Obs. Subsídio para a
classe de Jovens. Lição 3 – 1° trimestre de 2019.
I - Repetição de Advertências
1.
Pureza Social
A Bíblia não diz em lugar nenhum que
Deus é bom, bom, bom; ou justo, justo, justo; porém está escrito que Ele é
“Santo, Santo, Santo” (Is 6.3), fazendo emergir a presunção de que a
característica que mais demonstra a essência do caráter divino é a santidade.
Também não consta em nenhuma Escritura: seja bom, porque Eu sou bom; ou seja
justo, porque Eu sou justo, porém o Senhor recomenda: “Sede santos, porque eu
sou santo” (1 Pe 1.16), demonstrando que, quando se busca a santidade, o ser
humano anela cumprir o desejo primordial do Altíssimo: ser “conforme à imagem
de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm
8.29). O povo de Israel, assim como a Igreja, foi predestinado (não
individualmente, como pensam os calvinistas de modo equivocado) para ser santo
como Cristo!
Nesse diapasão, em Hebreus 12.14 está
escrito que somente quem busca ser aperfeiçoado em santidade, seguindo pelo
caminho da santificação, de forma gradual e contínua, poderá ver o Senhor. Ou
seja, viver em santificação é requisito indispensável para ir morar no céu!
Mister lembrar, porém, que somente quando se chegar ao céu é que se alcançará a
santidade integral — a estatura de varão perfeito.
Diante desse elevado padrão de
separação de tudo que era contaminado, Deus estabeleceu leis bastante
restritivas, com o afã de demonstrar a total pureza do seu caráter e como seus
filhos deveriam agir. Em Números 5.1-10, por exemplo, o Senhor tratou sobre a
pureza social. Deus, portanto, querendo proteger a saúde do povo, determinou
que os contaminados pela bactéria da lepra, por fluxo corporal ou por terem
tocado num morto, fossem lançados fora do arraial; bem como tratou acerca da
restituição de quem causasse prejuízo a outrem. O povo de Deus tinha que ter
pureza em todos os aspectos. Assim, os hebreus deveriam se livrar de “toda a
aparência do mal”, de tudo o que fosse prejudicial ao espírito, à alma ou ao
corpo.
Dessa forma, os que aparentavam algum
tipo de “contaminação” biológica deveriam ser apartados do povo, mas não
mortos, até que ficassem purificados; e os que tivessem comportamento
inadequado, restituíssem devidamente aos prejudicados. Não é demais lembrar
que, como diz 1 Coríntios 10.6, “essas coisas foram-nos feitas em figura”.
2.
Pureza Relacional
O Eterno queria que os hebreus
formassem famílias felizes, as quais fossem modelo para o mundo. Afinal, sobre
aquele povo pendia a promessa: “em ti serão benditas todas as famílias da
terra”. Ocorre que, infelizmente, “os conflitos em família não são incomuns,
pelo contrário, desde os tempos primordiais eles existem. São fruto natural da
desobediência do ser humano ao seu Criador”. Sendo assim, o Espírito do Senhor
tratou de pureza relacionai no casamento (Nm 5.11-31). Em uma sociedade dominada
pelos homens, em que as mulheres eram tratadas como mercadoria, essa lei era
muito valiosa para as famílias, pois evitava que as esposas sofressem injúrias
ou difamações levianamente.
Victor
P. Hamilton trata com profundidade sobre essa determinação divina:
O
terceiro parágrafo do capítulo (vv. 11-31) prossegue no tema da preservação da
santidade no meio do povo de Deus. A questão aqui é um suposto ou real
adultério por parte de uma esposa. O marido suspeitava da infidelidade, mas não
havia nenhuma testemunha, nem a mulher era pega em uma situação embaraçosa.
[...]
É fascinante que mesmo a suspeita de um pecado precise ser investigada. Se a
suspeita não desse nada, nenhuma providência seria tomada; mas se fatos
anormais e perturbadores viessem à tona, eles deveriam ser enfrentados.
[...]
Longe que aviltar a mulher, obrigando-a a atender todos os caprichos de um
marido leviano, o procedimento promove exatamente o contrário. Após observar a
posição muitas vezes inferior da mulher no Antigo Testamento, Brichto comenta:
“O ritual [...] é um estratagema em favor da esposa. Ele propõe que o marido
prove o que alega ou se cale”. Ao suspeitar de sua esposa, o marido deve ter
coragem suficiente para pôr em ação um mecanismo que estabelece a verdade de
uma forma ou de outra. Se não tiver coragem para passar da suposição à prática,
deverá abandonar as acusações e interromper quaisquer insinuações.
Deus, em sua sabedoria, criou um
mecanismo jurídico religioso que resolvia uma questão, a qual, muitas vezes,
apresentava-se insolúvel. Na família de uma nação santa, os cônjuges precisavam
viver em paz, sem nenhuma sombra de acusação. Em que pese o procedimento ser
rudimentar, talvez esse fosse o único compatível, do ponto de vista
sociojurídico, em face da “dureza de coração deles” (Mt 19.8).
3.
Pureza Espiritual
Ainda dentro do aspecto da santidade,
Deus estabeleceu um padrão para aqueles que quisessem se consagrar para
servi-lo: fazer o voto do nazireado (Nm 6.1-21). Não poderia ser de qualquer
maneira, mas as pessoas precisavam se submeter aos paradigmas estabelecidos:
abster-se de vinho e de outras bebidas fermentadas, além de qualquer coisa
associada a elas; o cabelo não podia ser cortado e, também, era proibido tocar
em um cadáver. “O nazireu continuava vivendo um estilo de vida normal durante o
período do seu voto, mas era um protesto vivo contra aquilo que estimulava o
pecado (cf. Gn 9.20; Pv 31.4,5; Is 28.7)”.
O Altíssimo anelava que Israel fosse
“uma nação sagrada, pela qual sua glória seria manifestada em toda a terra. Ele
deu a essa nação um conjunto de leis e normas únicas e gloriosas para viver;
princípios maravilhosos de santidade e divindade”, a fim de manifestarem a
glória daquEle que os libertou do Egito com mão forte e braço estendido.
Impressionante como, no caso do nazireado, o Senhor estabeleceu diversos
detalhes, para que todos compreendessem: não se pode servir a Deus sem regras,
ou pior, criando suas próprias regras.
O Senhor ensinava ao seu povo que a
maneira de adorar já estava definida no céu e que, por isso, o adorador deveria
conhecer e adequar-se ao padrão divino. Esse modelo foi inaugurado no Sinai e
transpôs os milênios até os tempos do ministério de Jesus, bem como da Igreja
Primitiva, e alcançou os dias atuais. Ocorre que, nas últimas décadas, tem surgido
uma “nova espiritualidade” no seio das igrejas evangélicas, que faz presumir
que o indivíduo que busca ser um adorador tem autoridade para determinar o que
é melhor para ele, definindo inclusive o que é espiritualidade para si mesmo.
Nessa “nova espiritualidade” não
existe mais um consenso acerca do caminho da adoração cristã; todavia, há um
sem número de atalhos ou combinações de atalhos para uma pessoa seguir,
conforme seus próprios gostos, numa espécie de utilitarismo sentimental — a
opção pelo que seja mais útil para satisfazer os sentimentos do indivíduo
acerca do que é ser espiritual. Nessa concepção de espiritualidade, a verdade
não é constante, absoluta, mas surge a partir do contexto histórico e cultural,
uma vez acreditar-se que ela está em contínua mudança para acomodar nosso
desenvolvimento. Não! O padrão da genuína adoração não muda por causa do
decorrer dos anos. A Terra deve se prostrar diante do céu, de acordo com os
padrões celestiais, mas nunca o contrário!
Assim, fazer “festa junina gospel” no
santuário do Senhor, colocar telões na congregação para assistir a jogos de
futebol, transformar, nas madrugadas, o templo em “boate gospel” são exemplos
dos efeitos abomináveis práticos dessa “nova espiritualidade” que tenta
dessacralizar o que foi consagrado ao Senhor. O padrão de pureza espiritual e
litúrgica, como recebido dos pioneiros da fé evangélica, aqueles que fincaram
os marcos antigos (Pv 22.28), não deve ser removido! Deus espera que seu povo
seja nazireu d Ele, seguindo as determinações de santidade. Afinal, “a falta de
santidade conduz à inutilidade no Reino de Deus. Sempre foi assim, e sempre
será”.
II - Comunhão no Deserto
1.
Tempo de Comunhão
A festa da Páscoa, acompanhada da
festa dos pães ázimos, que vinha logo a seguir, apresenta-se como a grande
festa que celebra a saída do Egito. Deus determinou que ela tivesse seu início no
dia quatorze do primeiro mês (correspondente ao mês de abril) e durava cerca
oito dias (Lv 23.5,6). Era, por óbvio, uma extraordinária celebração de
comunhão. Nesse instante, os sacerdotes levitas já haviam sido consagrados e a
celebração da Páscoa poderia começar. Era um tempo de comunhão. Impossível
esquecer que a Páscoa deveria ser celebrada “segundo todos os seus estatutos e
segundo todos os seus ritos” (Nm 9.3). Pela leitura constante de Êxodo 12,
observa-se que havia muitos mandamentos pascoais, os quais precisavam ser
plenamente satisfeitos, para que Deus aceitasse aquela celebração de comunhão.
Seriam instantes memoráveis na presença do Senhor, mas desde que as regras, os
estatutos, não fossem esquecidos.
2.
Exigência Divina
Os hebreus, observando os regramentos
de Levítico 11-15, preocuparam-se com a possibilidade de não poderem comer a
páscoa por haverem tocado no cadáver de um homem. Mesmo não existindo nada
acerca disso em Êxodo 12, eles estavam corretos com esse cuidado. Os crentes da
atual dispensação, de igual modo, precisam ficar bastante atentos para não
participarem indignamente da ceia do Senhor, para que não transformem uma festa
de comunhão em maldição (1 Co 11.27-30).
Deus
exigia santidade, porque Ele mesmo é santo. Robert Daniels lembra, com verdade,
a suprema importância da santidade, como se vê:
A
santidade é para um cristão o que a segurança contra a água é para um navio.
Mas o objetivo de um navio de guerra não é simplesmente manter a água fora do
seu casco. Seu propósito é entrar na guerra, lutar e trabalhar para conseguir a
vitória. Não entrar na batalha torna o navio inútil à nação que o construiu, e
o cristão que não entra na guerra pelas almas dos homens torna a crença inútil.
Ele deve se envolver na batalha para a qual o Pai o chamou.
Interessante que, embora Deus os tenha
impedido de participar da Páscoa, afirmou que não dispensaria a adoração deles,
providenciando, por isso, um dia alternativo para a comunhão. Todos são
importantes diante do Pai.
3.
Igualdade dos Adoradores
Números 9.14 é um lampejo da abundante
graça de Deus em pleno tempo da Lei mosaica. Quando da celebração da Páscoa,
Deus informou que não havería acepção de pessoas, pois tanto o judeu como o
“natural da terra” (o Senhor falava sobre o futuro, quando Israel entrasse em
Canaã), deveriam seguir ao mesmo estatuto pascal. Todos seriam considerados
filhos, embora alguns não fossem descendentes de Jacó. Isso é algo bem parecido
com os que entregam suas vidas a Jesus, pois, como diz Champlin, “a alusão é a
algum convertido [...] gentio que aceitara as responsabilidades próprias da fé
dos hebreus [...]. Os prosélitos eram circuncidados, e assim tornavam-se
membros partícipes do pacto abraâmico”.
Como resultado disso tudo, a santidade
de Deus era honrada, pois o Senhor não fechava os olhos aos pecados dos não
judeus, nem afrouxava suas exigências, mas justificava, por atos retentivos da
Lei mosaica, aqueles que eram etnicamente diferentes, mas cujos corações
anelavam estar separados (santificados) para o Altíssimo. Deus simplesmente
justificava os injustos, quer fossem judeus, quer fossem gentios, e assim
teriam condições de se assentar à mesa da comunhão pascal.
Há igualdade entre os adoradores. Deus
não tem filhos prediletos. Aqueles que se achegam a Ele, independentemente de
suas etnias, são recebidos com alegria pelo Pai amoroso.
Conclusão
O caminho da perfeição moral e da
pureza era perfeitamente possível ser palmilhado e, por isso, o Eterno legou
aos hebreus inúmeras regras de conduta e adoração no Sinai, algumas das quais
foram repetidas ao longo da jornada. O grande problema da primeira geração de
he breus é que, embora tenham saído do Egito, o Egito não saiu deles. Se a
busca pela santidade tivesse se tornado a coisa mais importante para aquela
nação, o fim da história dos que atravessaram o Mar Vermelho teria sido
diferente.
Fonte: Rumo à Terra Prometida: A peregrinação
do povo de Deus no Deserto no Livro de Números. Autor: Reynaldo Odilo. Editora
CPAD
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