Neste terceiro trimestre de 2018 as classes
de Escola Dominical de jovens, em todo o país, terão a oportunidade de
estudar onze dos cerca de 35 milagres realizados por Jesus, cujos relatos estão
nos Evangelhos. É sabido, por exemplo, que tal quantidade registrada não
constitui a totalidade do que o Mestre fez, e sim apenas que estes milagres
apresentados pelos evangelistas servem aos propósitos específicos e ao plano
literário de cada Evangelho individualmente ( Mc 1.34,39; Jo 20.30,31; 21.25).
Em uma época de
polarizações e do ressurgimento de posições teológicas que negam a
contemporaneidade dos dons espirituais e dos milagres, nada mais importante,
para o crente pentecostal, que refletir sobre os prodígios realizados pelo
nosso Salvador. Sobretudo pelo fato de que o objetivo do miraculoso, desde os
dias do ministério terreno de Jesus Cristo no primeiro século, continua a ser
exatamente o mesmo — prestar socorro, glorificar o nome do Senhor e demonstrar
que o Reino de Deus, embora não "completado", já está entre nós
(Lc11.14-20).
O
papel dos milagres no ministério de Jesus
O tema dos milagres de Jesus precisa
ser analisado levando-se em conta a mensagem do Reino de Deus e o ministério de
ensino desenvolvido pelo Senhor, pois havia perfeita consonância entre as ações
do Mestre e suas palavras (Lc 24.19). Marcos, tido tradicionalmente como o mais
antigo dos Evangelhos, registra que "depois que João [Batista] foi
entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do Reino de
Deus e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo.
Arrependei-vos e crede no evangelho" (Mc 1.14,15).
Para qualquer judeu a vinda do Reino de
Deus era esperada com muita ansiedade, portanto, para que pudessem crer no
"evangelho", isto é, o anúncio de que este tempo realmente havia
chegado, era preciso que eles vissem os sinais que o caracteriza. Seguindo seu
intento de evidenciar tal realidade, Marcos diz que Jesus foi a uma sinagoga
num sábado e ali ensinava. Entre os presentes havia um homem atormentado por um
espírito imundo e este se manifestou no momento em que Jesus ministrava. O
Senhor repreendeu o espírito imundo, expulsando-o do homem. Na sequência, o
texto diz que "todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si,
dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos
espíritos imundos, e eles lhe obedecem!" (Mc 1.27). O ensino de Jesus não
era mera teorização, mas demonstração concreta da chegada do Reino de Deus,
pois aliava conhecimento com poder (Mt 22.29; 1 Co 2.4,5).
Tim Dowley informa,
com propriedade, que os milagres de Jesus "eram
'sinais' do Reino de Deus, mostrando que o reinado do Messias tinha começado, como
predisseram as Escrituras". O apóstolo João, autor do quarto
Evangelho, utiliza a expressão "sinais" para referir-se aos milagres
realizados pelo Senhor (Jo 2.11,23; 20.30). Na verdade, dentro do p ano
literário do Evangelho de João, os milagres formam o que os estudiosos chamam
de "livro dos sete sinais", abrangendo a primeira parte da obra (2.1
- 4.54; 5.1 - 11.54).
A expressão "sinal", do grego
semeion, apesar de se referir a
milagre e, de forma geral, demonstrar autoridade (Jo 2.18), particularmente no
quarto Evangelho, de acordo com Benny Aker, "diz respeito a um
acontecimento extraordinário e especial, chamando a atenção, para a atividade
salvadora de Jesus e aludindo à sua morte e ressurreição". Portanto, não
se trata de exibicionismo e muito menos espetacularização, antes, conforme o
mesmo autor:
Todos os sinais no Evangelho João partilham
do mesmo caráter. Cada um está ligado à obra de salvação de Jesus para um mundo
cego e pecador. Cada um aponta para além de si mesmo, em direção à natureza e
obra auto-reveladora de Deus em Jesus. Cada um é exclusivamente uma revelação
da obra de salvação de Jesus na cruz, impossível de ser duplicada pelo ser humano.
Esta obra pode ser feita pelos discípulos oferecendo-a peio evangelismo. Por um
lado, sem fé, as pessoas encaram estes sinais apenas como fenómenos, fatos para
chamar a atenção. Por outro, com fé, eles revelam a obra de salvação de Deus.
Como o estudioso atento já percebeu, no
quarto Evangelho, intercala-se sinal e discurso, e tal se dá pelo fato de que
de acordo com Wolfhart Pannenberg, "faz parte da função do sinal não
apenas que ele aponta para a coisa assinalada, mas também que alguém siga o
rumo para o qual o sina aponta", pois apenas "desse modo se cumpre a
função do sinal". Portanto, cada um dos milagres tem a tarefa não apenas
de apontar, mas de levar aqueles que conseguem ver além do miraculoso a seguira
direção sinalizada pelo feito. No caso que está sendo considerado, é preciso
decidir pela porta estreita e pelo caminho apertado do Reino de Deus (Mt 7.14).
O
que os milagres significam
Tendo refletido
brevemente sobre o papel dos sinais no ministério de Jesus, resta examinar
panoramicamente o significado dos milagres. O literato cristão irlandês, C. S.
Lewis, dizia que a produção do conhecimento, ou de como interpretamos a
realidade, depende de nossa "posição filosófica". Assim, no que diz
respeito aos milagres, por exemplo, ele instruía que antes de se afirmar i se eles acontecem ou não, é preciso
decidir entre os pontos de vista naturalista e sobrenaturalista.
No primeiro abrigam-se os que
"acreditam que não existe nada além da Natureza", no segundo,
alocam-se os que "julgam que além da Natureza existe algo mais".
Portanto, a pergunta que se impõe é a seguinte: "quem está certo, os
Naturalistas ou os Sobrenaturalistas?". A obra Milagres, de C. S. Lewis, é
de certa forma uma tentativa de responder essa questão. É assim que ele diz que
escolheu a "palavra Milagre para indicara intervenção de um poder
sobrenatural na Natureza". Considerando o fato de que existem leis que
governam essa natureza e que, por isso mesmo, ela apresenta regularidade e
linearidade, os "que creem em milagres não estão negando a existência de
normas ou regras, mas apenas que ela pode ser suspensa", ou seja, o
"milagre é, por definição, uma exceção".
Referindo-se
aos relatos de milagres registrados nos Evangelhos, C. S. Lewis divide-os em
dois sistemas.
O primeiro deles inclui
as classes:
1)
Milagres de Fertilidade;
2)
Milagres de Cura;
3)
Milagres de Destruição;
4)
Milagres de Domínio sobre o Inorgânico;
5)
Milagres de Inversão;
6)
Milagres de Santificação (ou de Glorificação)".
"O
segundo sistema", continua Lewis, "que atravessa o primeiro, produz
apenas duas classes:
1)
Milagres da Velha Criação e 2) Milagres da Nova Criação".As três primeiras
classes restringem-se à "Velha Criação", isto é, a realidade tal como
a experimentamos desde a Queda em Génesis 3. A quarta classe de milagres ocorre
em ambas e, finalmente, as classes 5 e 6 são exclusivas da "Nova
Criação". Mas o que significa a "Nova Criação"? Lewis oferece um
exemplo dizendo que "quando Cristo anda por sobre a água, temos um milagre
da Nova Criação".
Na
sequência ele explica:
Deus não criou a
Velha Natureza — o mundo antes da Encarnação — para que a água pudesse suportar
um corpo humano. Esse milagre é a antecipação de uma Natureza que se acha ainda
no futuro. A Nova Criação está apenas surgindo. Por um momento, parece que se
irá ampliar. Por um instante, dois homens estão vivendo nesse novo mundo. Pedro
também dá um ou dois passos sobre a água. Depois sua fé o abandona, e ele afunda,
voltando à Velha Natureza.
Trata-se, portanto,
do que alguns teólogos chamam de prolepse,
isto é, "antecipação". Finalizando, vale dizer que assim como os
milagres realizados pelo Senhor Jesus sinalizavam a irrupção do Reino de Deus,
os prodígios na contemporaneidade antecipam o que será "quando vier o que
é perfeito", quando "então, o que o é em parte será aniquilado"
(1Co 13.10).
ACESSE:
Lições Bíblicas 3° Trimestre de 2018,
Jovens – CPAD. Clique
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Divulgação: Fonte: Ensinador Cristão, N° 75 |
Artigo: Pr. César Moisés