O tema espiritualidade
encontra-se em moda. Fala-se sobre ela nas empresas, nas escolas, na família,
entre as religiões e nas conversas informais. Já a intelectualidade, ainda hoje, parece ser alguma coisa restrita
a um pequeno grupo de pessoas que não faz outra coisa senão ler, escrever e
estudar (filósofos, teólogos, pedagogos etc). Dentro da própria cristandade,
muitos são aqueles que preferem tratá-las separadamente. Entretanto, tentaremos
diminuir a distância entre tais palavras, descrevendo a interdependência
existente entre elas, sobretudo ao professor da Escola Dominical no exercício
pleno de sua vocação.
Mas para isso, é preciso
resgatar a dimensão integral da vida onde intelecto e emoção, fé e razão,
conhecimento e amor, teologia e espiritualidade sejam aspectos complementares
de uma mesma coisa, a saber, a própria experiência com Deus.
Dito isto, compartilharemos neste texto
três cuidados a serem observados, pelo professor da Escola Bíblica,
relacionados a espiritualidade e a intelectualidade, no
momento de preparo e ministração de sua aula dominical, a fim de que seu ensino
seja relevante, inspirador e transformador. São eles:
1. Cuidado com a Polarização: A polarização nos conduz ao
reducionismo e ao desequilíbrio.
Inadvertidamente, muitos
cristãos, e porque não dizer, professores da ED são atraídos e, até, seduzidos
ao que o pastor John Stott chamou de a "grande tragédia da cristandade
contemporânea", a saber: "a polarização".
Entendida como "uma
tendência para o extremismo ou desequilíbrio ", a polarização é algo que
deve ser evitada pelo professor da Escola Dominical, pois ao invés de fazê-lo
enxergar a realidade como um todo tornando seu ensino biblicamente
contextualizado, intelectualmente relevante e espiritualmente saudável, ela o
conduzirá a um reducionismo intelectual e experiencial.
a. Zelo sem entendimento e/ou
entendimento sem zelo: Nenhum
dos dois é o ideal para o professor da ED. O primeiro pode nos conduzir ao
fanatismo e o segundo a apatia e a inércia. Como bem destacou o John Stott,
"inflamado pelo zelo ". Complementando com as palavras de John o
propósito de Deus inclui os dois: o zelo dirigido pelo conhecimento, e o
conhecimento Machay "a entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a
reflexão sem entrega é a paralisia de toda ação". Que o êxtase sem
entendimento e a discussão sem poder, sejam evitados por nós. Que a verdade
inflame nossos corações!
b. "O que Deus uniu não separe o
homem": O
ser humano é um ser integral. Temos elementos materiais e imateriais que
compõem a totalidade de nosso ser. Nossa personalidade é constituída de
intelecto, sentimento e vontade. Desfrutamos de capacitada de pensar e sentir.
A verdade é percebida tanto pela experiência quanto pela racionalidade. Nas
palavras de John Stott, o ser humano, é alguém criado por Deus não "como
uma alma sem corpo (para que pudéssemos amar somente sua alma), nem como um corpo
sem alma (para que pudéssemos preocupar-nos exclusivamente com seu bem-estar
físico), nem tampouco um corpo-alma em isolamento (para que pudéssemos
preocupar-nos com ele somente como um indivíduo, sem nos preocupar com a
sociedade em que ele vive). Não! Deus fez o homem um ser espiritual, físico e
social. Como ser humano, o nosso próximo pode ser definido como "um
corpo-alma em sociedade"" . Logo, nossa tarefa enquanto educadores
não deve ser reduzida a uma parte dele.
c. Duas faces de uma mesma moeda: Espiritualidade e intelectualidade são
realidades que nasceram para viverem juntas. A espiritualidade para ser
fervorosa não precisa se divorciar da intelectualidade. A fé não precisa ser
burra. Há tempo e espaço para a conciliação. Como bem afirmou McGrath "a
espiritualidade não é algo deduzido totalmente de pressuposições teológicas,
nem algo inferido completamente da experiência. Ela surge de uma síntese
dinâmica e criativa de fé e vida, forjada no molde do desejo de viver a fé
cristã autêntica, responsável, efetiva e plenamente". Ou seja, a
intelectualidade não deve ser entendida como um obstáculo à espiritualidade
cristã.
2. Cuidado com a
Superficialidade: A
superficialidade nos conduz a mediocridade.
A superficialidade nada mais
é do que a falta de profundidade. Um professor superficial é alguém que podendo ser profundo, escolhe
ser raso; podendo ir além, prefere ficar aquém; tendo capacidade de superação,
decide regredir ou estacionar.
Entretanto, a vida cristã é
um chamado ao crescimento, à mudança, à transformação e por isso não devemos
nos contentar com a superficialidade. Afinal de contas, a verdadeira
espiritualidade nasce com a experiência do novo nascimento e não se encerra nela.
Antes, tem nela o ponto de partida necessário para o
crescimento/desenvolvimento da vida diária em direção a maturidade cristã.
Ninguém que nasce de/para
Deus deve se contentar em ser uma eterna criança, cujo único alimento é o leite
materno; antes, deve buscar o amadurecimento, a experiência de andar com Deus
no caminho. É preciso crescer; se desenvolver; aprender; se aprofundar no
conhecimento de Deus e não apenas sobre Deus. E para isso, nos valeremos tanto
da espiritualidade como da intelectualidade, pois ambas são realidades que
compõe o homem integral.
3. Cuidado com a Hipocrisia: A hipocrisia nos conduz a
falsidade.
Oriunda da dramaturgia grega
a palavra hipocrisia era aplicada ao ator em sua atuação no palco teatral.
Segundo o dicionário bíblico Wycliffe "visto que um ator finge ser alguém
que não ele mesmo, hypokrites era aplicado metaforicamente a uma pessoa que
'atua em um papel' na vida real, fingindo ser melhor do que realmente é, alguém
que simula a bondade". É daí que o termo hipócrita designa alguém que
oculta a realidade atrás de uma máscara de aparência.
Em inúmeras ocasiões Jesus
advertiu os religiosos do seu tempo alegando que eles eram hipócritas e
sepulcros caiados (Mt 23.13,15 e 27). Eles tocavam trombeta acerca de sua
espiritualidade. Propagandeavam sua piedade. Diziam-se melhores do que os
outros. Eram peritos em enxergar ciscos nos olhos dos outros, embora não
conseguiam ver a trave que estava em seus próprios olhos. Tinham aparência, mas
não essência. Eram bonitos por fora mais horrorosos por dentro. Em algumas
ocasiões tinham atitudes correias, mas motivações erradas.
O professor que se vale de
uma vida superficial intelectual e espiritualmente falando está fadado a gerar
alunos superficiais.
Que nossa espiritualidade e
intelectualidade sejam construídas com os joelhos no chão, com o pensamento
cativo a Cristo e no poder e força do Espírito Santo.
Fonte: Ensinador Cristão – n° 72 – CPAD
Artigo: PR. Rafael Rodrigues F. Luiz.
Reverberação: Subsídios EBD