do pastor era considerada mais
agradável aos deuses, e as oferendas de animais eram consideradas mais
saborosas do que as de vegetais.
Em Gênesis 4, é
relatado o nascimento dos filhos do primeiro casal. A ênfase do texto é dada
para o primogênito, Caim, que era a alegria de Eva, a mãe do todos os seres
viventes. Caim, por ser o primogênito, deveria ter uma posição de destaque e
respeito. Naturalmente, ele teria uma posição hierarquicamente superior e com
mais responsabilidades. Durante a história da humanidade, em todos os povos, as
famílias têm considerado o primogênito com uma deferência especial. Na
sociedade contemporânea, ainda se mantém resquícios desse sistema familiar
antigo. O nascimento do segundo filho do primeiro casal não parece ter
incomodado Caim de início.
A própria definição do
nome Abel demonstra a sua insignificância. Seu nome vem da raiz hebraica hebel,
que significa qualquer coisa que desvanece, pois, com sua morte, ele não
deixaria descendência, e a narrativa só serve para contar sobre a inveja de seu
irmão Caim. Todavia, como toda e qualquer família, a chegada do segundo filho
sempre causará no primogênito, ainda que em proporções diferentes, dependendo
de cada caso, a renúncia forçada da figura de exclusividade materna e paterna.
A chegada do novo membro traz consigo a mudança e perturba o equilíbrio
constituído. O primogênito terá que reorganizar seu espaço e sua maneira de
pensar, considerando a presença do mais novo. De único e privilegiado, ele
passa a compartilhar sua posição familiar com o recém-chegado. Ruffo (2003, p.
46) afirma que “cada um de nós nutre a fantasia de ser alguém único, de ser o
único a contar para os outros e no mundo. Abandonar essa ideia é difícil, mas
necessário para viver entre os outros, com toda a sua vulnerabilidade”.
A inveja provoca
tristeza nas pessoas por elas não possuírem o que desejam e por verem que
outras pessoas possuem o objeto do desejo. E o que René Girard chamaria de
imitação de desejo do outro, que resulta em violência, pois o núcleo do desejo
não é mais o objeto, mas a violência contra o outro. Não se tem o objeto do
desejo, mas pode-se tirar a vida de quem tem o objeto desejado como forma de
vingança, alimentada pela inveja. Caim desejava ter a aprovação divina obtida
por Abel, uma legitimação de poder, uma vez que demonstraria a sua intimidade
com Deus. Nesse caso, a inveja ocupa o lugar do desejo. Jesus afirmou que o mal
começa na esfera do desejo (Mt 5.27ss). O invejoso tem dificuldade para falar
bem e abençoar o próximo. Ele não suporta o brilho das pessoas, pois vive em
trevas. A inveja também pode ser o sentimento de não querer que o outro tenha o
que ele ou ela tem.
O cristão deve avaliar
constantemente seus sentimentos e atitudes para impedir que o poder da inveja
tire a sua paz. A violência não precisa ser literal, mas pode ocorrer um
homicídio imaginário, em que as pessoas tentam destruir a vida das outras por
inveja.
Fonte: Cobiça e Orgulho – Combatendo o desejo da carne, o desejo dos olhos e a
soberba da vida. Editora CPAD | Autor: Pr. Natalino das Neves.
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