O pastor e poeta
elisabeteano John Donne (1572-1631), a quem o escritor Philip Yancey atribuiu a
responsabilidade de ter-lhe mudado a perspectiva sobre a dor, fez doutorado em
Divindade em Cambridge e, em 1621, foi escolhido pelo rei James para dirigir a
Catedral de São Paulo.
Ele notabilizou-se
como pregador, erudito e também poeta, e escreveu aquela que é uma das mais
belas pérolas da poesia inglesa, que pode ser lida nas "Meditações
17":
• Nenhum homem é
uma ilha, isolado em si mesmo;
• Todo homem é um
pedaço do continente, uma parte da terra firme.
• Se um torrão de
terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída,
• Como se fosse um
promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio;
• A morte de
qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano,
• E por isso não
me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
Embora a última
linha dessa estrofe tenha inspirado o escritor norte-americano Ernest Hemingway
a escrever, em 1940, a obra "Por Quem os Sinos Dobram", a poesia
também é conhecida pelo refrão da primeira linha: "Nenhum homem é uma
ilha, isolado em si mesmo".
Essa magistral
poesia lembra que a humanidade é uma comunidade global, formada por pessoas de
etnias e culturas diferentes, que participam igualmente de uma solidariedade e
responsabilidades mútuas.
"Por quem os
sinos dobram" é uma referência clara ao sofrimento e à morte. Donne, no
enlace com a sepultura, ouviu em seu quarto o som do sino da igreja anunciando
um sepultamento, que a princípio julgou ser o dele. Todavia, tratava-se do
cortejo fúnebre de um vizinho acometido da mesma peste que o atormentava. Ouviu
febril a elegia, acolheu ressabiado o agouro que ecoava próximo à janela de sua
dor, e assim compôs as imortais palavras das "Meditações 17".
Embora os sinos
tivessem sido tangidos à morte de outra pessoa, eles tocavam-lhe também como
participante da mesma humanidade e natureza. Os sinos não dobravam
altissonantes pelo morto, mas como um alerta para os vivos! Se a morte de um
moribundo atinge a todos os homens, o que dizer da vida e das escolhas dos
vivos?
Todo homem traz no
íntimo de sua singularidade todo mistério e fatalidade que circunda a vida,
muito embora o mundo seja uma grande aldeia global. Diversa, mas singular. As
culturas são várias, as línguas muitas, as experiências infinitas, as raças
diversas, mas todos os homens são igualmente humanos, na mesma medida do outro.
Não há cultura superior à outra; não há dialeto inferior à "coiné"
moderna; não há etnia melhor, não há civilização abaixo da outra.
Todos são
iguais: constituídos do mesmo barro, atingidos pelo mesmo processo - nascer,
crescer e morrer. O que acontece a um, como ser humano, atinge a todos os
demais. Todos, portanto, receberam do Criador a mesmíssima vida soprada em Adão
(Gn 2.7; 5.3; At 17.25,26), "porque nele vivemos, e nos movemos, e
existimos" (At 17.28), quer cristãos, quer não. Todo homem participa da
mesmíssima vida originada do mesmíssimo Criador, e nisso somos todos uma grande
e fraterna irmandade.
Por: Esdras Costa –
Ensinador 64 - CPAD