Este mês, completam-se 500
anos da Reforma Protestante, um evento que marcou a história do cristianismo,
posto que resgatou alguns pontos importantíssimos da doutrina bíblica que
haviam sido esquecidos.
Foi em
31 de outubro de 1517 que o monge agostiniano Martinho Lutero fixou nas portas
da igreja de Wittenberg, na Alemanha, suas 95 teses provocadas pelo abuso na
venda de indulgências pela igreja Católica em terras germânicas. Esse foi o estopim para começar com um
movimento que, após a excomunhão do monge alemão, se espalhou pela Europa,
consolidando-se com o tempo.
Segundo o Pew Research Center,
após 500 anos da Reforma Protestante, dos cerca de 2,2 bilhões de cristãos no
mundo, há cerca de 800 milhões de evangélicos. Outros levantamentos falam de
até 970 milhões - a maioria esmagadora, claro, de pentecostais.
O TERMO PROTESTANTE
O
termo "protestante" surgiu em 1529 quando os príncipes luteranos
protestaram contra a decisão da Dieta de Speyer, que determinava a imposição do
catolicismo a cidades alemãs que haviam aderido ao movimento iniciado por
Lutero. O termo foi cunhado pelos opositores católicos, sendo, com o passar do
tempo, estendido para designar todos aqueles grupos de cristãos que não são nem
católicos nem ortodoxos (igrejas orientais).
PRINCÍPIOS DA REFORMA ESTÃO SENDO ESQUECIDOS
Como
já foi dito, a Reforma promoveu uma redescoberta da essência do Evangelho,
Essas verdades bíblicas esquecidas ou mitigadas foram resumidas pelos
reformadores em apenas cinco
pontos, os quais são "Sola gratia", "Solus Christus",
"Sola Scriptura", "Sola Fide" e "Soli Deo
Gloria".
1) "Sola gratia" significa
"Só a Graça". Esse princípio quer dizer que a
salvação do homem é uma questão de pura graça. O homem não pode operar a sua
salvação. Claro, ele deve realizar boas obras, mas suas obras não precedem a
sua justificação, mas seguem-na como seu fruto. A própria justificação é obra
da graça de Deus.
2) "Solus Christus" quer dizer
"Somente Cristo". Isso
expressa a mesma verdade anterior, apenas as palavras são diferentes: é somente
através de Jesus Cristo que podemos chegar a Deus. Há um Deus, e há um só
mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus (1Tm 2.5). Não há lugar
para Maria ou para os santos como mediadores no esquema divino da salvação. Não
há também sacerdotes intermediários. Não há lugar na igreja para "Alter
Christus" ("Outro Cristo"). Somente Jesus é Aquele de que
precisamos. Ele é a nossa sabedoria, a nossa justiça, a nossa santificação e a
nossa redenção (1Co 1.30).
3) "Sola Scriptura", por sua vez,
quer dizer "Somente as Escrituras".
Esse princípio afirma que
Deus tem a primeira e a última palavra em nossa vida através de Sua Palavra.
Não há lugar para a tradição eclesiástica - por mais antiga e venerável que
seja - como algo igual em autoridade. A Bíblia é a nossa única regra de fé e
prática.
4) "Sola fide" significa
"Somente a fé".
Esse princípio assevera a
verdade de que a única possibilidade para o homem receber a graça de Deus é
aceitá-la pela fé. Esta fé não derroga a "Sola gratia", como se o homem
ainda tivesse de contribuir para a obra da salvação. Pelo contrário, é apenas a
mão vazia pela qual recebemos o dom da graça. Fé sempre significa olhar
completamente para fora de si mesmo, para Jesus.
5) "Soli Deo Gloria" significa
"Somente a Deus a glória".
Ou seja, toda glória é
devida somente a Deus, e não a homens, santos, papas ou quaisquer autoridades
eclesiásticas, por mais piedosas que sejam.
EVANGELICALISMO
MODERNO E OS PRINCÍPIOS DA REFORMA
Não obstante não vivermos
hoje no mesmo contexto da Reforma do século 16, tais princípios
supramencionados, os quais são bíblicos, são igualmente importantes para a
igreja e nossas vidas nos dias de hoje. Eles não podem ser olvidados, sob pena
de cairmos nos mesmos erros que a igreja medieval e a do início da Era Moderna
estava vivendo em sua esmagadora maioria.
Se não, vejamos.
Quanto
ao princípio "Só a Graça", o evangelicalismo moderno deve se
perguntar:
1) Será que nós, como igreja
evangélica, não sofremos a tentação hoje de atribuirmos a salvação ou a
aquisição de bênçãos específicas a algum esforço humano? Não seria a promessa
de felicidade, bênçãos e vitória através de uma contribuição financeira a volta
do princípio da venda de indulgências e bênçãos?
A teologia da maldição
hereditária e da prosperidade não seriam um vilipêndio à doutrina da graça?
2) Será que nós, como igreja
evangélica, muitas vezes não somos tentados a nos apoiar no braço da carne, nas
meras técnicas humanas, para produzir crescimento de igreja e demais avanços na
obra de Deus, em vez de confiarmos sobretudo ou exclusivamente na graça de
Deus?
Quanto ao princípio "Somente Cristo", a igreja
evangélica precisa se perguntar:
1) Será que nós, como igreja
evangélica, não caímos muitas vezes na tentação de criarmos outras formas de mediação
a Deus além de Cristo, algo como "auxílios" ou
"auxiliadores" complementares?
2) Será que nós, como igreja
evangélica, também não caímos às vezes na tentação de colocarmos uma caricatura
de Cristo, em vez do Cristo verdadeiro, bíblico, como mediador das bênçãos?
Quanto ao princípio "Somente as Escrituras", muitos
devem se perguntar:
1) Será que nós, como igreja
evangélica, não somos tentados às vezes a colocar tradições humanas no mesmo
nível da autoridade da Palavra de Deus?
2) Será que nós, como igreja
evangélica, às vezes não caímos na tentação de colocarmos em detrimento a
pregação e o ensino da Palavra de Deus em nossos cultos, valorizando mais a
cantoria e mensagens curtas meramente motivacionais, que não amadurecem a fé
dos cristãos?
Quanto ao princípio "Somente a fé", os evangélicos em
geral devem se perguntar também:
1) Será que nós, como igreja
evangélica, às vezes não caímos na tentação de valorizarmos mais as obras do
que a fé?
2) Será que nós, como igreja
evangélica, às vezes não caímos na tentação de confundirmos a verdadeira fé com
uma vida cristã superficial?
E, finalmente, quanto ao princípio "Somente a Deus a Glória",
os evangélicos de hoje devem se perguntar:
1) Será que nós, como igreja
evangélica, por vezes não somos tentados a dividir a glória de Deus com homens?
2) Será que nós, como igreja
evangélica, às vezes não esquecemos que dar glória a Deus não significa apenas
reconhecer publicamente, por alguns minutos, que tudo o que somos e temos vêm
dEle, mas é, sobretudo, vivermos para Ele, buscarmos constantemente a Sua
vontade para nossas vidas, sempre priorizar Deus em nosso dia-a-dia?
Fonte: Jornal Mensageiro da Paz, outubro
de 2017
Divulgação: Subsídios EBD
Blog: www.sub-ebd.blogspot.com