Não há nenhum texto bíblico que diga que os dons espirituais não são
mais para os nossos dias.
E a questão ficou clara também para Pais da Igreja e grandes nomes da Igreja
dos primeiros séculos como Justino Mártir (100-165), Irineu (115-202), Teófilo
de Antioquia (120-186), Tertuliano (160-220), Novaciano (200-258), Gregório
Taumaturgo (213-270) e Hilário de Poitiers (300-368), mas, infelizmente, foi
renegada pela maioria dos Pais da Igreja do terceiro século em diante como
reação aos desvios Montanistas.
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A contemporaneidade de todos os dons espirituais, inclusive a glossolalia, foi clara para John Wesley (1703-1791), que a defendeu em carta ao pastor Conyers Middleton (The Works of John Wesley, A Letter to the Rev. Dr. Conyers Middleton, volume 10, pp. 54 a 56).
A contemporaneidade dos dons espirituais foi clara para o célebre batista inglês F. B. Meyer (1847-1929), sobre o qual o cessacionista Spurgeon disse certa vez: “Ele prega como um homem que viu Deus face a face”.
Ela foi clara para o reverendo R. B. Swan, sua esposa e alguns membros de sua igreja em Providence, Rhode Island, EUA, em 1875, que receberam todos, segundo depoimento do próprio Rev. Swan, a glossolalia. E o que dizer dos relatos e/ou experiências próprias de glossolalia registrados nos séculos 18 e 19 por Thomas Walsh, William Doughty, William Arthur, Horace Bushnell, V. P. Simmons, J. C. Aroolappen e tantos outros?
Em 1801, há 212 anos, nos Estados Unidos, na localidade de Cane Ridge, Kentucky, cerca de 3 mil pessoas, em um acampamento da Igreja Presbiteriana, entraram no que descreveram como “estado de júbilo”, com “centenas” delas “falando em línguas sobrenaturalmente” (Dicionário do Movimento Pentecostal, CPAD, 2007, p. 235).
A contemporaneidade dos dons espirituais foi clara para o célebre evangelista congregacional Dwight Lyman Moody (1837-1899), contemporâneo de Spurgeon e que foi, segundo historiadores, o homem que mais ganhou vidas para Jesus no século 19.
Ela foi clara também para o célebre pregador calvinista congregacional David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981). E nos dias de hoje, a contemporaneidade dos dons espirituais é aceita por calvinistas como Wayne Grudem, J. I. Packer, John Piper, Craig Keener, D. A. Carson, Mark Driscoll, C. J. Mahaney, Tim Keller, Sam Storms, Matt Chandler, Vincent Cheung, James MacDonald, Matt Slick, James K. A. Smith, Johanes Lilik Susanto e Paul Walsher, só para citar os conhecidos. Porém, MacArthur ignora essa gente toda e cita ele e R. C. Sproul como referência sobre o assunto, como que querendo dizer que a teologia dele e de Sproul está acima da de todos estes outros colegas calvinistas. Com todo respeito que possamos ter por MacArthur e Sproul como ensinadores (eu mesmo gosto de muitos textos de Sproul), eles não são melhores teólogos do que muitos daqueles que acabei de mencionar.
Quanto às declarações de que a contemporaneidade dos dons espirituais
“desonra o Espírito Santo” e “faz as pessoas pensarem que elas não têm o que
precisam, e que há algo lá fora que precisam perseguir”, trata-se de uma tremenda
distorção das coisas:
1) Quem aceitou Jesus como Senhor e Salvador tem tudo o que precisa em
termos de Salvação, mas isso não significa que os dons espirituais, que
acompanham a Salvação, que são acessórios dela, não são importantes. Os dons
(inclusive os espirituais) não são essenciais para a salvação, mas eles são
importantes, porque foram dados à Igreja para a sua edificação, para o
enriquecimento da vida cristã.
2) Desprezar os dons espirituais é que é negativo, pois é apagar uma
ação específica do Espírito Santo em nossas vidas a qual tem por objetivo
enriquecer ainda mais o nosso serviço a Deus e à Sua Igreja (1Ts 5.19-21).
3) A Bíblia nos orienta a buscarmos, a perseguirmos, “os melhores dons”,
e inclusive menciona o de profecia como um destes melhores (1Co 14.1).
Conclusão
[...] O que devemos fazer não é negar os dons porque há gente que os
perverte, mas orientar em favor das manifestações sadias. Como diz um velho e
sábio provérbio latino, Abusus non tollit usum – “O abuso não tolhe o uso”.
Não se joga o bebê fora junto com a água suja da bacia. Não se toma a
maioria pela minoria. Não se deve transformar exceção em regra e regra em
exceção. Regra é regra, exceção é exceção.
Texto: Pr. Silas Daniel
Publicado originalmente em: www.cpadnews.com.br