Lição: Jovens e Adultos
Trimestre: 4°
de 2017
Comentarista:
Pr. Gilmar Vieira Chaves
Editora:
Central Gospel
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Lucas 1.1-4
1 TENDO, pois, muitos empreendido pôr em
ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram,
2 Segundo nos transmitiram os mesmos que
os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra,
3 Pareceu-me também a mim conveniente
descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado
minuciosamente de tudo desde o princípio;
4 Para que conheças a certeza das coisas
de que já estás informado.
Atos 1.1-3
1 FIZ o primeiro tratado, ó Teófilo,
acerca de tudo o que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar,
2 Até ao dia em que foi recebido em
cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que
escolhera;
3 Aos quais também, depois de ter
padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por
eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de
Deus.
TEXTO ÁUREO
Olhando
para Jesus, autor e consumador da fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto,
suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de
Deus. Hebreus 12.2
SUBSÍDIOS PARA O
ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - João
14.1-6 : Um só caminho
3ª feira - 1
Timóteo 2.1-5: Um só Deus
4ª feira -
Atos 4.8-12: Um só Salvador
5ª feira -
Salmo 119,97-107: Uma só Palavra
6ª feira -
Efésios 4.1-5: Uma só fé
Sábado -
Romanos 11.33-36: Somente a Deus, toda a glória
OBJETIVOS
Ao
término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• definir historicamente a
Reforma Protestante;
• compreender os fatos que serviram
de arcabouço para esse grande acontecimento na história da humanidade;
• discernir os efeitos e o
alcance da Reforma, como também seus principais ensinos.
ORIENTAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Certo educador disse que a relação entre o professor e o aluno
não deve basear-se na imposição, mas, sim, na cooperação e no respeito mútuo,
visando ao crescimento. Significa dizer que o educando deve ser considerado um
sujeito ativo na construção do aprendizado.
Você, professor, como pessoa mais madura, exerce um papel
fundamental nesse processo; portanto, incentive a interação e participação em
classe dos seus alunos.
Excelente aula!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
A
Reforma Protestante foi, sobretudo, uma tentativa de restauração do verdadeiro
cristianismo, ou seja, um retorno às doutrinas dos apóstolos (At 2.42) e ao
ideário da missão da Igreja primitiva.
Além de ser um marco histórico para a Igreja de Cristo na terra,
esse movimento também impactou fortemente a estrutura política, económica e
social das nações. Desde esse acontecimento de elevada notoriedade, a Igreja de
Cristo e o mundo jamais foram os mesmos.
Nesta
lição, abordaremos os fatos que formaram o contexto em que essa singular
revolução ocorreu.
1. DEFINIÇÃO DO TERMO
Entende-se
por Reforma Protestante o fato histórico ocorrido na Europa no século 16,
especificamente no ano de 1517. Naquela época, densas trevas cobriam a Igreja,
por conta dos desvios perpetrados por seus representantes oficiais, seus
doutores e também por aqueles que professavam a fé popular. Foi um tempo de
total declínio, do ponto de vista espiritual e moral.
Como consequência, ensinos bíblicos de viés distorcido passaram a
fazer parte das doutrinas da Igreja; e os sacerdotes adotaram a corrupção e
toda espécie de abuso no corolário de suas práticas pessoais e eclesiais.
Por Meio da Reforma Protestante, a Igreja
Medieval foi passada a limpo; assim, experimentou um dos maiores avivamentos
espirituais de todos os tempos. Suas doutrinas, teologias e liturgias foram
profundamente modificadas.
1.1. Aplicação prática
O
conhecimento da Reforma é um pré-requisito para compreendermos a realidade
eclesiástica atual, uma vez que somos todos frutos desse monumental evento que
gerou, no Brasil e no mundo, as igrejas chamadas evangélicas.
Isso significa que todo
verdadeiro cristão, para construir sua identidade de fé, precisa saber de onde
veio, qual é a sua história e em que direção está seguindo para, então,
investir tempo no estudo detalhado de seus princípios doutrinários e aplicá-los
em sua vida.
1.2. Identidade reformista
A falta de consciência relacionada à identidade reformada pode
ser trágica para a Igreja e para todos que professam a fé evangélica.
Não
há como negar a genuinidade bíblica dos ensinos dos reformadores; portanto, a
eles devemos total fidelidade. Suas doutrinas sobre a singularidade da fé e da
Graça e sobre a salvação oferecida a todos — sem qualquer intermediação, mas
unicamente por meio do sacrifício do Senhor Jesus — são pilares dos quais não podemos
nos afastar (At 4.12; 1Tm 2.5; Rm 11.36).
A perda dessa identidade tem levado a Igreja a toda sorte de
desvios doutrinários, ventos de doutrina, modismos e esfriamento espiritual.
2. ANTECEDENTES
HISTÓRICOS
Como
todo grande acontecimento só ocorre com o auxílio dos fatos que o precedem,
assim também a Reforma aconteceu dentro de um cenário composto por alguns
fatores.
2.1. Fator litúrgico
No
período que antecedeu a Reforma, a Igreja passou por um processo chamado clericalização da liturgia.
O Clero era formado por todos os
sacerdotes, bispos, padres, cardeais e papas. O povo, nesta
configuração, foi reduzido à condição de mero espectador. Não havia qualquer
participação dos leigos no serviço dos cultos nas igrejas.
Essa centralização das atividades eclesiásticas ocorria em total
negação ao sacerdócio universal dos crentes, preconizado por Pedro: vós também,
como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para
oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1Pe
2.5).
2.2. Fator doutrinário
O
desejo desenfreado do Clero de converter as massas pagãs (e encher os templos)
levou-o ao relaxamento em relação aos princípios bíblicos. Assim, práticas
notadamente idólatras e profanas passaram a fazer parte da liturgia.
A Igreja, então, começou a ensinar aos fiéis a adoração aos
anjos, aos santos, a imagens de escultura e a ídolos, em franca oposição ao que
está registrado em Êxodo 20.4 e Deuteronômio 5.6-9.
Como boa parte das pessoas que ingressava na
Igreja procedia de
ambientes pagãos acostumados a imagens,
estátuas e ídolos do lar, o Clero acabou por incorporar práticas, festas e
ritos, totalmente alheios aos padrões bíblicos, em seus cultos.
2.3. O declínio moral do
Clero
O
vínculo estreito entre a Igreja e os governantes daquele tempo desencadeou toda
espécie de corrupção. Algumas práticas, em rota de
colisão frontal com a Palavra de Deus, passaram a ser vistas como normais, tais
como:
• a simonia — compra e venda de cargos eclesiásticos e benefícios
espirituais (como indulgências e sacramentos);
• o nepotismo — nomeação de pessoas a cargos eclesiásticos pelo grau de
parentesco, desconsiderando-se a vocação e/ou a competência;
• o absentismo — ocupação de um cargo
eclesiástico em que as atividades são exercidas por intermediários, não pelo
nomeado.
A
Igreja era tratada como comércio
e meio de produção de riquezas. Cada
bispado, ou sede eclesiástica, era visto como fonte potencial de arrecadação
financeira, o que passou a motivar severas
disputas entre cardeais, bispos e papas, como também entre duques, condes, príncipes
e reis.
3. OS MOVIMENTOS PRÉ-REFORMISTAS
Por
conta dos desvios teológicos da Igreja e da conduta
amoral dos seus dirigentes durante a Idade Média (séculos 13—15), começaram a
surgir movimentos populares que clamavam por mudanças e por reformas no sistema
religioso vigente.
Esses
movimentos dividiam-se em dois segmentos: os aceitos e os rejeitados pela
Igreja.
Os
rejeitados divergiam doutrinariamente de pontos importantes ensinados pela
Igreja Romana e, por isso, seus adeptos foram perseguidos, presos e
martirizados. Dentre
esses movimentos, destacaram-se os listados a seguir.
3.1.
Os valdenses
Movimento iniciado por Pedro Valdo, um comerciante rico que
ouviu a Palavra de Deus na cidade de Lyon, França.
Pedro Valdo,
renunciando aos seus bens, deu tudo quanto possuía
para viver na pobreza e seguir o exemplo de pregação dos apóstolos. Ele utilizava Mateus 10 como base para seus sermões e
atraía multidões; também ensinava que todos deviam ler a Bíblia — por ser ela
autoridade final sobre fé e vida — e que qualquer leigo poderia entendê-la e
pregar sobre seus ensinos.
Os seguidores de Pedro
Valdo, mesmo ameaçados, continuaram a pregar. Foram
perseguidos e, em 1184, excomungados. Fundaram seu próprio clero e, mais
tarde, no século 16, juntaram-se aos protestantes reformados.
3.2.
Os cátaros
Combatiam
o enriquecimento e a corrupção do Clero;
cultivavam um estilo de vida baseado na simplicidade; e viviam em jejuns e
orações, com um ascetismo acentuado. Foram acusados de hereges, porque, segundo
as autoridades eclesiásticas de Roma, criam na dualidade entre o bem e o mal e
negavam a humanidade de Cristo.
Perseguidos
pela inquisição medieval, os cátaros
foram exterminados à espada em 1209.
3.3.
Os pré-reformadores
A mão de Deus operou de forma poderosa no período que antecedeu
a Reforma, levantando homens consagrados, estudiosos das Escrituras e
dedicados à oração, para serem uma voz profética
em meio às trevas espirituais e aos desvios do Clero.
A atuação desses homens — sobre alguns estudaremos
na próxima lição — rendeu-lhes a prisão, tortura e morte; porém, também abriu
um imenso caminho para a pregação dos reformadores.
4. FATORES CAUSAIS DA
REFORMA
A Reforma Protestante foi motivada, basicamente, por duas
tristes realidades:
(1) a incapacidade de a instituição religiosa chamada igreja
responder aos mais sinceros anseios do povo; e
(2) os desvios doutrinários (e de conduta) do Clero. Porém,
algumas mudanças ocorridas no Continente Europeu, à época, pavimentaram o
caminho para que essa grande revolução acontecesse.
4.1. Mudanças políticas
O
mundo vivia o fim da Idade Média e adentrava a Idade Moderna.
A demarcação de terras levou à criação das nações-estado; cada
país equivalia a uma nação, com sua língua, cultura e história particulares — o
que criava certa unificação.
As pessoas não mais se viam como parte de um feudo restrito ou
de uma religião específica; elas sentiam-se parte de um grande povo, com
história e missão únicas.
Nesse
tempo, a única instituição que unia o continente era a Igreja Romana, na figura
papal. Isso dava um grande poder ao sumo pontífice em todas as nações da
Europa, pois ele podia intrometer-se nos assuntos políticos de diferentes
países, independente de sua localização geográfica.
4.1.1. A resposta dos
governantes ao clero romano
Os
novos governantes de vários países começaram a ver com grande insatisfação e
desconfiança a interferência política — além da
eclesiástica — do Papa em seus territórios. Eles
também passaram a criticar o montante de dinheiro enviado à Igreja Romana e a
isenção de impostos concedida ao Clero.
Muito rapidamente, começaram a surgir reivindicações de uma
igreja que não estivesse vinculada ao sistema papal, mas sim ao governante
local.
Nas
pregações de Lutero, o tema "uma Igreja alemã para o povo alemão" era
recorrente. Esse refrão emblemático conquistou o coração de príncipes
importantes, que se aliaram à causa de Lutero. Tais
príncipes possibilitaram não só que Lutero não morresse, mas que recebesse
também apoio político para o despertar da sua pregação.
4.2. Mudanças económicas
Na
Idade Média, as pessoas plantavam e colhiam apenas para o consumo pessoal ou
familiar. Na virada do milénio, entretanto, elas começaram a produzir
excedentes, o que lhes permitia o intercâmbio comercial. Com isso, surgiu uma
classe de pessoas que não mais estava ligada à produção de alimentos, a saber:
os comerciantes — estes se espalharam por todo Continente Europeu.
Por conta disso, foram construídas estradas e cidades; foram
criados os sistemas bancário e comercial e abriram-se novos mercados, locais e
regionais.
Os pontos de compra e venda (e de troca) de produtos foram
chamados de burgos. Iniciou-se, então, uma era pautada pelo comércio, não
apenas pela agricultura.
A moeda começou a circular, substituindo a economia baseada no
escambo.
A
nova classe que surgiu nesses burgos passou a ser chamada de burguesia, que
ascendeu economicamente, adquirindo, por conta disso, grande poder político.
A busca pelo lucro passou a dominar as pretensões humanas, e a
classe burguesa seguia no topo desse processo histórico.
4.2.1. A perseguição romana
à burguesia
Essa
nova classe começou a sofrer perseguições do Papa e do Clero, sob a alegação de
que o enriquecimento e a obtenção de lucros — mesmo lícitos — eram sinónimos de
maldição e pecado. Assim, qualquer pessoa que enriquecesse à custa do comércio
era perseguida e ameaçada de excomunhão. Além
disso, o Papa instituiu pesados impostos sobre os comerciantes, diminuindo suas
possibilidades de lucro.
4.2.2. A migração da
burguesia
A
nova classe burguesa, então, procurou o apoio religioso de quem pudesse
permitir o livre funcionamento dos seus negócios. Como os reformadores não viam
as riquezas advindas do trabalho como algo pecaminoso ou mau, os comerciantes
começaram a migrar, em grande número, para as regiões protestantes, que
franqueavam o exercício da profissão e do trabalho.
Essas nações enriqueceram e se desenvolveram, ajudando na
propagação da Reforma. Até hoje, as nações protestantes são as mais ricas e
desenvolvidas da Europa e do mundo.
4.3. Mudanças intelectuais
O
interesse pelas artes e pelo estudo das ciências humanas cresceu imensamente no
fim da Idade Média. Deste modo, os
cristãos
passaram a dedicar-se à aquisição de conhecimentos gerais, como forma de
aprimorar sua interpretação das Escrituras — fato que acentuou, naquela época,
sua capacidade de reflexão e pensamento.
Os reformadores eram dotados de desmesurada sabedoria e de grande
capacidade crítica. Esse fato levou-os a adotar uma firme posição diante do
quadro deplorável no qual viviam.
4.4. O desenvolvimento
tecnológico
A
evolução tecnológica também contribuiu de maneira significativa para o
desenvolvimento e a consolidação da Reforma.
Dentre
as principais invenções daquele período, destacamos as seguintes:
• o relógio
mecânico — o trabalho passou a ser contabilizado
com maior precisão; assim, estabeleceu-se a relação entre tempo e produção;
• os óculos — o
aperfeiçoamento desse artefato permitiu um maior acesso à leitura (da Bíblia e
das obras dos reformadores, inclusive);
• o papel vegetal —
até a Reforma, o pergaminho era o material mais comumente utilizado na escrita;
isso tornava a Bíblia um livro caro e pouco acessível. Com a tecnologia do
papel, as dificuldades foram minimizadas, e o preço, consideravelmente reduzido;
• a imprensa —
com o advento da imprensa, o acesso à Bíblia e às obras dos reformadores ficou
infinitamente mais fácil, pois as literaturas
podiam ser produzidas em larga escala, com economia de tempo e dinheiro.
CONCLUSÃO
Desde
a Reforma Protestante, a voz dos reformadores ecoa nos corações daqueles que
anelam pela presença de Deus e pela habitação sobrenatural do Espírito Santo.
Que o
Divino intérprete das Escrituras nos ajude a compreender a importância da
Reforma e de seus ensinos, cujas premissas nos farão sábios para herdarmos a
vida eterna.
ATIVIDADE PARA
FIXAÇÃO
1.
De acordo com o que foi exposto nesta lição, responda: quais fatores motivaram
a Reforma Protestante?
R.:A Reforma Protestante foi motivada, basicamente, por duas
tristes realidades: (1) a incapacidade de a instituição religiosa chamada
igreja responder aos mais sinceros anseios do povo; e (2) os desvios
doutrinários (e de conduta) do Clero.