Já na véspera Jesus
sofrerá, no jardim das Oliveiras, uma agonia moral espantosa, produzida pela
previsão de sua Paixão física, e pela consciência de que Ele receberia sobre
si, quando estivesse no Calvário, todos os pecados dos homens para redimi-los.
Ele próprio havia dito aos seus discípulos: “Minha alma
está triste até à morte”
(Mc 14.34), expressão semita para designar uma “tristeza mortal”.
Fenômeno conhecido em medicina como
hematidrose
Esta grave perturbação
acarretou um fenômeno conhecido em medicina como hematidrose, do qual o
evangelista Lucas, como médico, dá uma descrição perfeitamente clínica e
surpreendente em sua brevidade.
A causa
O fenômeno, aliás raro, é
provocado por um grande abalo moral, seguido de profunda emoção e de grande
medo. Lucas descreve a luta da natureza humana de Jesus diante do cálice de
sofrimento que se apresentava a Ele, e sua aceitação desse cálice: “...contudo,
não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22. 42). Marcos acrescenta que
Jesus “começou a sentir temor e angústia” (Mc 14.33).
Lucas
continua: “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E
aconteceu que seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc
22.44).
O texto grego, porém, diz
com mais exatidão: “Egéneto ho hidrós
autou hosei thrombos haímatos katabaínontes epi ten gcn”. Ora, thrombos quer dizer “coágulo”. Notemos
que estes coágulos de sangue sempre têm atrapalhado bastante os tradutores.
Coágulos, dizem eles com toda a razão, não podem sair do corpo. E assim passam
a torturar as palavras por não terem compreendido o fenômeno fisiológico. Em
alguns manuscritos antigos esta passagem foi suprimida por alguns copistas que
a julgaram indigna da divindade de Jesus Cristo.
Ora, esse fenômeno que em
linguagem técnica chamamos hematidrose, consiste em intensa vasodilatação dos
capilares subeutâneos. Distendidos ao extremo, rompem-se em contato com milhões
de glândulas sudoríparas espalhadas por toda a pele.
Essa mesma vasodilataçâo
provoca intensa secreção das glândulas sudoríparas. O sangue se mistura com o
suor, e esta mescla poreja por toda a superfície do corpo. Porém, uma vez em
contato com o ar, o sangue se coagula. Os coágulos assim formados sobre a pele
caem por terra levados pelo abundante suor. Foi por isso que Lucas, como bom
médico e bom observador que era, escreveu: “E seu suor tornou-se como coágulos
(não gotas) de sangue que caíam até o solo” (Lc 22.44).
Deste fenômeno podemos tirar
imediatamente duas consequências.
A primeira é ter havido considerável diminuição da
resistência vital de Jesus após esta hemorragia, que é um caso grave, devido à
extensão da superfície em que ela se produz.
Em
segundo lugar, devemos atentar para o estado anormal em
que ficou sua pele após Ele ter sangrado na intimidade de suas glândulas
sudoríparas, em toda a superfície do corpo. Ficou mais sensível, dolorida e,
portanto, menos apta a suportar as violências e os golpes que iriam atingi-la
na noite e no dia seguinte, antes da crucificação.
Adaptação: www.subsidiosebd.com | Referência: BARBET,
Pierre. A Crucificação de Cristo Descrita por um Cirurgião. 1ª edição de 2018.
Editora Central Gospel.