Romanos
2.14, 15 aplica esse princípio aos gentios em contradição aos judeus:
"De fato, quando os gentios, não têm a Lei, praticam naturalmente o que
ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam Lei; pois mostram
que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração.
Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os." Devemos comparar Romanos 3.19 com essa passagem: "Sabemos que tudo o que a Lei diz, o diz àqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob Deus."
Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os." Devemos comparar Romanos 3.19 com essa passagem: "Sabemos que tudo o que a Lei diz, o diz àqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob Deus."
A partir desses
versículos deduzimos, primeiramente, que os gentios (e é certo que Paulo inclui
os não-evangelizados nesse grupo) possuem um conhecimento da lei moral, certa
conscientização do que é certo e errado, que os torna moralmente responsáveis
diante de Deus, ainda que jamais tenham estado em contato com a Bíblia.
LEIA TAMBÉM:
LIÇÕES DE JOVENS:
LIÇÕES DE
ADULTOS:
Demonstram
ter consciência da lei moral básica pelo fato de viver de conformidade genérica
com tal lei, como se entendessem os princípios
fundamentais estabelecidos nos dez mandamentos.
Não existe nenhuma
comunidade organizada na face da Terra em que todos vivam em total
desconsideração para com os dez mandamentos que não seja considerada
transgressora da lei e inimiga da sociedade humana.
Em segundo lugar, os gentios
"tornam-se
lei para si mesmos", isto é, têm dentro de suas consciências a certeza
íntima de um padrão moral perante o qual são responsáveis, pois "os seus
pensamentos" acusam-nos ou defendem-nos (Rm 2.15).
Noutras palavras,
percebem que até pelos seus próprios padrões do certo e do errado sentem-se
culpados, porque nem sempre viveram à altura de tais conceitos.
Podem
"defender-se" das acusações de suas consciências, mas ao apelar para
a autodefesa contra a lei moral, por implicação reconhecem sua validade,
justeza e autoridade sobre si mesmos.
Ainda que não
tenham o padrão perfeito das Sagradas Escrituras e, por isso, só obscuramente
compreendam sua própria culpa, são todavia conscientes de falhas e ofensas,
pelas quais deverão prestar contas diante dos poderes celestiais, sejam quem
forem os deuses que tenham engendrado.
Romanos 3.19 resume o assunto com clareza: Esteja toda boca fechada diante de
Deus, e o mundo todo, tanto os judeus como os gentios, será responsabilizado pelos
seus pecados e culpas diante de Deus. A humanidade toda se perdeu. Todos os
homens necessitam de um Salvador. Sem que tenhamos um Redentor eficiente não
sairemos livres do tribunal de Deus (nem dos poderes dos céus). João 3.18
declara: "Quem nele [Jesus] crê não é condenado, mas quem não crê já está
condenado, por não crer nome do Filho Unigênito de Deus" (grifo do autor).
A expressão "condenado segundo a acusação" aplica-se a toda a raça humana, não
havendo a menor esperança para ser humano algum, a não ser que o Rei lhe
conceda perdão.
É
muitíssimo importante que João 3.18 esteja logo
depois de João 3.16, que fala do amor de Deus pelo mundo, e do dom de seu
Filho, cuja morte expiatória é suficiente para salvar qualquer crente, todos os
remidos, os autênticos cristãos, livrando-os da morte eterna que por si mesmos
merecem.
Esse
parágrafo de João 3 deixa bem claro que sem Cristo não
há salvação. É como o próprio Jesus disse a Tomé: "Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim" (Jo 14.6).
A
TEORIA DA SALVAÇÃO SEM TER OUVIDO O EVANGELHO
Às vezes alguém
que refugiu do conceito evangélico da condição desesperadora da humanidade
perdida, revive a esperança de que talvez haja um segundo caminho para o céu,
além de Cristo:
"Se uma
pessoa que jamais teve a oportunidade de ouvir o Evangelho viver segundo a luz
que lhe houver sido dada, e sinceramente procura a Deus, é certo então que tal
pecador não está condenado ao Inferno, por causa da ausência de uma testemunha
missionária". Diversas observações precisam ser feitas a respeito dessa
teoria, mostrando que ela não se sustenta à luz das Escrituras.
1. Existe uma implicação na declaração de que se o evangelho for
apresentado a um grupo de pessoas, Deus se torna obrigado a apresentá-lo
imediatamente ao resto da humanidade, sem o concurso da agência humana.
Se a mensagem veio
aos discípulos de Cristo, ou aos judeus da Palestina, no Pentecostes, então
Deus tem uma dívida para com o resto do mundo.
A não ser que
todas as nações em todas as partes da terra tenham igual acesso, e ao mesmo
tempo, às boas-novas da morte expiadora de Cristo, Deus deve ser condenado como
injusto.
Esta é a
implicação necessária da cláusula atenuante "aqueles que jamais tiveram a
oportunidade de ouvir o evangelho", com suas insinuações de tons
acusadores. Todavia, esse conceito deve ser analisado com máximo cuidado.
É
o Evangelho uma questão da graça ou da obrigação, da parte de Deus?
A Bíblia ensina
com clareza que as boas-novas são uma dádiva divina: "Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor
quando ainda éramos pecadores". (Rm 5.8). "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé [...]" (Ef
2.8). Se, pois, o Evangelho é grátis e Deus não deve nada a ninguém (pois graça
que é devida deixa de ser graça), como podemos, então, afirmar que Deus está
proibido de levar as boas-novas de seu amor redentor a determinadas pessoas, a
menos que todas elas, em todas as partes do mundo, ouçam a mesma mensagem, no
mesmo momento, nas mesmas circunstâncias?
Não diz o Novo Testamento
claramente que "Porque todo aquele
que invocar o nome do Senhor, será salvo" (Rm 10.13)?
A lógica
inescapável em que se baseia o imperativo missionário contido na Grande
Comissão prossegue: "Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E
como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver
quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?" (Rm 10.14, 15).
Se os ímpios
pudessem na verdade viver à altura das luzes que lhes foram dadas — isto é, as
luzes da revelação natural — toda essa lógica entraria em colapso, e Romanos 10
deveria ser rejeitado como ensino falso, destituído de autoridade.
2. Se os incrédulos pudessem salvar-se mediante as luzes que
receberam, a dedução lógica, necessária, significaria que as pessoas podem
salvar-se pelas suas boas obras.
Se isso fosse
verdade, Cristo teria morrido em vão e estaria errado ao afirmar: "...
ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6).
3. Se os ímpios podem salvar-se mediante a busca sincera de Deus
da melhor maneira que souberem e puderem, temos aqui outra forma especial de
boas obras; a graça se torna desnecessária.
Porém, a menos que
a Bíblia esteja errada, ninguém na face da Terra se salva desse modo; não
existem ímpios salvos pela sinceridade de seus corações ignorantes. Romanos
3.10-12 (citando Salmo 14.1-3 e Eclesiastes 7.20), diz o seguinte:
"...como está escrito: Não há nenhum justo sequer não há ninguém que
entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente
inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer". Muito bem,
se não há uma única pessoa que busque a Deus sinceramente, não precisamos
preocupar-nos com a injustiça de o céu estar fechado para os ímpios que
sinceramente buscam a Deus. O próprio Deus está afirmando que tais pessoas
simplesmente não existem e nunca existiram. E
ainda que existissem, a boa obra de buscar a Deus de nada lhes adiantaria no
que concerne à salvação. Só Jesus pode salvá-los.
4. Ninguém é condenado ao Inferno pela falta de testemunhas
missionárias.
A pessoa é
conduzida à condenação pelos seus pecados. Ela é culpada de colocar-se a si
mesma acima de Deus, pois esse é o principal interesse de seu coração e, nesse
sentido, repete a escolha de Eva. Ela decidiu fazer o que mais lhe agradava, o
que lhe era mais vantajoso, a ela e a seu marido, em vez de decidir fazer a
vontade de Deus, o que o Senhor lhe havia ordenado. Ela deveria ter colocado o
desejo de Deus em primeiro lugar em sua vida. Todos os seus descendentes que
viveram até a idade de tomar decisões morais seguiram-na e fizeram a mesma
escolha — todos, menos Jesus!
A condenação
sobrevém não da falha em não se ouvir o evangelho, mas da total transgressão de
não se guardar o primeiro mandamento, o maior de todos: "Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força" (Dt 6.5; Mt
22.37).
Conclusão
À luz das quatro
objeções que acabamos de apresentar, devemos concluir que ou os ímpios estão
perdidos, e sem esperança, ou a Bíblia está completamente errada, precisando
ser corrigida pelos teólogos que disponham de melhor visão do que a Palavra de
Deus apresenta.
Diversas passagens
têm sido erroneamente interpretadas de modo que passem a afirmar que há
esperança para os bons que ainda não ouviram a mensagem do evangelho — a
despeito do que parecem ensinar passagens como João 3.18; 8.24; 14.6; e Romanos
2, 3 e 10.
Uma dessas
passagens é Miquéias 6.8: "Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o
que o SENHOR exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente
com o seu Deus." Mas, no contexto, essas palavras foram dirigidas a
crentes professos que mantêm o relacionamento da aliança com Iavé (o Senhor), o
Deus da Bíblia; e servem para advertir esses que uma profissão de fé aceitável
deve ser demonstrada por uma vida piedosa. Isso nenhuma influência exerce sobre
o ímpio, que nenhum conhecimento tem do Senhor e, por isso, não consegue
"andar humildemente com" Deus.
Insistimos:
Malaquias 1.11 promete-nos: "'Pois do oriente ao ocidente, grande é o meu
nome entre as nações. Em toda parte incenso é queimado e ofertas puras são
trazidas ao meu nome, porque grande é o meu nome entre as nações', diz o SENHOR
dos Exércitos". Diga-se de passagem que tão forte ênfase em conhecer e
honrar a Iavé, por seu nome, implica necessariamente ter ouvido a mensagem das
Escrituras e nela crido. Sem se ouvir e crer não é possível conhecer esse nome
grandioso e redentor.
Há
mais: considere a afirmação de Pedro na
residência de Cornélio: "...Agora percebo verdadeiramente que Deus não
trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações aceita todo aquele
que a teme e faz o que é justo" (At 10.34, 35).
Essa declaração
não deseja ensinar que existem ímpios de coração reto, que se salvam pelas suas
boas obras, ou pelo seu caráter bom. Indica apenas a conscientização desse apóstolo
de que Deus aceita os que, como os judeus, são candidatos legítimos à salvação,
ouvem o Evangelho e arrependem-se. De outra forma, Pedro poderia ter encerrado
suas observações nesse ponto, e saído dali, deixando aqueles gentios cientes de
sua nova compreensão da bênção de serem salvos. Ao contrário, Pedro prosseguiu
em sua pregação sobre Jesus de Nazaré, sua vida de amor e seu poder para
realizar milagres, sua morte expiatória e gloriosa ressurreição (v. 36-41).
Pedro
encerrou seu sermão apresentando um apelo missionário de grande urgência, a seu
auditório gentio: que
eles se arrependessem de seus pecados e colocassem toda confiança em Jesus
Cristo, como o Salvador. Vemos, pois, aqui, Pedro usando "as chaves do
Reino dos céus" (Mt 16.19) e abrindo a porta da salvação para todos
os perdidos, como já havia feito no Pentecostes, em Atos 2. E pela graça de
Deus, é isso que todos nós faremos, se sinceramente crermos no que a Bíblia
ensina com tanta clareza, que todos os seres humanos estão perdidos, sem Cristo,
e ninguém tem acesso a Cristo, exceto quando lhe ouvimos a voz e acreditamos
nele.
Enciclopédia
de Temas Bíblicos
Por:
Gleason Archer / Divulgação: sub-ebd.blogspot.com