“E OS filhos de Arão, Nadabe e
Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram
incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o SENHOR, o que não lhes
ordenara. Então saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante
o SENHOR (Lv 10.1,2). Os filhos de Arão foram negligentes quanto às leis para
os sacrifícios. Em resposta, Deus os destruiu com fogo consumidor.
I – NADABE E ABIÚ (Lv 10.1)
A história de Nadabe e Abiú pode ser
encontrada em Levítico 8—10. Eles são também mencionados em Êxodo 24.1,9; 28.1;
Números 3.2-4; 16.60,61.
1. Quem era Nadabe
Nadabe era o primeiro filho de Arão e sua
esposa Eliseba; seus irmãos foram Abiú, Eleazar e Itamar (Êx 6.23; Nm 3.2;
26.60; 1 Cr 6.3; 24.1,2).
a) A experiência de Nadabe
Na época da confirmação da Aliança do Senhor
com Israel, Nadabe estava entre os 70 anciãos que “viram o Deus de Israel”,
quando acompanharam Moisés parte do caminho até o monte Sinai (somente Moisés
aproximou-se do Senhor: Êx 24.1, 9). Juntamente com o pai Arão e seus irmãos,
foi apontado como sacerdote para servir ao Senhor e recebeu trajes especiais
para esse fim (Êx 28.1,2). Como oficiante, devia ser santo e separado para esse
serviço.
Lamentavelmente, tempos mais tarde Nadabe e
Abiú morreram por terem oferecido “fogo estranho perante a face do Senhor, o
que ele não lhes ordenara” (Lv 10.1; Nm 26.61). penalidade por comprometer a
santidade de Deus era a morte.
2. Abiú
No hebraico, significa “de quem Deus é pai”.
Foi o segundo dos filhos de Aarão e Eliseba (Êx. 6.23. Núm. 3.2. 26.60; 1 Cr
6.3; 24.1). Juntamente com seus irmãos Nadabe, Eleazar e Itamar, Abiú foi
separado e consagrado para o sacerdócio (Êx 28.1).
II – FOGO ESTRANHO PERANTE
O SENHOR
A obediência às ordens divinas (caps. 8 e 9 de
Levítico) tinha resultado na descida de fogo divino, que era um sinal de
aprovação, consumindo os sacrifícios de dedicação dos sacerdotes. Mas o fogo
estranho de Nadabe e Abiú produziu um resultado desastroso, e Arão precisou
absorver o golpe de perder seus dois filhos mais velhos, logo no primeiro dia
do ministério sacerdotal.
1. O pecado de Nadabe e Abiú
Os comentaristas têm algumas sugestões sobre o
pecado de Nadabe e Abiú, o qual é referido como “fogo estranho” (literalmente, fogo profano). Vejamos:
a) O incenso não foi feito de acordo com as
instruções de Moisés (Ex 30.34-38).
b) Encheram seus incensários[1] com
fogo comum, e não com fogo tirado do altar, o único que podia ser usado com
esse propósito (Lev. 9.24; 16.12). O fogo sobre o altar tinha descido da parte
de Deus e era mantido aceso mediante a regra das chamas perpétuas (Lv. 6.12,13).
Quando do estabelecimento da adoração
cerimonial, as vitimas colocadas sobre o grande altar de bronze eram consumidas
por fogo descido do céu. Foram dadas ordens para que esse fogo fosse mantido
aceso, e que o incenso diariamente oferecido fosse queimado em incensários
cheios de brasas tiradas do grande altar.
c) A oferta foi feita no momento errado (Ex
30.7,8).
d) Os infratores usaram incensários
inadequados (os deles mesmos).
e) Nadabe e Abiú assumiram uma função devida
exclusivamente ao sumo sacerdote; ou eles estavam sob influência alcoólica (Lv
10. 8-11).
É impossível falar com certeza sobre este
aspecto. O ponto essencial é que os dois sacerdotes exerceram funções
sacerdotais de maneira oposta às ordens do Senhor. Moisés deixou claro que o Senhor
deve ser santificado naqueles que se aproximam dele, a fim de que Ele seja glorificado
diante de todo o povo. Esta é uma ilustração de que, no Antigo Testamento, a
obediência era muito mais importante do que o sacrifício (1 Sm 15.22).
Metaforicamente, fogo estranho passou a
indicar aquele fervor, zelo, sistema religioso e práticas místicas e religiosas
que são estranhas ao cristianismo bíblico.
2. A consequência do fogo estranho
Ironicamente, foi pelo fogo que Nadabe e Abiú
morreram, mortos por uma chama consumidora que é característica da natureza de
Deus (Hb 12:29), que exige a adoração aceitável com reverência e santo temor.
Não se sabe exatamente como o fogo matou Nadabe e Abiú, ou se a palavra “fogo”
era um sinônimo para um raio de relâmpago. Eles morreram no Lugar Santo, diante
do véu que separava o Lugar Santo do Santo dos Santos. Era diante do altar do
incenso que se oferecia o incenso (Lv 10.4).
3. Na obra de Deus ninguém é
insubstituível
A linhagem sacerdotal continua através dos outros irmãos. Nem Nadabe e
nem Abiú tinham filhos (Nm 3.4; 1 Cr 24.2), pelo que, a sucessão sacerdotal
continuou através de seus irmãos mais novos.
4. O
juízo de Deus a fim de advertir o povo
Pode nos parecer estranho que Deus tivesse dado cabo de Nadabe e Abiú em
vez de simplesmente admoestá-los. Mas, com frequência, no começo de uma nova
era da história da salvação, o Senhor trouxe juízo, a fim de advertir o povo. O
ministério sacerdotal no tabernáculo estava prestes a começar, e o Senhor
desejava certificar-se de que os sacerdotes compreendiam a seriedade de seu
trabalho.
a) Exemplos do juízo divino
Ø Quando Israel entrou na Terra Prometida, Deus usou a desobediência de
Acã como advertência (Js 7), e a morte de Uzá foi seu aviso quando a arca da
aliança foi levada para Jerusalém (2 Sm 6.1-7).
Ø Logo no início da história da Igreja, a morte de Ananias e Safira
serviu de advertência, a fim de que os santos não tentassem mentir para Deus
(At 5).
SUBSÍDIO
BÍBLICO-TEOLÓGICO
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Purificado
pelo fogo
Quando Israel começou a oferecer sacrifícios seguindo as instruções de
Deus, Sua presença foi revelada por meio do fogo, que consumiu o primeiro
holocausto (Lv 9.24). Não foi surpreendente o fato de as pessoas se prostrarem
em adoração. Elas tiveram respeito pelas chamas que indicavam a presença
Daquele a quem serviam. Em toda a Bíblia o fogo significa as coisas que devem
ser respeitadas, começando por Deus:
• Moisés descreveu o Senhor como um fogo que consome, um Deus zeloso
(Dt 4.24).
• A libertação divina de Davi foi descrita com imagens de fogo
(S118.8-14).
• Deus apareceu para Ezequiel em uma nuvem de fogo (Ez 1.4).
• Malaquias disse que Deus agiria como um fogo purificador no dia de
Sua Vinda (Ml 3.2).
• João Batista afirmou que Jesus batizaria as pessoas com o Espírito
Santo e fogo (M t 3.11 ;At. 2.3,4).
• A avaliação final do Senhor a respeito dos cristãos será feita pelo
fogo (1 Co 3.3-15).
• O apóstolo João teve uma visão na qual os olhos de Deus eram como
chamas de fogo (Ap 1.14).
Pedro nos lembra de que nossas provações e nossas tribulações são
testes de fogo, que ajudam a purificar nossa fé e torná-la genuína, como o
ouro puro (1 Pe 1.6,7;4.12,13).
[Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento, com
recursos adicionais – Editores: EarI D. Radmacher Ronald B. Allen H. Wayne House Central Gospel]
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III – PRIVILÉGIOS PERDIDOS
Por trazerem fogo estranho diante do Senhor,
Nadabe e Abiú, além de perderem seus privilégios perderam a sua vida.
PRIVILÉGIOS
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CONSEGUENCIA
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1) Pertenciam à tribo de Levi – a trio
honrada com o sacerdócio divino (Nm 3.1-12)
2) Eram filhos do grande sacerdote de Israel
– Arão
3) Eram os sucessores imediatos do pai no
sacerdócio
4) Estiveram presentes juntamente com os
mais destacados anciões de Israel, quando o Senhor deu a Lei por meio de
Moisés (Êx 24.1)
5) Haviam presenciados a manifestação da
glória de Deus (Êx 24.9,10)
6) Foram testemunhas oculares da aliança de
Deus com os Filhos de Israel (Êx 24.8).
7) Eles tinham conhecimento em primeira mão
sobre a santidade de Deus como poucos homens já tiveram, e pelo menos por um
tempo, seguiram a Deus de todo o coração (Lv 8.36).
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Perderam os privilégios, o Senhor os matou
†
Romanos 6.23: Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de
Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.
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Os filhos de Arão tinham ocupado por um período muito breve uma posição
privilegiada como líderes espirituais da nação, mas não tinham levado suas
responsabilidades tão a sério quanto exigia um Deus justo e santo.
IV – APRENDEDO COM OS ERROS DE NADABE E ABIÚ
A morte súbita dos filhos de Arão nos lembra
do perigo que rodeia cada ministro em cada momento de seu ministério. Sua experiência
nos dá lições importantes.
ü A Palavra de Deus contém prescrições para nosso ministério, e devemos
obedecer ao que o Senhor diz. As instruções de Deus são mais detalhadas para os
sacerdotes do Antigo Testamento do que para os ministros do Novo Testamento,
mas o Novo Testamento apresenta princípios e exemplos claros, de modo que não
devemos nos desviar deles.
ü Consagramo-nos para Deus, e ele nos consagra para seu serviço. Ele
quer servos puros, prontos a ceder, obedientes e "marcados" pelo
sangue e pelo óleo.
ü Sem a obra completa de Cristo e o poder do Espírito, não podemos
servir a Deus de maneira aceitável (1 Pe 2.5). Não há zelo carnal ou "fogo
falso" capaz de substituir a devoção ao Senhor quando esta é cheia do
Espírito. Certifique-se de que o "fogo" de seu ministério vem do
altar de Deus e não deste mundo.
ü Ministramos, antes de tudo, para o Senhor e para sua glória. Não
importa quanto sacrifiquemos e sirvamos, se Deus não receber a glória, não
poderá haver bênção.
ü Os privilégios do ministério trazem consigo responsabilidades sérias.
"Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido" (Lc
12:48).
ü Nossa maior alegria na vida deve ser servir ao Senhor e glorificar o
nome dele. "Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor"
(Sl 2.11).
O maior privilégio expõe uma pessoa a uma
disciplina mais severa. Se se sentir desconfortável com esta breve história de
Nadabe e Abiú, devemos lembrar que o Novo Testamento também diz que algumas
coisas igualmente duras sobre a responsabilidade de testemunhar a obra de Deus
ou estar em posições de liderança (Lucas 10. 12-15; 12.48 , Hebreus 6.4-6;
10.26-31; 1 Pedro 4.17).