Obs. Subsídio para a classe de Jovens. Lição 7 – 2° trimestre de
2019.
OBJETIVOS
• COMPREENDER o
contexto da Primeira Carta aos Coríntios;
• MOSTRAR que a liberdade em
Cristo não pode ser confundida com libertinagem;
• CONSCIENTIZAR de
que o crente não pode submeter seu corpo à promiscuidade.
INTERAÇÃO
Professor
(a), conhecer a respeito da cidade e da igreja em Corinto é fundamental para o
preparo desta lição. O primeiro passo é buscar livros de apoio para a sua
pesquisa. Sugerimos o Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, CPAD. O
exemplo da igreja de Corinto servirá como uma advertência contra as influências
imorais, sexuais a que os jovens estão sujeitos nos dias atuais.
I.
Liberdade em Cristo não Pode Ser Confundida com Libertinagem
1. Um panorama sobre a cidade de Corinto
Após três anos de
tensões sem precedentes entre Roma e Corinto, em 146 a.C., o general romano
Lúcio Múmio exterminou grande parte da população masculina e os libertos,
escravizou as mulheres e crianças, saqueou a cidade e devastou as edificações e
construções referenciais a ponto de tornar Corinto um desolado monte de ruínas.
Aproximadamente 100 anos depois, ela ressurge. Júlio César reconstruiu-a em um
curto período de tempo, favorecido devido às vantagens topográficas do local.
Corinto tomou-se uma cidade-colônia, a metrópole da província romana de Acaia
que passou a ser chamada Laus Julia Corinthiensis, que virtualmente incluía
toda a Grécia.
Corinto chegou a ter
mais de 500 mil habitantes, uma das maiores cidades de todo o Império Romano.
Por ser uma cidade com dois portos: Laqueu/Lequeo (golfo de Corinto — que
ligava a cidade à navegação para a Itália e o Ocidente) e Cencreia (golfo
sarônico — que movimentava todo o comércio que vinha para Atenas, Éfeso,
Antioquia e o Oriente), possuía uma grande prosperidade comercial. No entanto,
dois terços da população eram de escravos e trabalhadores: “doqueiros” (que
descarregavam e carregavam os navios) e os “diolcois” (transportadores de
navios de um porto, o Egeu, para o outro, o Adriático, por meio de paus
roliços). O outro terço da população era composto de homens livres e libertos,
principalmente helênicos e romanos, pertencentes ao sistema patronal romano e
elite grega. Além desses, havia os ricos capitães e marinheiros que controlavam
as embarcações comerciais e turísticas que transitavam nos dois portos da
cidade. Quando ocorriam os jogos ístmicos (atletismo) durante a primavera, a
sociedade dinamizava-se para receber centenas de turistas, formados por pessoas
das mais diversas regiões, pensadores itinerantes, filósofos consagrados
portadores das mais diversas visões de mundo, além de proclamadores de diversas
religiões.
Quanto à religião, a
cidade possuía os dois grandes templos da época: o templo de Afrodite/Vênus
(deusa do amor) e o templo de Apoio (deus da música, canto, poesia e da beleza
masculina). As religiões mistéricas promoviam experiências em que seus
participantes eram levados ao êxtase, com vistas à autossatisfação, alienação e
ausência de consciência crítica. Eram celebradas grandes festas tidas como
sagradas com carnes sacrificadas a ídolos e representantes do Império Romano.
Existia também uma sinagoga judaica. Possivelmente, faziam parte dela a maioria
de judeus que foram expulsos de Roma pelo Imperador Cláudio em 54 d.C.,
conforme afirma Renan (2003, p. 183): “Próximo ao desembarque de Paulo, um
grupo de judeus expulsos de Roma pelo édito de Cláudio também havia chegado de
barco entre os quais estavam Aquila e Priscila que já nesta época professavam a
fé em Cristo”.
Em relação à
sexualidade, havia um grande conflito entre os costumes dos religiosos, a
valorização do ser humano, como se dava a exploração do corpo, tratativas com o
casamento, viuvez, celibato, virgindade, entre outros costumes de uma cidade
cosmopolita como a Corinto do primeiro século. Existia uma grande valorização
da sabedoria filosófica e do conhecimento considerado como fonte de libertação
humana.
Na contramão da
sabedoria e do sistema de governo que dominava a cidade de Corinto, Paulo
apresenta a sabedoria da cruz, a opção pelo Crucificado, e não pela elite e
poderosos, pelos pobres e desprotegidos, pelos desprezados e sem projeção na
sociedade corintiana. Ferreira (2013, p. 33) afirma que a perspectiva de Paulo,
Apoio e Pedro era outra: “a construção de comunidades que deveriam servir”.
Paulo procurava conscientizar os cristãos de coríntios que eles não podiam
reproduzir as desigualdades, as injustiças e as promiscuidades romanas, que
dominavam a cidade.
Corinto era sinônimo de
riqueza e luxo, de alcoolismo e corrupção. O estilo de vida era tão depravado
que era utilizado um termo pejorativo para os moradores da cidade “coritizar”,
tamanha era a falta de seriedade e frouxidão moral. Nos dias do apóstolo Paulo,
a raça da população de Corinto era indefinida e heterogênea. Os primeiros
colonizadores romanos eram homens livres vindos da Grécia, Egito, Síria e
Judeia. Na sua maioria, eram aventureiros gregos e burgueses romanos. Quanto às
profissões, havia ex-soldados romanos, filósofos, mercadores, marinheiros,
marreteiros, entre outras.
O apóstolo Paulo
escreveu, pelo menos, quatro epístolas aos coríntios (cartas perdidas: 1 Co
5.9; 2.4;7.8). A primeira epístola canônica foi escrita por volta z
de 55/56 a.C. Com
exceção de Éfeso, Corinto foi a cidade em que Paulo permaneceu mais tempo (18
meses, At 18.1-17). As epístolas de Paulo, em geral, eram escritas para tirar
dúvidas e orientar pastoralmente as recentes comunidades cristãs entre os
gentios. Quando estava em Éfeso, o apóstolo toma conhecimento de alguns
problemas da igreja devido à grande influência secular e religiosa. Além das
tensões entre judeus e gregos (1 Co 1.18-31; 12 e 13), livres e escravos (1 Co
7,21-23), existiam questões doutrinárias sobre ressurreição, casamento, dons
espirituais, questões morais e éticas, entre outras. Isso faz das epístolas aos
coríntios uma grande fonte de doutrinas sistemáticas, que chegou até nós graças
à disposição e desprendimento do apóstolo Paulo para a missão e o ensino.
2. Fazer tudo o que quer não é
liberdade, mas escravidão
O apóstolo divide 1
Coríntios 6 em duas partes principais. Na primeira parte, ele adverte os
membros da igreja a respeito da incompetência ou má vontade de resolverem internamente
questões de relacionamentos entre eles e pequenas causas, preferindo levar aos
tribunais seculares. Na segunda parte, objeto deste estudo, ele censura a tolerância
com a promiscuidade sexual, cujo contexto da epístola dá a entender que estava
tomando-se algo normal entre eles. Paulo fala com um tom forte e de ameaça e,
na sequência, como costume seu, desenvolve uma argumentação para embasar sua
advertência, como forma de apoio espiritual aos seus destinatários.
Os coríntios achavam
que podiam fazer tudo o que quisessem em nome da liberdade em Cristo, sem
prejuízo para a vida espiritual. De tal modo, tomavam-se escravos da paixão,
que dominava suas vontades e ações. Provavelmente, eles estavam retendo grande
porção de sua antiga licenciosidade incorporada dos costumes da cidade. Eram
criados pretextos para legitimar suas atividades, como a mal interpretada
liberdade cristã. Desse modo, práticas consideradas como pecado passavam a ser
consideradas comuns.
Outro extremo era a
prática dos gnósticos. Para eles, o que se faz com o corpo é indiferente, desde
que mantenha o espírito puro, ou seja, o que se faz com o corpo, que é a
matéria má, não tem efeito sobre a vida espiritual. As crenças gnósticas
causaram muita confusão na Igreja de Corinto, e Paulo precisou demonstrar que o
corpo do cristão é para a glorificação a Deus pelo uso que se faz com ele. O
gnosticismo imperou até o terceiro século, quando surge o maniqueísmo que
aproveita pouco de suas ideias em sincretismo com elementos do zoroastrismo,
hinduísmo e judaísmo. O indivíduo em pecado poderia ser redimido por meio de
penitências, como jejuns, flagelos, mortificações, entre outras formas de
castigar o corpo, com o intuito de dominá-lo e purificá-lo. Trata-se de uma
interpretação equivocada que levou muitos a utilizar a castidade e a virgindade
como meios mais eficazes para purificar o corpo e a alma. Segundo Strabeli,
essas práticas continuam torturando muitas pessoas em seus complexos de culpa:
Hoje em dia, embora a
teologia já tenha dado grandes passos na compreensão do homem como unidade
ôntica, isto é, entendendo-o como realmente é: todo corpo, toda alma, embora a
concepção do homem seja profundamente antropológica e bíblica, valorizando o
corpo humano, e reconhecendo todas as suas potencialidades, sua beleza, sua
espiritualidade (ele é “templo do Espírito Santo”) assim há muita gente que
ainda tem medo do próprio corpo. Para muitos ele é ainda instrumento de pecado
e terrível inimigo da alma. E preciso mudar profundamente esse modo de ver e de
considerar o corpo humano. Deus não o fez mal nem ele é ou se tomou mal. Deus
fez tudo bom e muito bom (Gn 1,31). O mal está na nossa cabeça! (STRABELI,
1998, 62)
A argumentação do apóstolo é a sacralidade do
corpo humano daquele que está em Cristo. Paulo reforça que Cristo morreu na
cruz para resgate tanto da parte espiritual como material do ser humano, seu
corpo. A falta de respeito ao corpo toma-o profano em vez de objeto de
glorificação a Deus. Paulo, ao afirmar que o corpo do cristão é templo do
Espírito Santo, iguala o respeito ao corpo ao respeito ao próprio Templo, tido
como sagrado principalmente pelos judeus.
Para Paulo, somente
aquele que está em Cristo tem a liberdade real. A expressão “em Cristo” era
querida pelo apóstolo. Ela aparece 86 vezes nas cartas de atribuição paulina,
isso sem considerar expressões análogas como “nele” e “no qual”. Quando uma
palavra é utilizada com frequência por um autor, toma-se uma palavra-chave para
interpretação do texto.
Paulo, na epístola que
escreveu aos romanos, utiliza uma expressão para caracterizar o oposto de estar
“em Cristo”; ele usa a expressão estar “em Adão”. Em Romanos 5.12-19, ele
compara e contrasta a vida e a obra de dois homens que afetaram toda a
humanidade. Assim, pode-se dizer que há duas humanidades: aquela que está em
Adão e aquela que está em Cristo, em virtude da fé (NEVES, 2015, p.77-87).
Alguns cristãos coríntios, em nome de uma liberdade equivocada do estar em
Cristo, estavam, na realidade, “em Adão”.
Aos coríntios, Paulo
afirma que “assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão
vivificados em Cristo” (1 Co 15.22). Para ele, o estar “em Cristo” remodela a
vida humana em todas as suas esferas e aspectos, e o novo convertido passa ser
a imagem do próprio Cristo (2 Co 5.17). A nova criatura em Cristo vive a vida
de um modo inteiramente diferente e em oposição às pessoas “sem Cristo”. Todos
os seres humanos estão “em Adão”, até que passam a estar “em Cristo”. “Em Cristo”,
porém, descreve a posição da pessoa remida, livre da tirania do pecado (1 Co
10.13). Os que estão “em Cristo” relacionam-se com Ele por meio da fé. O
propósito é tomar os que estão em Cristo mais parecidos ainda com Ele, para o
louvor de sua glória (2 Co 3.18; Ef 1.4-6). No entendimento de Paulo, a vida em
Cristo na presente era é caracterizada por contradições.
O mundo ainda está
debaixo da maldição do pecado e, por isso, não é o lugar ideal para viver. Em
Cristo, no entanto, é possível conviver com o mundo sem estar conformado com
ele (Rm 12.1,2) e manter a integridade de uma vida cristã, estando sempre à
espera da redenção final. Portanto, fazer tudo o que a vontade da carne quer é
estar em Adão. Paulo recomenda viver a liberdade de Cristo, dominando a vontade
da carne e vivendo em espírito, em Cristo.
II. O Cristão não Pode Submeter seu Corpo à
Promiscuidade Sexual
1. O contexto de corpo, alma e espírito
na cultura de Corinto e do Novo Testamento
Para entender o
conceito de corporeidade apresentado por Paulo na epístola, faz-se necessário
conhecer qual era a visão da civilização hegemônica helênica, abrangente em
todo o Império Romano no ocidente, incluindo o mundo semita israelita. Os
gregos desenvolveram uma antropologia especialmente platônica, que era
dicotomista (ser humano em duas partes: corpo e alma). Nessa visão, a alma era
supervalorizada, a parte do bem, sendo o corpo a parte do mal, consequentemente
desvalorizado e considerado o cárcere da alma. Por outro lado, a concepção
hebraica considerava o ser humano em sua totalidade, ou seja, não se via a alma
sem corpo e nem o corpo sem a parte espiritual. Sendo assim, na narrativa
judaica da criação, como já visto, não se menciona a criação do corpo, mas do
ser humano sem distinção de partes, de forma integral. A visão dicotômica
aparece somente em literaturas judaicas influenciadas pelo helenismo, como nas
literaturas pseudoepígrafas.
No Novo Testamento, por
influência paulina, prevaleceu o ponto de vista judaico. Ferreira (2003, p. 40)
apresenta os cinco eixos do corpo apresentado por Paulo na Primeira Epístola
aos Coríntios:
a) a comunidade como
Corpo de Cristo;
b) o embate com os
espiritualistas/esclarecidos (uma linha filosófica de Corinto sobre o corpo;
c) o corpo na vida
sexual;
d) o corpo na Última
Ceia;
e) a ressurreição do
corpo. O apóstolo Paulo, apesar de inserido profundamente na cultura grega,
preservou a força da antropologia semítica, que via o ser humano como um todo.
O ser humano como
espírito, ruah em hebraico e pneuma em grego, que significa pessoa-corpo-alma,
extrapola os Emites de sua existência como carne-corpo-alma para comunicar-se
com a esfera divina. A maior referência a essa esfera transcendental é a
experiência da ressurreição de Jesus, que apresenta uma nova possibilidade de
existência humana. Essa possibilidade é apresentada por Paulo como argumento
favorável em defesa de uma vida que preserva o corpo, no texto em estudo, mais
precisamente em 1 Coríntios 6.14,17: “Ora, Deus, que também ressuscitou o
Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder. [...], Mas o que se ajunta com o
Senhor é um mesmo espírito”. Ferreira (2013, p. 41) afirma que, quando Paulo
queria falar dos dotes humanos da inteligência natural, “ele usava como em 1
Coríntios 14.14,15 a palavra ‘noos’ (mente para distingui-la do significado de
‘pneuma’, espírito). Esta significa o próprio ser do homem, no que tem de
natural-espiritual”. Para Paulo, no sentido teológico, o termo pneuma
significava o próprio ser de Deus atuando sobre o mundo criado. Para ele, o campo
de atuação entre Deus e o ser humano está sob o domínio do Espírito Santo (1 Co
2.10). Assim, na visão paulina, o ser humano obtém o Espírito divino somente
por meio da fé (G1 3.2,5,14,26,28; 1 Co 6.11). Por isso, havia a oposição
ferrenha entre carne e espírito, descrita por Paulo em Gálatas 5.17.
2. A comunidade como corpo do Espírito
Santo
A tipologia bíblica
utiliza alguns termos simbólicos para representar uma pessoa ou coisa. Em 1
Coríntios 6.19, Paulo adverte: “Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do
Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós
mesmos?”. Ele utiliza o corpo como representante do “templo”. Quando se refere
a “templo”, vem na mente dos destinatários o Templo que eles conheciam em
Jerusalém, com toda a sua representatividade, isto é, um lugar de encontro com
Deus, em que as pessoas adoravam e reverenciavam como santo, ou seja, alguém
separado para uso exclusivo de adoração a Deus. A intenção de Paulo é que as
pessoas que tinham isso em mente imaginassem-se como Igreja, parte do corpo de
Cristo, santificando-se e oferecendo seus corpos como sacrifícios vivos para o
louvor e glória de Deus (Rm 12.1,2).
Na mesma epístola,
Paulo utiliza novamente essa tipologia (2 Co 5.1): “Porque sabemos que, se a
nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício,
uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. Nessa linguagem figurada, o
apóstolo quer dizer que aquele que cuidar adequadamente deste tabernáculo, que
é o corpo recebido, como excelentes mordomos receberá um novo tabernáculo na
eternidade, superior a esse, que é corruptível. Outro texto que usa a mesma
tipologia é 2 Pedro 1.14: “Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo
[...]”, que fala da ciência de que, em breve, teria uma morte vitoriosa, como
no texto anterior, trocando o corpo mortal por um corpo imortal. Note que,
nessas referências, é citado o Tabernáculo e o protótipo do Templo, que, na
realidade, mantinham as características fundamentais. Eles tinham praticamente
a mesma divisão: o Pátio, o Lugar Santo e o Santo dos Santos (Ex 26.31-33;
27.9-15). A diferença é que o Tabernáculo era temporário e portátil. Na
realidade, o próprio Templo, mesmo com toda a sua pompa, por mais que fosse
permanente, também foi retirado do local, ou seja, destruído. Portanto, ele
também era temporal. Assim, a comunidade como corpo e o corpo de cada pessoa
também z
é temporário. E o que
fazemos com ele em vida que determinará a eternidade. Alguns teólogos, como,
por exemplo, o pastor Elienai Cabral (2003, p.57), também usam uma comparação
com o conceito do corpo tricotômico: o corpo como o Átrio externo, o Lugar
Santo como a alma, e o Santo dos Santos como o espírito. Para efeito didático,
é válida a comparação. Assim como todos os espaços deveriam ser respeitados
como santos, da mesma forma a comunidade e o cristão devem cuidar das partes do
ser como um todo, como partes integrantes e inter-relacionadas.
Em 1 Coríntios 3.4,
está descrito que alguns grupos intitulavam-se como sendo de Paulo, ou de
Apoio, ou de Cefas. O apóstolo, porém, desmascara-os afirmando que eles eram
simplesmente cooperadores do evangelho. A comunidade era do Espírito Santo,
aquEle que verdadeiramente era a fonte de vida e crescimento. Ninguém, por mais
influente, eloquente e conhecedor das Escrituras, deveria tomar para si os
créditos, pois não teriam êxito sem a ação do Espírito Santo. Paulo deixa isso
bem claro, além de recomendar ações coletivas para reduzir ao máximo as
individualidades (1 Co 12—14). Todos, portanto, deveriam ser considerados como
agentes do evangelho e cooperadores dos mistérios de Deus (1 Co 4.1). Daí a
afirmação de que a comunidade é templo de Deus, um lugar santo, morada de Deus.
Se o Espírito de Deus tivesse liberdade de ação, não haveria espaço para as
imoralidades que dominavam a cidade de Corinto. Dentro da comunidade, no
entanto, havia um grupo que Paulo chama de “fortes”, que se achavam “perfeitos”
e cheios do Espírito de Deus e julgavam que podiam fazer o que quisessem com o
corpo, pois não atingiria o espírito (1 Co 6.12; 10.23). Se o corpo é templo do
Espírito Santo, então a comunidade e os seus membros são mordomos do corpo, que
pertence a Deus. E por isso que o corpo deve ser conservado (Rm 12.1,2; 1 Co
6.20). Todas as ações e motivações dos membros do corpo devem ser conscientes
com o propósito de louvar e glorificar a Deus.
Se o campo de atuação
do Espírito de Deus é a comunidade, esta precisa viver em espírito, pois é
devedora não à carne para viver na promiscuidade sexual, mas à pura graça de Deus,
sendo guiado pelo espírito para mortificar as obras da carne, que são
mortíferas espiritualmente falando (Rm 8.12-17). A comunidade cristã não
recebeu um espírito de escravidão, mas um espírito de adoção de filhos (Rm
8.15).
3. A promiscuidade sexual e a comunidade
do Espírito Santo
Poucas igrejas cristãs
abrigaram tantos fiéis como a Igreja em Corinto. A comunidade alastrou-se por
toda a província de Acaia, “tomando-se o núcleo do cristianismo na península
helênica” (RENAN, 2003, p. 185). No entanto, infelizmente, a Igreja em Corinto
não ficou alheia às práticas imorais da cidade, o que só confirma que nem todas
as pessoas que frequentam as igrejas estão verdadeiramente libertas. Por isso,
existe a necessidade de tratar desses assuntos para o bem da edificação da
igreja. Renan (2003, p. 182,183) afirma que “O grande templo de Vênus abrigava
mais de mil cortesãs sagradas; a cidade inteira era como um vasto lugar
suspeito onde um grande número de estrangeiros, sobretudo marinheiros, vinha
gastar as suas riquezas”.
A imoralidade da cidade
ainda influenciava a igreja a ponto de “em alguns anos Corinto [ser] palco de
cristãos incestuosos e ébrios sentados à mesa de Cristo”. As cortesãs sagradas
citadas por Renan são prostitutas sagradas. Ferreira (2013, p. 24) contesta
essa grande quantidade para a época. No entanto, o número pode, sim, ser
considerável se levarmos em conta que a cidade foi reconstruída em 44 a.C. como
uma cidade-colônia e, na época de Paulo, já haver passado mais de um século,
além de ela ser uma cidade portuária e a prática sexual estar ligada à religião
principal da cidade, com dois templos dedicados a Afrodite. Assim, as relações
entre homens e mulheres eram múltiplas, sem o menor pudor.
Paulo adverte sobre o
perigo das relações sexuais imorais entrarem na igreja. Ele fala que a atração
sexual continua viva entre os membros da comunidade. O apóstolo afirma que,
durante o ato sexual, os corpos do homem e da mulher passam a pertencer um ao
outro, formando uma única carne (1 Co 7.4). Em uma relação extraconjugal, o
cristão cede o corpo, que é para o Senhor e o Senhor para ele, à prostituição,
profanando-o (1 Co 6.13). Paulo assevera que o corpo do cristão é membro de
Cristo e não poderia ser entregue a uma prostituta (1 Co 6.15). Em 1 Coríntios
6.13, pode-se aplicar o que foi aprendido nas seções anteriores. Aqui, nesse
versículo, Paulo utiliza o termo soma para corpo.
Ferreira (2013, p. 94)
afirma que Paulo utilizou essa expressão “por que entendia que na relação
sexual estava presente todo o ser da pessoa, como na experiência da doença e da
cura, da morte e da ressurreição”. Desse modo, é possível compreender a
preocupação de Paulo com a promiscuidade sexual que assolava a comunidade de
Cristo e como isso poderia minar a comunhão dos membros da comunidade com o
Espírito de Deus. A população de Corinto tinha um slogan: “Tudo me é
permitido”. Esse slogan não servia para a Igreja e continua não servindo. Paulo
complementa-o: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém” ao cristão. Pode até
parecer que o apóstolo era contrário à liberdade, mas não é a verdade. Na
epístola que escreveu aos gálatas, ele deixa bem claro qual é a liberdade que
há em Cristo. Ele advertiu-os para não usarem essa liberdade genuína como
pretexto para servir à carne e transformá-la em libertinagem (G1 5.1-13).
Em 1 Coríntios 6.15,16,
Paulo parece contraditório ao misturar alimentação — que está relacionada com a
nutrição — com a prática sexual ao falar, mais uma vez, de “carne”. A impressão
que se tem é a de que não existe coerência em suas palavras; mas, na realidade,
os dois assuntos tratam de necessidades físicas. Todavia, no conceito defendido
pelo apóstolo do ser integral, tanto a alimentação quanto a sexualidade vão
além de meras necessidades físicas. O que estiver fora das restrições e da
normalidade rebaixaria o ser humano a escravo dessas necessidades. Por isso,
Paulo afiança: “mas eu não me deixarei dominar por nenhuma”. Paulo critica no
versículo 16 o prazer por prazer; por isso, o cristão deve unir-se com alguém
que também se uniu ao Senhor, pois assim estariam no mesmo Espírito (1 Co
6.17).
Paulo conclui a perícope
advertindo: “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no
vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6.20). Ele traz
à memória o preço que Cristo pagou pela comunidade e a morte vergonhosa de
cruz. Por gratidão, o cristão deve glorificar a Deus por meio de seu corpo, não
o profanando, e espírito, pois foi criado para louvar e glorificar a Deus (Is
43.7; Ef 1.11,12; 1 Co 10.31).
Quando o desejo da
carne quiser dominá-lo, lembre-se do preço pelo qual você foi comprado!
Leitura Complementar:
Fonte: Cobiça e Orgulho – Combatendo o desejo da carne, o desejo dos olhos e a
soberba da vida. Editora CPAD | Autor: Pr. Natalino das Neves.
Obs. Ao comprar um livro,
você remunera e reconhece o trabalho do autor e o de muitos outros
profissionais envolvidos na produção do livro.