No capítulo IX, da
declaração de fé das Assembleias de Deus, fala sobre o pecado e suas
consequências.
CREMOS, professamos e ensinamos que o pecado é a
transgressão da Lei de Deus: “porque
o pecado é a transgressão da lei” (1 Jo 3.4 – ARA), ou seja, a quebra do
relacionamento do ser humano com Deus. Há diversos conceitos bíblicos tanto
para designar o pecado, tais como rebelião e desobediência, como suas
consequências, quais sejam: incapacidade espiritual, falta de conformidade com
a vontade de Deus em estado, disposição ou conduta e corrupção inata dos seres
humanos: “não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque” (Ec
7.20); “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
Atanásio, um dos pais da Igreja, dizia que o pecado é a introdução dentro da
criação de um elemento desintegrador que conduz à destruição e que somente pode
ser expelido por meio de uma nova criação. Daí, a necessidade do novo
nascimento. A universalidade do pecado é confirmada em toda a Bíblia e
comprovada pela própria experiência humana.
I – A
DOUTRINA DO PECADO
A doutrina do pecado,
chamada de Hamartiologia, se ocupa do estudo da origem, natureza e
universalidade do pecado, conforme as Escrituras.
O termo procede de
duas palavras gregas: hamartia,
traduzida por “pecado”, em At 3.19 e 1 Co 15.17, e logia, que significa em At 7.38 e Rm 3.2, “palavra”, “oráculo” ou
“declaração”. Em sua origem, o pecado manifestou-se na criatura moral celeste,
conforme Ez 28.1-19; Is 14.12-15; Jo 8.44; 1 Jo 3.8,12. Mais tarde, Adão, como
representante da raça humana, também sucumbiu diante do pecado, sujeitando
todos os seus descendentes aos aguilhões do mal moral; tornando-o, portanto,
universal a todas as criaturas racionais, e afetando até mesmo a criação (Gn 3;
Sl 14; Rm 1. 18-32; 3.23; 5.12-21; Rm 8.20-23).
“A Doutrina do pecado é sumamente importante e
deve merecer atenção especial de cada sincero estudante da Bíblia Sagrada. Se
por quaisquer razões a negligenciar as verdades bíblicas concernentes ao
pecado, deixarmos de possuir a verdadeira noção da Obra Redentora de Cristo”.
“O pecado é uma das
mais cruéis realidades do mundo que nos rodeia e é em impossível ignorá-lo. Por
causa do pecado, os homens padecem dores, enfermidades, angustias, condenação e
morte. O pecado, afirmou um célebre pregador, “é a maior mancha do mundo” (Antônio
Gilberto).
II –
DEFINIÇÕES PARA A PALAVRA “PECADO”
A natureza do pecado
é descrita mediante diversos vocábulos hebraicos e gregos designados pelas
Escrituras: hattā’â — pecado; errar o alvo (Gn 4.7); pesha‘ — revolta contra o padrão; transgredir (Gn 50.17); anomia — pecado; sem lei (Rm 6.19); asebeia — impiedade; falta de
reverência (Rm 1.18). Na teologia cristã, a doutrina do pecado ocupa grande
espaço porque o cristianismo é a religião da redenção da raça humana.
O Novo Testamento
emprega várias palavras em grego para descrever o pecado nos seus vários
aspectos. As mais importantes são:
1. Hamartia, que significa "transgredir",
"praticar o mal", "pecar contra Deus" (Jo 9.41).
2. Adikia, que significa "iniquidade",
"maldade" ou "injustiça" (Rm 1.18; 1 Jo 5.17). O termo pode
ser descrito como falta de amor, porque todos os delitos surgem por falta de
amor a Deus e ao próximo (Mt 22.37-40; Lc 10.27-37). Adikia é, também, o pecado
como poder, agindo na pessoa, para escravizar e enganar (5.12; Hb 3.13).
3. Anomia, que denota a
"ilegalidade", a "iniquidade" e a "rebeldia contra a
Lei de Deus" (Rm 6.19; 1 Jo 3.4).
4. Apistia, que indica "incredulidade" ou
"infidelidade" (Rm 3.3; Hb 3.12).
Destas definições
podemos tirar a conclusão de que a essência do pecado jaz no egoísmo, isto é,
apegamento do ser humano às coisas ou aos prazeres, para si mesmo, sem fazer
caso do bem-estar dos outros e dos mandamentos de Deus. Isso leva à crueldade
aos outros e à rebelião contra Deus e sua Lei. Em última análise, o pecado é a
recusa da sujeição a Deus e à sua Palavra (Rm 1.18-25; 8.7). É inimizade contra
Deus (Rm 5.10; 8.7; Cl 1.21), e desobediência (Rm 11.32; Gl 3.22; Ef 2.2; 5.6).
O pecado é, por outro
lado, um poder que escraviza e corrompe, à medida que nos entregamos a ele (Rm
3.9; 6.12; 7.14; Gl 3.22). O pecado está arraigado nos desejos humanos (Tg
1.14; 4.1,2; ver 1 Pe 2.11).
O pecado foi
introduzido por Adão na raça humana e afeta a todos (5.12), resulta em
julgamento divino (Rm 1.18), leva à morte física e espiritual (Gn 2.17; Rm
6.23), e o seu poder somente pode ser dominado pela fé em Cristo e por sua obra
redentora pela humanidade (Rm 5.8-11; Gl 3.13; Ef 4.20-24; 1 Jo 1.9; Ap 1.5 –
Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD).
III –
CLASSES DE PECADO
Diante do perdão de
Deus, não podemos dizer que os pecados estão divididos em classes. No entanto,
para nossa própria compreensão deles, podemos admitir que, assim como todos os
edifícios e casas não são do mesmo tamanho, assim também os nossos pecados são
de diferentes tipos. As Escrituras descrevem muitas categorias de pecados.
Podem ser cometidos por incrédulos ou por crentes, sendo que estes dois grupos
são lesados pelos pecados e precisam da graça. Os pecados podem ser cometidos
contra Deus, contra o próximo, contra o próprio eu ou contra alguma combinação
destes.
Em última análise,
porém, todo o pecado é contra Deus (SI 51.4; Lc 15.18,21). O pecado pode ser
confessado e perdoado. Não sendo perdoado, continuará exercendo o seu domínio
sobre a pessoa.
1. Pecados de
debilidade e de presunção.
Pecados
de debilidade são aqueles que têm a atenuante de serem produtos da precipitação
no juízo, ou de pouca energia na vontade, apesar de revelarem corrupção e desordem.
Os de presunção são os que resultam da premeditação e de uma vontade a serviço
da injustiça (Sl 19.12,13; Is 5.18; Ml 7.2,3; Gl 3.1; Ef 4.14).
2. Pecados de
comissão e de omissão.
É
comum a pessoa se preocupar mais em não fazer o mal do que em fazer o bem. No
entanto, para Deus os dois pecados têm a mesma implicação. Observemos, no
entanto, que, enquanto no Decálogo a maior parte das proibições começa com um
não, no Novo Testamento a ênfase é a de fazer o bem: Jo 13.34,35; 15.17. Em
Mateus 25.41-46, no grande julgamento, são mencionados cinco pecados de
omissão.
3. Pecados sociais.
O
pecado é a infidelidade no cumprimento de nossas responsabilidades diante de
Deus, e uma das que as Escrituras apresentam é a que se refere à prática da
justiça e retidão entre os homens: Gn 39.9; Dt 24.15; 2 Rs 18.14; Êx 23.7.
Também os profetas denunciavam a falta de justiça e a opressão que havia entre
o povo, que significavam rebelião contra Deus.
4. Pecados contra o Espírito Santo
Em Mateus 12.32 e
Lucas 12.10, temos referências ao pecado contra o Espírito Santo. É imperdoável
porque não significa apenas falar contra o Espírito Santo (Hb 6.4-6; 10.26-29),
mas também atribuir maliciosamente a poderes malignos o que é realizado pelo
poder do Espírito Santo. É uma obstinada resistência à clara manifestação do
Espírito da graça”.
IV - O
COMEÇO DO PECADO
A Bíblia refere-se a
um evento nos recônditos mais distantes do tempo, além da experiência humana,
quando o pecado se tornou uma realidade.
Uma criatura
extraordinária, a serpente, já estava confirmada na iniquidade antes de "o
pecado entrar no mundo" através de Adão (Rm 5.12; ver Gn 3). 14 Essa
antiga serpente aparece em outros lugares como o grande dragão, Satanás e o
diabo (Ap 12.9; 20.2). O diabo tem andado pecando e assassinando desde o
princípio (Jo 8.44; 1 Jo 3.8). O orgulho (1 Tm 3.6) e uma queda de anjos (Jd 6;
Ap 12.7-9) também se associam a essa catástrofe cósmica.
As Escrituras também
nos ensinam a respeito de outra queda: Adão e Eva foram criados
"bons" e colocados num jardim idílico, no Eden, desfrutando de
estreita comunhão com Deus (Gn 1.26 - 2.25). Por não serem divinos e porque
eram capazes de pecar, era necessária uma contínua dependência de Deus.
Semelhantemente,
precisavam comer regularmente da árvore da vida. 16 Isto nos é sugerido pelo
convite a comer de todas as árvores, inclusive da árvore da vida, antes da
Queda (2.16), e pela rigorosa proibição depois desta (3.22,23).
Houvessem obedecido,
teriam sido frutíferos e alegres para sempre (1.28-30). Alternativamente, após
um período de prova, poderiam conseguir um estado mais permanente de
imortalidade, mediante a trasladação para o Céu (Gn 5.21-24; 2 Rs 2.1-12) ou
pela ressurreição do corpo sepultado na terra (os crentes, 1 Co 15.35-54).
Deus permitiu que o
Éden fosse invadido por Satanás, o qual tentou Eva com astúcia (Gn 3.1-5).
Desconsiderando a Palavra de Deus, Eva entregou-se ao desejo por beleza e
sabedoria. Tomou do fruto proibido, ofereceu-o ao seu marido e juntos
comeram-no (Gn 3.6). Eva fora enganada pela serpente, mas Adão parece ter
pecado em plena consciência (2 Co 11.3; 1 Tm 2.14; Deus concorda tacitamente
com esse fato em Gn 3.13-19). É possível que Adão tenha recebido do próprio
Deus a proibição de comer da árvore e que Eva a tenha ouvido somente através do
marido (Gn 2.17; 2.22). Adão, portanto, tinha mais responsabilidade diante de
Deus, e Eva era mais suscetível diante de Satanás (Jo 20.29). Talvez seja esta
a explicação da ênfase que a Bíblia atribui ao pecado de Adão (Rm 5.12-21; 1Co
15.21,22), embora, na realidade, Eva tenha pecado primeiro. Finalmente, é
crucial observar que o pecado deles começou na sua livre escolha moral, e não
na tentação (a que poderiam ter resistido: 1 Co 10.13; Tg 4.7). Isto é, embora
a tentação os incentivasse a pecar, a serpente não colheu o fruto tampouco os
forçou a comê-lo. O casal optou por assim fazer.
O primeiro pecado da
humanidade abrangeu todos os demais pecados: a afronta e desobediência a Deus,
o orgulho, a incredulidade, desejos errados, o desviar outras pessoas,
assassinato em massa da posteridade e a submissão voluntária ao diabo. As
consequências imediatas foram numerosas, extensivas e irônicas (observe
cuidadosamente Gn 1.26 - 3.24). O relacionamento entre Deus e os homens, de
franca comunhão, amor, confiança e segurança, foi trocado por isolamento,
autodefesa, culpa e banimento. Adão e Eva, bem como o relacionamento entre
eles, entraram em degeneração.
A intimidade e a
inocência cederam lugar à acusação (jogavam a culpa um sobre o outro). Seu
desejo rebelde pela independência resultou em dores de parto, labuta e morte.
Seus olhos realmente foram abertos, e eles conheceram o bem e o mal (mediante
um atalho), mas era pesado esse conhecimento sem o equilíbrio de outros
atributos divinos, como o amor, a sabedoria e o conhecimento.
A criação, confiada
aos cuidados de Adão, foi amaldiçoada, gemendo pela libertação dos resultados
da infidelidade dele (Rm 8.20,22). Satanás, que oferecera a Eva às alturas da
divindade e prometera ao homem e à mulher que estes não morreriam, foi mais
amaldiçoado que todas as criaturas e condenado à destruição eterna pela
descendência de Eva (ver Mt 25.41). Finalmente, o primeiro casal humano trouxe
a morte a todos os seus filhos (Rm 5.12-21; 1 Co 15.20-28).
O Midrash judaico
entende a advertência divina de que a morte viria quando (literalmente "no
dia em que") comessem da árvore (Gn 2.17) como uma referência à morte
física de Adão (Gn 3.19; 5.5), pois um dia, aos olhos de Deus, é como mil anos
(SI 90.4) - e Adão viveu apenas 930 anos (Gn 5.5). Outros a entendem como uma
consequência natural do afastamento da árvore da vida. Muitos rabinos judaicos
defendiam a ideia de que Adão nunca foi imortal e que sua morte teria chegado
imediatamente se Deus, em sua misericórdia, não a tivesse adiado. A maioria
sustenta que a morte espiritual - ou a separação de Deus - ocorreu naquele
mesmo dia.
Não obstante a
condenação, Deus graciosamente confeccionou túnicas de peles para Adão e Eva, a
fim de substituir os aventais de folhas que eles haviam providenciado por sua
própria iniciativa (Gn 3.7,21).
Conclusão
“A iniquidade de
Adão, a qual nós chamamos de pecado original, contaminou toda a raça
humana; em consequência disso, a humanidade tornou-se universal e totalmente
degenerada, pois todos os seus descendentes nascem em pecado; todos
nascemos em transgressão. Deus, entretanto, prometeu o Redentor ainda no jardim
do Éden, quando anunciou a vinda da “semente da mulher” para esmagar a cabeça
da serpente. Apesar de corrompida pelo pecado, a natureza humana pode ser eficazmente
regenerada por Cristo: “se alguém está em
Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”
(2 Co 5.17); “Porque somos feitura sua,
criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas” (Ef 2.10); o nosso corpo pode ser o templo do Espírito
Santo (Declaração de Fé das Assembleias de Deus)”.